01 AZRIEL

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O choro de uma criança ouvia-se baixo dentro de um quarto escuro, nunca tinha luz ali. Era sempre tão escuro e não havia ninguém além de suas lágrimas para lhe fazer companhia. Ele se perguntava às vezes como eram as emoções além da escuridão constante. Às vezes ele ouvia seus irmãos rindo ao longe, e tentava reproduzir o som para suas lágrimas como plateia, mas nunca parecia um som verdadeiro e ninguém nunca respondia. Sua mãe não tinha permissão para se aproximar, sua madrasta mantinha quem quer que pudesse conversar longe..

Havia vezes que seus meios-irmãos o tiravam do quarto para "brincar", mas Az nunca gostava de brincar com eles, não que tivesse brincado com outras crianças. Talvez ele fosse uma criança que não gostava de brincar. Como via sua mãe uma vez por semana, a memória de sua risada insistia em se fazer presente. E aqueles sons eram verdadeiros aos seus ouvidos. Mas por algum motivo não eram suficientes para afastar a dor. A dor da saudade dela, a dor de querer responder ao vento e não poder, não saber como. A dor de querer sair dali.

Era dia de "brincar". Azriel se recusava a sair do "quarto", hoje ele sentia mais falta da mãe do que em qualquer outro. Pelos seus cálculos, hoje ele estaria completando 8 anos.

- Oi irmãozinho – Falou Rendy.

Azriel não respondeu.

- Ele disse oi – disse Clivv- Não ouviu, bastardo? Responda a seu futuro senhor.

Clivv terminou a frase chutando os joelhos de Az o forçando a ajoelhar-se. Logo, os dois meios-irmãos de Az só o soltaram quando ele beijou a bota de Rendy. O cabelo loiro dos irmãos contrastava com o cabelo escuro de Azriel, junto da palidez consequente de ficar horas dentro da escuridão fazia Az o perfeito oposto dos dois meninos.

- Rendy – disse Clivv - eu tive uma ideia. Vamos testar uma teoria?

- Que teoria? - perguntou Rendy, com os olhos cheios de malícia – Algo que envolva o projeto de illyriano?

- Com certeza, irmão. Ouvi dizer que os illyrianos possuem um poder de cura muito forte, questão de segundos. – disse Clivv, ele sempre foi o mais perverso.

- Segura ele – respondeu Rendy, sorrindo maliciosamente, ele sempre foi o mais criativo – eu tenho o teste perfeito.

Azriel não disse nada, não adiantava pedir, implorar, gritar e estapeá-los, só acabaria recaindo sobre sua mãe, ou sobre si mesmo quando o pai ou a madrasta o encontrassem. Então, ele aprendeu que as sombras eram as únicas amigas que ele podia contar. Elas estavam sempre ali. Elas ouviam o vento com ele, e ,às vezes, ele as sentia envolvendo o em noites muito frias como se quisesse o esquentá-lo, ou depois de acordar gritando de algum pesadelo, ele sentia algo agitando-se ao seu redor, e nunca havia nada além de suas sombras.

Então, em poucos minutos, uma grande panela estava sobre o fogo borbulhando com óleo quente. Eles começaram a arrastar Az para perto dela, ele achou que fossem pegar um pouco e jogar nele – se fosse assim iria cicatrizar rápido, mas quando percebeu o que realmente iam fazer, começou a se debater, a puxar os braços, a tentar arranhá-los, mas ele era apenas um menino de oito anos que mal via o sol e os irmãos tinham treze e catorze, eram bem alimentados e tinham algum treinamento físico. Enquanto Az possuía só a escuridão do seu quarto.

Ele lutou com todas as forças que tinha, mas não foram suficientes para parar seus irmãos, ele sentia o calor do fogo. Rendy segurou o irmão menor enquanto Clivv segurava seus pulsos. A dor que atingiu Azriel foi imensa. Ele começou a gritar, ele pediu, ele implorou e tentou barganhar, mas qualquer pensamento coerente se perdia em meio àquela dor. Seu poder tentava curar a carne das suas mãos que estavam literalmente sendo fritas em óleo fervente. Seu sangue tentava curar a carne, mas essas eram novamente queimadas repetidas vezes.

CORTE DE FOGO E PESADELOS (uma fanfic de Acotar)Onde histórias criam vida. Descubra agora