— cadê o povo dessa casa? — perguntei após entrar em casa e notar o silêncio.
Essa casa tá sempre com barulho, é até estranho entrar aqui e está tudo quieto desse jeito.
— Lua — o Mauricio saiu da cozinha enquanto segurava uma panela — que bom que tu chegou
O Maurício é o irmão do meio, a Laís a mais velha e eu a casula e o Maurício assim como a Laís não sabe fazer nenhuma tarefa doméstica e vive pedindo minha ajuda.
— o que você aprontou? —resmunguei enquanto entrava na cozinha atrás dele.
— queimei o arroz, mano — coçou a bochecha e ri fraco.
— como você é inútil
— não precisa esculachar, cara
— pega a colher de pau ali — apontei pra gaveta de talheres.
— não tem
— como assim não tem?
— quebrei no panelaço semana passada — torceu o lábio.
— pelo menos foi por uma boa causa né
— bolsonaro só fode né — falou em um tom sarcástico.
— quem só fode? — meu pai perguntou enquanto entrava na cozinha segurando uma sacola de super mercado.
— seu presidente — sorri fofa.
Meu pai assim como a maioria dos policiais brasileiros é a favor do Bolsonaro e sem duvidas essa é minha maior vergonha.
— e o 9 dedos não fudeu o brasil não?
— e quem citou ele mesmo? — cruzei os braços.
A maioria das discussões aqui em casa surgem porque nós dois nunca concordamos em nada e eu não sou do tipo que gosta de ficar quieta.
— vou ver se a Laís tá com o meu tênis — avisei afim de encerrar a discussão que começaria caso eu desse trela pro policial na minha frente.
— e o arroz? — o Maurício fez drama.
— pede uma quentinha, não tem como salvar essa papa aí não
Subi as escadas de dois em dois degraus, passei no meu quarto deixando minhas coisas lá e em seguida fui até o quarto da Laís e entrei sem bater.
— espero que você não esteja siriricando
— ih Luara, me erra
— cadê meu tênis? — encostei a porta atrás de mim.