*Bônus Anônimo*

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Eu estava andando por minha casa como nos últimos 30 anos depois do acontecido.

Eu fazia isso, pois não tinha mais tanta vontade de viver, de sorrir. Meu sofrimento só aumentava a cada dia que passava.

Carrego essa tristeza desde o dia que arrancaram a vida da minha filha que era apenas um bebê indefeso. E me dói pensar que nem estava lá no momento para protegê-la. Fracassei como mãe.

E por isso não existe mais sorriso em minha face como antes.

Ainda hoje permaneço com o Guilhermo, meu marido e pai dos meus filhos. Eu tenho 5 e se minha bebê não tivesse sido tirada de mim seriam 6 filhos.

Sem ela, meu coração está incompleto, me falta um pedaço mesmo sabendo que ela não vai voltar.

São 30 anos carregando o fardo de não saber quem a matou, de não saber quem é o culpado para tamanha atrocidade com minha caçula, com minha bebê.

Não terei descanso em vida. Nunca. E é por isso que sempre quando chega a data de seu aniversário procuro acender uma vela em forma de celebrar a vida que lhe arrancaram.

Guilhermo não gosta muito, mas faço isso para nunca, jamais esquecer, minha princesa.

Subi as escadas indo para o quarto da minha filha, onde se tornou lugar de conforto para meu emocional, meu refúgio. Eu briguei com o meu marido para manter esse quarto do mesmo jeito desde a última vez em que a vi com vida. Nunca permiti que mudasse as coisas de lugar.

Ando até o berço, onde ela dormia e eu zelava por seu sono. Não era uma bebê agitada, nem muito chorona. Minha bebê era a mais doce que conheci que sorria ao ouvir minha voz cantando alguma das músicas de ninar.

Respirando fundo saio desses pensamentos dolorosos e encaro todo o quarto falando para mim mesma o quanto ele se tornou uma máquina de lembranças. Lembranças essas onde eu era feliz, onde minha família era completamente feliz.

É então que volto para minha realidade. Para o hoje e como todas as vezes, penso como seria se ela ainda estivesse viva? Meu relacionamento com Guilhermo seria melhor? Será que eu e minha filha seriamos boas amigas? Será que ela amaria seus irmãos e seu pai mesmo sabendo que vivemos em um ambiente difícil?

Suspiro fortemente e caminho até a cômoda ao lado do pequeno berço. Lá ainda está presente algumas fotos com ela em meus braços, dela com o Guilhermo e outra toda a família unida e sorrindo.

Involuntariamente sorrio com a última, pois meu filho mais velho Caique é quem a segura. Ele é um filho querido e sempre cuidando dos irmãos no que precisa.

Meu sorriso se esvai ao lembrar como Caique ficou devastado, se culpando por não ter feito o possível e o impossível para que ela ainda estivesse viva assim como todos nós.

Uma lágrima escorre por meu rosto e sinto meu peito doer de forma dilacerante, sugando toda a minha energia de viver.

- Deus, por quê? Por que deixou que tirassem de mim? Por que me deixa carregar essa dor a tanto anos? Por que não eu no lugar dela? - Falo entre meus soluços não conseguindo evitar que o cheirinho de bebê invadindo minhas narinas.

- Meu amor, o que faz aqui? - Olho em direção a porta onde está Guilhermo parado me observando enquanto sofro.

- Apenas vendo as coisas da nossa filha. Lembrando dos momentos que conseguimos ter ao lado dela. - Posso ver meu marido franzi sua testa ao ver mais lágrimas escorrerem em meu rosto. - Queria voltar no tempo e ter aproveitado mais ao lado dela Guilhermo. - Cubro meu rosto com minhas mãos enquanto volto a soluçar.

Cosa Nostra - Foi Você Saudade e EuOnde histórias criam vida. Descubra agora