Cap. 20

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• Azriel Pov

Eu estava saindo da Cidade Escavada quando senti dor, muita dor. Era o laço de parceria, senti o puxão. Disparei pelos céus procurando qualquer sinal dela.

Talvez eu tivesse achado, mas coisa boa não era. Em uma montanha mais distante, uma escuridão crescia, parecendo engolir a montanha. Entrei no meio das sombras sem nem pestanejar. Minhas sombras se curvaram a sombras que as rodeavam.

Um grito. Um grito tão agudo carregado de dor e sofrimento que poderia deixar qualquer um surdo, o som parecia ter vindo do próprio inferno. Algo escorreu pelo meu rosto, levei a mão ao meu ouvido e vi sangue. Merda. Coloquei as mãos nas orelhas tentando impedir que o som afundasse minha mente, mas apesar disso eu ouvia o seu grito na minha cabeça.

Ao me aproximar entrando em uma caverna de onde vinha toda aquela escuridão, lá estava ela, encolhida no chão abraçada nas suas próprias pernas. Ela estava gritando e chorando, como se estivesse vivendo um pesadelo lúcido.

Minhas sombras se curvaram a ela. Ao redor de Noor, um furacão feito de sombras e escuridão giravam sua órbita. Eu estava angustiado, ela gritava como se estivesse sendo cortada em pedaços. O vento era forte, precisei me defender com meus braços para conseguir me aproximar.

Minhas orelhas voltaram a sangrar com o grito agudo e agonizante de Noor. Aquela fêmea não era normal, tentei gritar pelo seu nome, mas foi em vão. Meu coração parecia estar se despedaçando, eu sentia sua dor. Meu corpo começou a tremer e minhas pernas perderam o equilíbrio.

Caí de joelhos a poucos metros de distância. Apesar do seu grito cortante que ecoava por todo o local e o barulho do furacão que girava em seu torno, ela de alguma forma ouviu quando meus joelhos caíram no chão. Eu sentia algo sendo perfurado minha pele, não sei o que era, mas me fez gritar.

Noor levantou a cabeça e me viu ajoelhado, com as orelhas sangrando e com a mão no meu peito, como se tentasse retirar algo de dentro dele, que me causava tanta dor. Em um piscar de olhos, ela parou de gritar e o furacão se dissipou aos poucos enquanto ela rastejava até mim.

   - AZRIEL! - ouvi ela gritar, mas não consegui responder, parecia que eu tinha desaprendido a falar.

   - AZRIEL! - gritou novamente conseguindo recuperar seus sentidos.

Eu estava prestes a cair no chão, fraco. Meus cifões brilhavam em uma luz fraca. Antes que pudesse cair, Noor me segurou e me fez deitar a cabeça em seus peitos. Ela fez carinho em meu cabelo enquanto chorava.

   - Me perdoa... me perdoa, me perdoa. - ela repetia enquanto soluçava.

Fomos envolvidos por uma onda de escuridão, mas era uma escuridão confortante, me senti a salvo, seguro. Era uma escuridão idêntica a que eu sentia quando estava preso em um calabouço, séculos atrás. As sombras se tornaram minhas amigas, não me deixando sozinho, assim como as de Noor.

Segurei em seu rosto com dificuldade e limpei suas lágrimas. Um sorriso fraco surgiu em meus lábios. Eu estava morrendo, de fato estava. Era como se Noor tivesse sugado meus poderes pelo seu furacão, até mesmo minhas sombras se curvaram diante dela, a deusa da noite, rainha das sombras.

   - Eu estou morrendo, consigo sentir meu coração parando... - falei com dificuldade, ela balançava a cabeça negando.

   - Você não vai, não vai, não vou deixar... - falou com a voz trêmula, segurei suas mãos fazendo carinho.

   - Noor, se eu morrer eu quero que saiba que... - uma onda de tosse invadiu meu corpo e sangue escorria da minha boca.

   - O que eu fiz? Isso é culpa minha, meu pai estava certo, eu sou uma aberração. - ela gritava consigo mesmo, seus olhos se tornaram vermelhos novamente.

Com Amor, Azriel Onde histórias criam vida. Descubra agora