08 ERYA

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A feérica olhou para a mesa farta, ela salivou. Sabia que aquela mesa era para ela. Sempre antes de alguma missão Keir a punha para comer as melhores comidas. Ele nunca a deixava comer o que queria em outros momentos. Suas refeições eram estritamente dosadas, balanceadas.

Bem, até ela aprender a roubar comida das cozinhas, ninguém sabia porque a comida sumia ou quem a roubava, mas Erya sempre dava um jeito de deixar algumas moedas ou pedras preciosas como pagamento pelo silêncio dos que trabalhavam ali. Já tentaram pegá-la. Essa era uma boa lembrança, a qual Erya fazia questão de deixar escondida longe de onde Keir pudesse a usar contra ela.

Ela olhou para Keir, pedindo permissão para sentar-se e comer. Erya detestava ter que pedir tantas permissões, mas depois de um tempo acostumara-se. Era o que ela vivia, mas o fim já estava próximo. Sua liberdade estava mais próxima do que jamais estivera. Então ela iria obedecer por uma última vez, mais uma vez, mais uma missão e pronto.

O macho estava em pé do outro lado da sala de jantar acenou e disse:

- Você já sabe como funciona – pegou uma taça de prata com vinho e aproximou-se dela – sirva-se e tenha uma boa noite de sono.

Antes que pudesse levar a comida à boca, Keir disse, passando por ela em direção a porta:

-Vai precisar.

O tom de voz dele lhe deu um calafrio na espinha, mas ela não se deixaria abalar por aquelas simples palavras. Palavras eram apenas palavras. E ela era um pesadelo vivo, nada poderia ser mais assustadora que ela.

...

Rhys

(Antes da partida de Mor)

Rhys atravessou para a cidade, deixou Azriel na Casa do Vento e voltou para casa. A lareira estava acessa, o que criava sombras do que acontecia na sala de estar. Ele passou pelo portão que dava acesso ao jardim da frente, olhando como o outono já dava indícios. Antes de entrar plenamente em casa, o Grão-senhor virou-se para olhar sua cidade, seu povo, seu lar. A risadas e os cheiros, todos alheios do que acontecia. Todos felizes, Rhysand não poderia ser aquele que atrapalharia isso mais uma vez, tirá-los dessa paz depois de tantos anos de sofrimento

Eles mereciam paz, ele merecia...

Antes do pensamento se concretizar duas crianças passaram correndo, um menino e uma menina. Seus cabelos escuros e os traços denunciavam o grau de parentesco, ele claramente deixaria a irmã mais nova ganhar. Rhys não sabia como sabia, mas foi exatamente isso que aconteceu e o sorriso da irmã foi como a vitória para o irmão.

Uma dor antiga no peito do macho voltou a pulsar. Ela nunca desaparecia e nunca o faria, apenas havia dias que doía mais que outros. Cathair, além de sua mãe eram suas saudades mais irreverentemente permanentes. Um sentimento acalentador atravessou o laço. Antes de Feyre pensar "Vai demorar muito ainda?". Rhys riu suavemente. E disse me voz alta:

-Entrei. O que você quer...

O macho encarava a parceira com a mão sobre a barriga descoberta, passando a mão sobre a protuberância, deleitando-se daquele momento. Ele ficara ali, apenas a admirar a cena: dela deitada no divã, com a luz da lareira acentuando os ângulos do rosto sorridente de Feyre.

Ela não disse nada, apenas estendeu a mão para ele, que se ajoelhou ao seu lado e inspirou seu cheiro tão único. Então, ela posicionou a mão dele sobre a barriga. Os dois ali com as mãos juntas sobre a criança, Rhys cantarolou uma antiga canção que sua mãe cantava para ele antes de dormir. Como em resposta a criança mexeu sob suas mãos unidas, pela primeira vez. Feyre sorriu com lágrimas nos olhos, emocionada. Uma luz suave emanava dela. Ela estava brilhando. E ele sentiu-se como naquela noite – na queda das estrelas – como se ela sorrisse pela primeira vez para ele. Porém, de algum jeito ele sabia que estava retribuindo o sorriso.

-Não é justo eu não poder brilhar também - disse ele com uma irritação fingida. Feyre riu e respondeu:

-Mas qual seria a graça disso? - Ela respondeu ainda acariciando a barriga. Então, ela lembrou-se.

-Sabe, se for menina – disse Feyre sorrindo – eu quero que seja o nome da sua irmã.

-Você é incrível, sabia? – respondeu ele com uma expressão resplnadescente no rosto.

-Sabia, mas sempre bom ouvir você relembrar a nós dois. – Respondeu ela com um sorrisinho convencido, ao passar a mão no rosto dele e beijar seus lábios.

Então, Rhys afastou-se e logo assumiu um semblante abatido.

-O que aconteceu naquela reunião, meu amor?

-Você não vai acreditar.

Então ele narrou os acontecimentos desde ele confrontar Azriel sobre Elain ao aparecimento de Erya e da espada, além do que aquilo tudo representava para eles. A ameaça. Feyre que ouviu tudo e disse:

-Então quer dizer que achávamos que teríamos um pouco de paz e não vamos ter, para variar – disse com uma ironia frustrada – Vamos contar para o Círculo?

-Azriel já sabe – disse ele – mas não queria tirar o pouco de normalidade que eles lutaram, nós lutamos, tanto para adquirir.

-Então, vamos esperar mais um pouco. Vamos conversar com Azriel, para não revelar para ninguém mais.

Fez-se um silêncio carregado de dúvida e incertezas.

-Rhys, ele quer a Corte toda. Como vamos pará-lo? Tem como nós o tirarmos do poder sem tanta violência?

-Você sabe que poder é o ar que aquele verme respira. Ele morreria antes de abrir mão de uma grama de poder. E não, eu não sei o que fazer, ainda.

Rhys parou em frente a da lareira e a encarou um instante, até Feyre abraçá-lo de lado e dizer:

-Vamos pensar em alguma coisa juntos. Ninguém vai tirar nosso futuro.

Ele deu um beijo no topo de sua cabeça, então falou:

-Então como foi o passeio mais cedo?

Logo, começaram a falar sobre outros temas e o clima amenizou um pouco. Feyre narrou como fora a tarde. E como estava com saudades de treinar. E antes de jantarem, eles já haviam combinado horários de treinos, um pouco mais leves, contudo apenas para agregar ao bem estar dela e ao do bebê, mas Feyre ainda treinaria tudo seu corpo, sua mente e seus poderes.

CORTE DE FOGO E PESADELOS (uma fanfic de Acotar)Onde histórias criam vida. Descubra agora