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Me olhei no espelho de roupão arrumando o cabelo com um sorriso de lembrar que exatamente um ano atrás eu estava nessa mesma situação tentando firmar o lápis pra não borrar a maquiagem depois de ter passado a tarde inteira bebendo com todos na sala nessa véspera de ano novo.

A grande diferença era que agora eu ouvia ali bem próximo o chuveiro e sabia que quem estava ali embaixo era o Gustavo, que estava reclamando há pouco de eu ter deixado o aquecedor muito quente e quase causado uma queimadura nele. Claro que existia um exagero, principalmente por ter continuado ali embaixo.

Estávamos naquele apartamento com o casal, eu tinha esse tempo de terminar de me maquiar pra fazermos um último brinde ali entre nós e irmos encontrar nossos amigos, brincando que agora quem teoricamente era o desconhecido seria o Gus. Num teoricamente porque sabíamos que em menos de vinte minutos ele já estaria conversando com todo mundo.

Olhei pro mesmo vestido vermelho pendurado no armário, resolvi passar de novo com ele mudando apenas os acessórios e o casaco. Brinquei com o Gustavo que aquele era o vestido que combinava com ele, não tinha como procurar um diferente.

E nessa de combinar, no Natal eu estava preparada pra todos os discursos da família. Ele chegou na véspera com os pais e quando sentaram com junto comigo e os meus, com nós dois ali brincando e as mãos que não se soltavam, só ouvi uma risada da minha mãe.

_Te falei Vanessa, não passava desse ano pra vermos esses dois assim.

_Mas vocês tem que aproveitar mesmo enquanto são jovens e livres assim - encaramos os quatro sorrindo pra nós - só não me chame de sogra porque me sinto velha.

_Ah não, admito que acho meio cafona também.

_Viu só, perfeitos!

Ouvi ele desligando o chuveiro e aumentando a música. Tinha colocado uma das bandas experimentais, inconformado que eu não tinha ouvido desde que ele comentou naquela manhã pós casamento. Sentou ao meu lado na cama mexendo no celular.

_Pela previsão do tempo teremos neve na madrugada.

_Essa é a parte que eu menos gosto de passar ano novo aqui. No Brasil estaríamos em frente ao ar condicionado morrendo de calor.

_Possivelmente em uma praia.

_Sim! Nossa não vejo a hora de chegar o verão e poder entrar no mar de novo.

_Pode deixar, semana que vem mergulho por você.

_Ai que chato você - ele riu, levantando e começando a se vestir. Olhei no espelho, só faltava passar o batom e estaria pronta pra sairmos. Coloquei o vestido, voltando pra sala com ele e sentando ali nas poltronas junto com o casal.

Ambos estavam de branco, queriam seguir os costumes da nossa avó e tinham preparado algumas simpatias pra fazemos nessa virada. O grande tema deles era de justamente iniciarmos o ano seguinte como o melhor das nossas vidas, levando essas nossas melhores versões.

_Padrinhos, não esquecemos o acordo pré viagem de compartilhamos nossas metas de ano. Estão prontos?

_Só as daquele dia até hoje ou do ano que vem também? - enchi minha taça, me aconchegando ali naquela poltrona com todas suas almofadas.

_Daquele dia. Se já tiver do ano que vem e quiser falar também tá liberado.

_Ok - o Gus sorriu, nos encarando em pé ao lado da mesa - dessa vez quem começa é o Marcos então.

_Só porque eu fui o mais fofo da última vez? Admito que não mudei, segui com a minha de priorizar meus amores. E você amor?

_De colocar momentos de prazer todos dias. Quem mais se beneficiou com isso foi meu marido, como vocês podem bem imaginar - gargalhadas com o Marcos ficando vermelho.

_Mona?

_Ah não, conta a tua primeiro.

_De não me deixar engolir por uma rotina previsível.

_Como isso seria possível em uma viagem sem roteiro definido?

_Tínhamos um plano mínimo com alguns lugares previsíveis.

_Que eu acordava achando que faríamos e ele mudava tudo em cima da hora, olha ai a garota inocente que todo dia fazia planos que não eram cumpridos.

_Mas não foi mais divertido assim?

_Com certeza.

_Agora conta o teu prima.

_Era de justamente não ficar resistindo e aproveitar - sorri - se tivéssemos combinado não daria tão certo assim.

_E pro ano que vem casal?

_Acho que de seguirmos juntos com todo esse amor em volta - o Luiz respondeu apertando a mão do Marcos. Eu apoiei em uma das almofadas, esse carinho entre os dois era tão lindo e contagioso.

_E o teu Gus?

_Acho que seguirei com essa de ser do contra uma rotina e tanto trabalho. Esse ano minha vida foi em torno disso.

_Sim, eu gostei disso de aproveitar... Mas o que você falou agora de colocar a vida em torno de trabalho fez um sentido. Nesses últimos tempos eu sempre ficava procurando alguma coisa pra ter ali toda minha atenção.

_Você caiu na cilada de priorizar um namoro prima.

_Pois é. Esses dias por mais que nós estivéssemos ali juntos eu estou com essa sensação de que eu não estava ali só por você Gus.

_E não estava mesmo. Várias vezes você entrava em um mundo paralelo.

_Eu gostei disso. Lembrei agora do dia que fizemos o passeio de barco e vocês três ficaram lá no meio conversando e eu sozinha vendo o mar. Tivemos momentos lindos nesses dias, mas esse pra mim é o preferido.

_Você estava com um sorriso bem feliz mesmo Mona, até falamos disso à noite lembra amor?

_Sim, fazia tempo que eu não te via tão bem. Talvez quando a vó era viva.

_Tem uma palavra pra isso não? Fugiu agora aqui.

_Solitude - o Marcos respondeu sorrindo. Concordei sentindo os olhos enchendo de lágrimas. Olhei pros três embaçados com aquela felicidade que eu não sabia explicar, pensando que agora tudo fazia mais sentido, que aquele próximo ano seria meu comigo mesma, descobrindo mais momentos que eu me pegasse assim encarando o mar naquela certeza de que estávamos em um caminho certo.

_Sabe que eu amo vocês três justamente por me lembrarem toda hora de mim mesma?

Amores de MonaOnde histórias criam vida. Descubra agora