14 ERYA

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Talvez manipulá-lo fosse mais fácil do que Erya imaginava. Mas ela precisava de mais informações do lado dele, do que se passava na Corte dos Sonhos, da Cidade Estrelada. Para saber como derrotar seus inimigos era necessário aprender tudo o que pudesse sobre eles.

Ela já percebera como era o seu senso de dever e proteção com o Grão-senhor e irmão. A menção à Grã-senhora e ao bebê - o futuro herdeiro ou herdeira da Corte Noturna - não passou despercebida. Mas Erya sabia que aquelas informações ainda eram poucas e muito supérfluas. Por enquanto, precisava aprender como ele agia, quais seus pontos fortes e fracos. E, então, a partir daí traçar um plano para enganá-lo e roubar a arma. Mas por ora, estavam do mesmo lado.

O controle portuário era uma contrução simples, mas resistente apesar do musgo que cobria as pedras. Era um prédio simples de um andar além do térreo, parecia ter um quital na parte de trás - talvez fosse tanto o Controle portuário quanto a casa de quem trabalhasse ali. Também possuía um caminho até a porta de madeira desgastada aberta.

Ao passar pela porta, Erya deparou-se com um cheiro de mofo, luz de velas e com uma sala grande o suficiente para conter várias estantes com pesados livros, mapas nas paredes, sem janelas. E no centro do cômodo estava um homem velho com uma careca brilhante no topo da cabeça e tufus de cabelo acinzentado ao redor. Suas vestes avermelhadas eram pesadas demais para um lugar sem janelas, ele escrevia com uma pena num livro parecido com os da estante.

"Um controle das chegas e saídas,quantidade de dias atracados, das rotas dos barcos.", Erya virou-se para o illyriano que parecia ter pensado o mesmo, com um aceno ele indicou o escrivão.

Azriel pigarreou.

-Qual o nome do seu navio e por quanto tempo pretende ficar? - perguntou o velho com uma voz anasalada sem levantar os olhos para eles.

-Na verdade, eu quero apenas quero uma informação. - Respondeu o illyriano.

-Então vá embora. Não sou garoto de recados de ninguém. - respondeu o velho sem ainda sem tirar os olhos do trabalho. - E sem um selo real não posso fazer nada por vocês.

-Nós sabemos que isso não é verdade. - disse Erya saindo da sombra de Az.

O homem nem havia percebido sua presença antes. Ela andou com a elegância felina para perto de um dos mapas presos à parede, que mostrava apenas a parte humana. Ela ficou de costas para os homens na sala. Esse ainda mostrava a muralha separando os territórios, traçou um caminho sobre ele com o dedo sobre o papel amarelado.

- Nós não queremos nada de você , apenas uma informação. –silêncio – Qual o próximo navio para o Continente?

Como recebera apenas silêncio como resposta, Erya virou e sentou-se sobre a mesa de madeira gasta do escrivão, que finalmente levantou os olhos verdes exasperados para ela.

-Sabe, eu notei que você percebeu apenas a presença do cara grande e forte que entrou. – falou num tom de voz de mágoa forçado - Você nem ao menos perguntou a mim, se eu teria uma embarcação. Eu poderia muito bem ser a capitã e não ele. Quase fiquei magoada. Eu não gosto de ser ignorada.

-Ora, e você tem um barco, Capitã? - perguntou o velho com um sorriso amarelado olhando para os olhos dela.

-Agora sim, você me irritou. - disse ela franzindo o cenho.

-Parece que eu faço você sentir muitas coisas, gracinha. - respondeu o velho asqueroso, abrindo mais o sorriso nojento.

Puxando uma faca da bota, prestes a pô-la contra a garganta do homem.

-Erya - disse Az sem paciência – já chega. Uma informação, nós só precisamos de uma informação. E sermos discretos.

Com isso, ela guardou a arma e disse:

-Vamos embora. Eu já tenho a informação que precisamos.

Com isso, ela saltou da mesa e saiu do prédio com Azriel em seu encalço para fazer a descida ao porto novamente. Ele pôs-se ao lado dela tentando entender o que acabara de acontecer.

-Erya, o que aconteceu ali? Nós precisamos ser discretos. Se chamarmos atenção das pessoas erradas, nossa missão fica muito mais difícil. - Azriel argumentou. - Parece que voce não entendeu a situação. Recuperar aquela arma é a prioridade, não vingar seu ego ferido.

Ela parou e virou-se bruscamente para ele. Mesmo uma cabeça de altura de diferença, ela conseguia fazer sua presença tão alta quanto a dele.

-Olha, eu já disse para não mandar em mim. E aquele cara me desrespeitou e foi nojento, se fosse na Corte dos Pesadelos eu o teria trucidado ali mesmo. Porque nenhuma fêmea ou mulher merece aquele tipo de desrespeito...

-Foi só uma pergunta que ele não fez a você.– o Mestre–espião flexionou a mandíbula e disse sem entender o porquê daquela raiva.

-Não Azriel, não foi só isso. - respondeu ela com o semblante colérico.

Ela olhou para baixo, para a cidade e para os navios antes de voltar-se para ele e responder.

-Nós precisamos seguir para o porto seguinte, ao norte. Pela hora, dois dia e uma noite de caminhada. E chegaremos a tempo de pegar um dos navios que acabou de sair, no próximo porto que vai para o Continente também.

Então voltou a andar e disse:

-Além do mais, da próxima vez que tentar mandar em mim, você vai se arrepender. E aquele homem merecia tudo o que eu imaginei fazer com ele.

Como em resposta, um grito de terror ecoou a cima, do controle portuário. Foi então que Az se deu conta, Erya era uma damaeti. Por isso ela sabia para onde eles precisavam ir. Ela entrara na cabeça do escrivão e conseguira a resposta. Agora ele entendia. Talvez Azriel se arrependesse de não ter sido ele quem fez o velho gritar. 

CORTE DE FOGO E PESADELOS (uma fanfic de Acotar)Onde histórias criam vida. Descubra agora