20 ERYA

107 18 8
                                    

Então, a mestre-espiã abriu os olhos bruscamente.

A consciência voltou de uma vez, de onde estava, o que estava fazendo e o porquê. Erya ergue-se com um suspiro, acordando os outros feéricos.

Os últimos resquícios de sonho a abandonando. Ela tentou segurar aqueles estilhaços, mas sabia que não havia como agarrá-los. Ficara apenas a memória da existência do sonho.

Ao abrir os olhos, a imagem que se desenrolou foi a mais inusitada. Dois feéricos - um com as cores da Corte Diurna e outro com as da Crepuscular. Ela conhecia todas as cores de todas as cortes. Keir sempre a fazia aprender sobre as linhagens, seus governantes, suas habilidades. Principalmente quando havia troca de governantes. Era incrivelmente enfadonho, mas conhecimento é poder e qualquer poder é melhor que nenhum. Principalmente contra Keir. Os machos pareciam ter acordado ao mesmo tempo que ela.

Então, ela percebeu, já era noite. Quanto tempo será que havia dormido? Eles estavam acampados numa clareira comum, dentro de uma floresta. Parecia a mesma floresta que eles haviam corrido e apagado. As mesmas especies de plantas ao redor. A luz da fogueira já se extinguia. Seus olhos varrendo toda a cena, enquanto sua mão encaminhava-se para alcançar suas espadas, seu cenho franziu-se quando não encontrou nada além do espaço vazio.

Ela permaneceu em silêncio, os encarando.

-Oi? - Disse o ruivo incerto. Ele ergueu o braço como se tentasse chegar a um animal bravio.Talvez fosse isso mesmo que acontecia ali, naquele momento.

Algo chamou sua atenção à direita. Uma sombra, ou quase, era o mestre-espião, sentado, imóvel com as pernas cruzadas. Ele a encarava com uma expressão diferente das de antes. Essa continha algum significado. Ele buscava algo no rosto dela. Parecia querer enxergar algo. Mas ela não sabia o que. E principalmente, por quê. Então, não encontrando, desistiu. Algo como desapontamento passou por seu rosto tão rápido, que sob a pouca luz Erya questionou se realmente havia visto algo. Ela voltou seu olhar desconfiado para os outros, sob sua pele algo a incomodou. Mas ela atribuiu aquela sensação à falta de suas armas.

-Erya? - o macho da corte Diurna a chamou. A voz dele tinha um timbre grave, quase solene. E pela maneira que ele se movia talvez estivesse lidando com outro dos "sonhadores", como Azriel. Ela permaneceu em silêncio, no entanto. - Nós estamos cuidando de vocês. Seus Grão-senhores, nos mandaram.

Desprezo passou por seu rosto, ela não fez a mínima questão de esconder. Voltou o rosto novamente para o mestre-espião. Agora, era sua vez de buscar confirmação no rosto dele. Azriel apenas piscou e balançou a cabeça. Estava tudo bem. Contudo, os ombros dela continuaram tensos.

A comunicação não verbal deles foi devidamente notada pelos outros.

Gyddy ergue-se, o que fez ela quebrar o contato visual com Azriel. Ele andou até onde suas mochilas estavam descansando.

-Relaxa. - disse enquanto jogava o cinto com as espadas embainhadas para ela de volta. - Você deveria estar procurando isso, não é? Também não gosto que mexam nos meus brinquedos sem permissão.

Ele deu um meio sorriso em sua direção. Erya não retribuiu.

Ele voltou a sentar-se como se estivesse falando com uma velha amiga. E não com uma das feéricas mais letais de toda Prythian. Não que ele soubesse quem ela era.

Os dois estranhos estavam mais distantes dela, do outro lado da fogueira. Ela mirou o feérico mais próximo. Com uma indagação no olhar, ela sabia que os outros a encaravam.

-Está tudo bem, Erya. - a voz grave que saiu de sua garganta parecia seca, como se ele houvesse gritado muito. Mas ela podia apostar que ele não dissera mais que algumas palavras– ou nenhuma– em qualquer interação social ali.

-E como você sabe? - questionou. - Como eles provaram que foram seus Grão-senhores quem os mandaram?

-Eles me devolveram Reveladora da verdade. - Azriel disse categórico.

-E você a tinha perdido?

-Aparentemente, eu ou minhas sombras ou alguma coisa a enviou para os pés de Feyre pedindo ajuda...

-E voce acreditou? - o semblante da feérica passou de desconfiada para raivosa. Ela estava com raiva dele por ter sido tão tolo. Acabaram de sair de uma situação envolvendo confiança e desconhecidos. - Como pode ser tão tolo? Você nem viu acontecer.

Ela ergueu-se mirando os outros que permaneciam como espectadores. Ela esticou o campo de seu poder até eles. Leria suas mentes, então teria as informações necessárias. No momento, o qual seu poder tocou suas mentes flashs das cenas passaram para ela: Rhysando desconfiando dela, de um deles vendo Feyre sentada grávida com um mapa e a Reveladora da verdade, e eles encontrando os mestres-espiões semimortos sobre o chão. Tudo chocou-se na mente dela. E Erya cambaleou com a mão sobre a testa. Ela não conseguia respirar. Então, virou-se e vomitou todo aquele café da manhã miserável.

Nenhum dos machos ousou aproximar-se. Tudo aconteceu rapidamente.

Depois de vomitar, ela simplesmente pegou um punhado de terra para cobrir o vômito. Ela tratou aquilo como se estivesse acostumada. E estava.

O macho da diurna - possuía uma pele negra brilhante e olhos sérios que combinavam com a boca. - entregou um cantil de água. Mas ela negou com a cabeça.

-Jogamos sua água e comida fora. - Disse ele olhando para a feérica com um olhar de quem tem mil respostas. Mas ela se recusou a desviar ou intimidar. - Ficamos preocupados caso tivessem envenenado suas provisões também.

-Sabe como é. - o da crespuscular intrometeu-se. - Melhor previnir que remediar. Além do mais, não se preocupe. Seu amigo também colocou o café da manhã para fora também. Seus organismos precisavam expulsar o que estava fazendo mal.

Ao ser usada a palavra amigo para se referir a Azriel, ele bufou audivelmente. Ele levantou-se e andou até ela e o Corrhian. Tomando o cantil da mão dele, ele bebeu um pouco de água e disse:

-Se eles não estivessem aqui para nos ajudar, teriam nos deixado para morrer. - Então entregou o cantil para ela. Que recebeu com certa resistência. - Não seja burra. Disse entre dentes.

Erya bebeu um pequeno gole. No instante que o líquido tocou sua garganta ela percebeu o quanto estava com sede. Água escorreu pelo canto da boca, o qual enxugou com as costas da mão.

Um silêncio se instaurou pesado e expressivo. Eles se entreolharam quando finalmente ela quebrou a calmaria, tão afiada quanto a adaga que os trouxeram ali.

-Afinal, quem são vocês? 

CORTE DE FOGO E PESADELOS (uma fanfic de Acotar)Onde histórias criam vida. Descubra agora