Tem como piorar?

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ANDREW ON

   Esse final de semana antes das aulas começarem era para ter sido incrível, papai tentou literalmente de tudo para animar a gente ou pelo menos fazer com que esquecêssemos a minha mãe por alguns minutos. Funcionou? Não! Nem um pouco na verdade. Posso até estar sendo um pouco dramático demais, mas eu não consegui nem fingir que estava me divertindo como meu irmão.

   Não queria que meu pai se chateasse e achasse que eu estava achando todo o esforço dele uma bosta, só que ontem acabei perdendo o controle na hora de voltar para casa, deixei a raiva e a agressividade falarem mais alto e agora estou de castigo por ter machucado o meu irmão. Não queria ter perdido o controle e empurrado o Ethan com tanta força, pelo menos ele não se machucou de “verdade” e o papai ainda não faz ideia do porquê a gente discutiu, melhor assim.
 
   Hoje é o nosso primeiro dia de aula no colégio novo e a única pessoa que eu conheço, vulgo meu irmão, não está falando comigo. Coloquei vários alarmes para despertar ontem de noite com objetivo de evitar confusão com meu pai na hora de acordar, mas inacreditavelmente eu consegui desligar todos e voltar a dormir... Não tenho palavras para explicar isso! Em resumo, realmente não tem como esse dia ficar pior!

- Não estão esquecendo nada? – Papai pergunta entrando na sala segurando a chave do carro.

- Minha vontade de ir, talvez... – Ethan responde emburrado fechando o zíper da mochila.

- Que bom que não estão esquecendo nada – Meu pai responde sorrindo – Me esperem no carro, vou buscar uns documentos.

   Ethan pega a chave da mão do papai e sai de casa ainda sem olhar na minha cara. Eu sei que ele está com raiva pelo eu o que falei, eu entendo. Mas vai ficar me tratando assim até quando? Não é justo! Eu só fui realista. Uma mulher que abandona a família e manipula todo mundo para conseguir o quer, como a minha mãe fez, não merece o benefício da dúvida! Muito menos por causa de um pingente idiota. 

    Entro no carro e sento no banco de trás sem falar nada, vejo Ethan trocar mensagens no celular fingindo que eu não estou ali. Rodo os olhos e encaro a janela em silencio até meu pai voltar.

- A animação dos dois está contagiante – Papai comenta debochando e liga o carro – Qual é meninos?! Vão conhecer pessoas novas, fazer novos amigos...

- Realmente empolgante papai – Murmuro fingindo entusiasmo.

- Você vai gostar, bebê – Ele responde piscando para mim pelo espelho do carro – Eu prometo!

- Tanto faz – Respondo dando de ombros – Não conheço ninguém lá.

- Conhece seu irmão – Eth tira a atenção do celular por alguns segundos – Inclusive, se um de vocês acabar mais cedo, esperem o outro.

- Que ótimo! – Meu irmão reclama irritado.

- Meninos, já chega disso! – Papai fala em tom autoritário – Eu não sei o que deu em vocês dois, mas sugiro que resolvam isso antes de eu me meter de verdade! – Desvio o olhar e volto a encarar a janela do carro – Porque eu não criei os dois para se tratar dessa maneira.

- Desculpa... – Murmuro segurando o choro.

   A verdade é que, desde que a minha mãe apareceu, minha vida bagunçou completamente e a única coisa que eu queria era que tudo voltasse ao normal. E quando eu digo normal, é quando ela ainda estava vagando por aí sem vir atrapalhar a minha vida.

   Quando ela foi embora, foi triste e tudo mais, só que eu "superei" muito rápido e quando me dei conta, Camille não fazia mais falta alguma na minha vida. Eu tinha me tornado completamente indiferente e tudo que era relacionado a minha mãe. Porém, há quatro dias, quando papai me contou exatamente o que tinha acontecido durante a venda da casa, era como se ele tivesse tirado de mim a habilidade de ignorá-la e me feito sentir todo o abandono que eu me neguei a sentir anos atrás. O peso de todos esses sentimentos reprimidos está mexendo comigo mais do que eu gosto de admitir, não sei lidar com eles sozinho, mas também não consigo falar sobre eles com ninguém...

The Hale'sOnde histórias criam vida. Descubra agora