02 ERYA

492 76 26
                                    


O suor escorria da testa de Erya. Ela treinava todos os dias, quase o dia inteiro quando não era mandada em missões, por Keir. A figura mais próxima de um pai que teve a vida inteira. Ela crescera e se tornara sua Mestre-Espiã. Quando Keir precisava manter algum controle sobre aqueles que viviam Sob a montanha, na Cidade Escavada. Ele a chamava, ela descobria desde os crimes mais simples, sonegações de algum tributo, até os mais graves como quem matou quem, ou melhor, porque matou, geralmente essa era moeda de troca de Keir.

Erya nunca era vista, ou ouvida por ninguém, mas sempre esperava, escutava e todas as vezes conseguia o que queria. Algumas outras vezes, ela precisava eliminar um ou dois problemas das equações para conseguir o que queria. Mas era seu trabalho e ela não tinha culpa se as pessoas adoravam colecionar segredos que lhes custavam a vida. E também não era culpa dela se era ela quem precisava fazer esse serviço. Ninguém além de Keir sabia de sua existência. E era assim há mais de 488 anos.

Mais gotas de suor pingaram no chão de pedra da caverna.

Keir apareceu no portal de pedra da câmara, mas Erya nem se deu ao trabalho de parar de treinar. Ela sabia que se ele queria falar, ele falaria. Ele entrou na câmara e veio ao encontro dela lentamente. A cada passo dele, Erya golpeava com mais força. As espadas valorianas despedaçavam aquilo que deveria ser os membros do boneco de palha e algum tipo de cola. Ela havia sido treinada por diversos professores, diversos mestres de espadas, grandes envenenadores e estrategistas. Até pelo próprio, Keir. Ela era uma arma viva.

Ele ficou 15 metros atrás dela.

-Erya. - Ele disse. Ela parou a lâmina do ar.

- Qual o serviço? – Ela perguntou ainda sem se virar para o comandante da Corte dos pesadelos.

- Não sei ainda.

Óbvio que ele sabia, mas não queria dizer, ela pensou, e isso era preocupante.

- Preciso de você pronta. – disse ele. Preciso. Foi o que fez ela girar para encará-lo. Ele apenas usara essa palavra em dois outros momentos além desse.

- Terei uma reunião com Rhysand. - Ah. - Você, provavelmente será necessária.

- Qual o serviço, senhor? – Disse mais uma vez, a palavra escorregou por sua língua com nojo devidamente disfarçado. Depois de anos, ela aprendeu a esconder algumas - a maioria - das emoções.

Erya esperou. Porém, ele andou de volta para o arco de pedra da entrada. Mas antes de sair totalmente da câmara de treinamento olhou sob o ombro e disse:

- Para fora.

A respiração dela ficou irregular, mas esse foi o único sinal de seu choque. Ela acenou e voltou ao treino com diversas perguntas rondando seus pensamentos, mas a principal: Por que Keir a deixaria sair e, provavelmente conhecer pessoas que ela não poderia matar?

Ele a apresentaria para o mundo, pela primeira vez, e o mundo que se preparasse para ela.

Com um sorriso felino, ela despedaçou os 10 bonecos de palha na sua frente.

Mas por que, agora?

Ela descobriria depois. Agora ela se deleitaria com sua saída da Cidade Escavada, mesmo que momentaneamente.


CORTE DE FOGO E PESADELOS (uma fanfic de Acotar)Onde histórias criam vida. Descubra agora