Cap. 25

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• Noor Pov

Acordar passou a ser uma tarefa na qual eu não queria. Me levantei da cama e olhei pela janela, estava de noite, a lua brilhava no céu junto com as estrelas. Fui até o ringue de camisola e cheguei até a borda, tentando enxergar Velaris. Me lembrei que me tornara cega, mas por algum motivo eu tinha chegado até ali.

Dei um passo para frente vendo se ainda tinha chão para ser pisado. Sinto alguma coisa me empurrando e caio. O grito de desespero irrompe minha garganta, tento formar minhas asas mas elas não aparecem, não há ninguém para me salvar.

Caio no infinito, gritando e me debatendo no ar, tentando segurar em qualquer coisa. Fiquei assim por horas, até cair em algo gelado, mas macio, neve. Sinto a neve gelada derretendo na minha boca, meu corpo parece endurecer com o frio. Mas apesar do frio congelante, sinto algo derretendo minha pele, a mesma sensação que senti na montanha.

Ouço o grito agonizante de Azriel, sangue escorrendo pela sua boca e seu coração parando de bater. Tento esticar as mãos para alcança-lo, mas meu corpo inteiro derrete me impedindo de andar, apenas uma dor sem poço. Lágrimas escorrem pelos ossos do meu rosto, elas queimam. Sinto meus órgãos sendo esmagados, arranhões por todo meu corpo, meu cabelo sendo arrancado fio por fio.

   - O que deseja minha cara? - uma voz assustadura me pergunta, me fazendo estremecer, pelo menos o que restou do meu corpo.

   - Azriel, quero vê-lo, deixe o viver, me leve, por favor eu imploro, tome minha alma, deixe a dele. - minha voz não sai, é como se eu pensasse as palavras mas não conseguisse dizer, talvez porque eu já não tivesse mais uma boca.

   - E se isso custar os seus poderes? - a voz me pergunta. Lembro das noites que me sentia sozinha e as sombras me acalmavam, brincavam comigo, me deixavam viva. A sensação de pular de um precipício e voar, voar por toda a Velaris, sentir a brisa gelada no meu rosto, fazer manobras no ar com Cassian e Azriel, sentiria falta de tudo isso.

   - Que seja, eu os reenvendico, apenas o deixe viver. - digo mentalmente, já que não possuo mais uma boca.

   - Conheci sua mãe, ela nos ajudou uma vez, agora considere pago o que devíamos. - a voz responde.

Sinto meus ossos se quebrarem, um por um. Meu sangue jorrar, minhas veias sendo dilaceradas. Sou apenas uma alma presa a minha própria cegueira. Grito implorando para ver Azriel, que o deixe vivo. Nunca mais quero ver seu corpo naquele jeito, morrendo nos meus braços.

Seu sorriso aparece no que parece ser minha consciência, minha alma flutua para cima, chegando no ringue novamente. Olho ao redor, tudo está do mesmo jeito, corro até meu quarto e vejo Azriel dormindo, sereno. Suas asas envolvem uma fêmea, o ódio sobe pela minha alma.

Ao chegar mais perto, vejo uma fêmea de cabelos brancos grudada no corpo do meu parceiro, era eu. Minha alma é sugada para o corpo da fêmea de cabelos brancos e algo rasga todo o meu corpo.

• Azriel Pov

Acordei num pulo com os gritos agudos de Noor. A mesma se remexia na cama agarrando os lençóis, enquanto arqueava a costas. O desespero me toma e agarro seus ombros, tentando acorda-la. Seu grito trinca as janelas e vidros presentes no quarto. Uma luz flutua ao redor dela, enquanto lágrimas escorrem de seus olhos.

   - Noor, acorde. - minha voz sai trêmula enquanto chocalho seu corpo.

   - Eu estou aqui Noor. - digo a puxando para mais perto. Agarro seu corpo em um abraço, ela se debate contra mas a seguro com força.

   - Abra seus olhos. - ordeno e assim ela faz.

Ela suga o ar para seus pulmões e abre os olhos, seus olhos estavam brancos. A fêmea respira fundo quatro vezes até conseguir se acalmar. Seguro suas mãos e a levo em meu rosto, para saber que sou eu que estou ao seu lado.

   - Azriel? - ela pergunta num sussurro. Suspiro aliviado e balanço a cabeça em confirmação.

Ela pula em cima de mim me abraçando forte, sinto sua saudade pelo laço, apesar de ter estado com ela o tempo todo. Ela desaba chorando no meu peito. Seus braços passam por baixo dos meus, ela alcança meus ombros e finca as unhas neles me puxando para si. Sinto a dor, mas não é nada comparado com a dor que sinto pelo laço.

   - Estou aqui, meu amor. - digo beijando o topo da cabeça dela. Ela me olha nos olhos.

   - Pensei que tinha te perdido de novo... - falou num sussurro, com a voz trêmula. A puxei para mais perto.

   - Estou aqui com você, o tempo todo. Quer conversar sobre o que sonhou? - perguntei e ela engoliu seco, deslizando suas mãos para encontrar meu rosto. A senti estremecer.

   - Sonhei que estava caindo, ouvi seus gritos, seu coração parando de bater, você morrendo na minha frente, minha pele derretendo, meus ossos se quebrarem e gritar inutilmente, porque ninguém me ouvia. - conta se atrapalhando nas palavras enquanto nega com a cabeça.

   - Ouvi uma voz, ela perguntou o que eu desejava... - Noor deslizou seus dedos até encontrar meu queixo, a mesma virava o olhar para onde tocava, meu coração pesou ao saber que minha parceira não voltaria enxergar. - ...eu respondi que queria ver você, que você ficasse vivo, mesmo que eu tivesse que perder meu poderes. - completou mordendo os lábios.

Eu sabia o que significava para ela perder sua essência, seus poderes. Sua única companhia por anos. Beijei sua testa e depois levantei seu queixo, acariciando seus lábios com meu polegar, por fim a beijei.

" Eu jamais sairei do seu lado, você é minha parceira, e é meu dever proteger você. Nunca mais terá que se sacrificar por mim." - falei pelo laço enquanto meus lábios tocavam os seus.

" Eu me sacrifaria por você quantas vezes fosse preciso Azriel "

" Eu amo você, e não conseguiria lidar caso eu te perdesse "

" Estarei com você até o dia de minha morte, e até mesmo depois disso "

" Te dou minha palavra que farei de tudo para protege-la, ninguém mais tocará um dedo em você "

" Você sabe? " - perguntou receosa.

" Sei e já acabei com isso, não sinta culpada e muito menos suja "

" Eu não mereço você Az, Elain tem razão " - a abracei mais forte, quase que fundindo nossos corpos, se tornando um só.

" Eu quem não mereço você, mas enquanto me querer, farei de tudo para ser digno de você, e nem ouse pensar que Elain tem razão, ela está errada, e provaremos isso a ela. Juntos. "

"Você foi a melhor coisa que aconteceu comigo Az, ser sua parceira foi a maior bênção que o Caldeirão me proporcionou"

" Minha maior bênção foi ter te encontrado, deusa primitiva, e farei questão de nunca perde-la "

Uma melodia surgiu dos meus lábios, Noor se aninhou em meus braços e adormeceu. Sua respiração quente contra o meu peito aqueceu meu coração. Aquela fêmea seria minha ruína, e eu estava bem com isso, desde que ela ficasse bem, a salvo.

Lágrimas que jamais pensei que derramaria caíram silênciosamente pelas minhas têmporas. O medo de algo ruim acontecer a fêmea que estava nos meus braços me fez estremecer. Eu a protegeria com unhas e dentes, assim como ela se sacrificou por mim, o mesmo faria por ela.

Adormeci um tempo depois, imaginando Noor voando comigo por toda Velaris, vendo as luzes a noite, a vista favorita dela, assim como a minha.

Senti um puxão no laço, me fazendo encarar aquela fêmea, que estampava um sorriso em seus lábios enquanto dormia. Minha parceira, enviada pela mãe, fez com que eu percebesse que tudo bem estar sozinho, desde que eu estivesse sozinho com ela.


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Com Amor, Azriel Onde histórias criam vida. Descubra agora