Lennon Narrando
1 semana depois
- Lennon
O Léo estalou os dedos na frente do meu rosto e balancei a cabeça afastando meus pensamentos.
- que foi? -murmurei-
- tá viajando aí, lek -botou as mãos na cintura e me encarou-
- foi mal -suspirei- fala
- o que tá pegando?
- bobeira
- te conheço, desenrola
Passei a língua lentamente pelos lábios e ajeitei minha postura na cadeira do estúdio.
- sabe do meu sonho de ser pai né?
- sei
- então -suspirei- a Lua...
- tá grávida? -arregalou os olhos-
- posso terminar de falar, Leonardo?
- fala
- ela não tem vontade de ter filhos
Desde que ela me contou que não tem vontade de ter filhos eu fiquei meio perdido.
Sabe quando você tem um sonho e se dá conta que não vai poder realizar ele nunca? então.
- não sei o que falar -o Léo falou meio cabisbaixo-
- eu sei que é bobeira, mas é meu sonho tá ligado? -esfreguei o rosto- eu tava como -ri- imaginando uma criança a cara dela
Não era mentira, desde que tive certeza que é a Lua a pessoa com quem quero passar o resto da minha vida, eu imaginava vários momentos ao seu lado, inclusive um filho nosso.
- você vai desistir dela por isso? -o Léo perguntou do nada-
- não -neguei rapidamente- eu amo ela e ela não querer ter filhos é um direito dela -sorri- a gente pode ter um cachorro pô -o Léo gargalhou-
Fiquei meio triste em descobrir isso, mas isso nunca seria um motivo pra eu desistir da Lua.
- tu não existe, Lennin -o Léo deu uns tapinhas nas minhas costas- acho a relação de vocês bonita
- tá de gastação comigo?
- não pô -riu- eu não sei explicar, mas é maneiro o que vocês têm e to torcendo pra dar certo
- que gay isso, Leopoldo
- vai tomar no cu então, orelha de fandangos
Ele saiu andando e gargalhei.
- TE AMO, DO KICK
- virou bagunça aqui? -o Papato brincou e neguei com a cabeça-
- foi mal -ri-
- deixa eu adivinhar o assunto, Luara
- sempre né, essa aí mora na minha mente
Luara Narrando
Entrei em casa sentindo o peso do mundo nas minhas costas e soltei um suspiro longo.
- Luara -meu pai me chamou, mas fingi que não ouvi assim como fiz a semana toda- será que você pode parar de fugir e me ouvir?
- ouvir o que? que você é um racista? acho que nem precisa né
- filha, por favor
Fechei os olhos com força e respirei fundo.
- você tem 2 minutos
- eu sei que nada do que eu disser vai justificar as coisas que eu fiz e o quanto eu machuquei você, o Maurício e sua mãe -suspirou- mas eu quero pedir desculpas, de coração. Eu não quero te machucar mais e nem ser esse homem horrível que você sente nojo -ele passou a língua nos lábios- você é minha princesinha e eu devia ser motivo de orgulho pra você
- devia -assenti com a cabeça- mas você só me fez te odiar
- eu sei e ouvir aquilo de você doeu
Ri ironicamente.
- você acha que ter um pai racista não dói em mim?
- eu sei, não é só por você e pelo seu irmão que eu quero mudar, é por todas as pessoas que eu machuquei em vão e por todas as pessoas que eu odiei esse tempo todo a troco de nada
- fico feliz de saber que você finalmente se tocou de que estava sendo um filho da puta, mas isso não anula nada do que você fez
- eu sei que não e espero que um dia você me perdoe por tudo
- quer pedir desculpas pra alguém? pede pra todos os negros inocentes que passaram pela humilhação de serem revistados e humilhados por você -ele engoliu em seco- acabou? -ele assentiu com a cabeça e suspirei- ótimo
Ajeitei a bolsa no meu ombro e subi as escadas pisando fundo.
- boa tarde, linda -a Keila falou assim que entrei no meu quarto e levei a mão até o peito pelo susto-
- boa tarde não sei pra quem -joguei minha bolsa no chão- como você entrou aqui?
- pela porta -riu e semicerrei os olhos- o Maurício abriu pra mim
- tinha que ser né
- que mal humor é esse? -riu- L7 não tá dando conta?
- já experimentou ir se fuder hoje?
Eu estava uma pilha de nervos o dia inteiro e mal conseguia falar com as pessoas sem dar um fora ou uma resposta irônica e essa conversa agora com meu pai só piorou tudo.
- o que tá pegando? -ela perguntou preocupada e abaixei a guarda-
- nada demais -tirei minha roupa- eu só to irritada, muito irritada
- L7?
- não, tá tudo bem entre nós -suspirei- eu acho
- como assim acha?
- eu falei que não queria ter filhos e acredito que ele ficou meio chateado
- chateado porque? é ele que vai parir?
- Keila -ri-
- você não respondeu isso pra ele?
- não? -falei como se fosse obvio-
- o mundo não é mais o mesmo
- é um sonho dele e eu entendo ele ficar triste, no lugar dele eu também ficaria
- compreensível -murmurou e assenti com a cabeça-
- espero que ele me entenda também
- obvio que ele vai entender, parir dói e criar criança é caro
- não to falando disso -mordi o lábio-
- mas mulher foca em um assunto de cada vez por favor -suspirou- tá falando de que então?
Peguei minha bolsa no chão, peguei o contrato que estava meio amaçado dentro dela e virei pra Keila ler.
- que isso?
- eu vou embora do Brasil
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aí que mora o perigo