TRACK 01

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13 de Julho, 1975

"Ayo! Ayo! Essa foi mais uma do grande Joe Cocker, Feelin' Alright. Viva o movimento hippie que ainda passa por nossas veias. Paz e amor! [...]"

A voz do radialista se alastrou pela oficina, fazendo Kyungsoo revirar os olhos e sorrir irônico.

— Hippies, por que ainda existem?

Era fim de expediente, todos já tinham ido embora, menos seu chefe que estava no escritório, e o rádio era sua única companhia. Os últimos raios de sol passavam pelas janelas empoeiradas do galpão velho, iluminando todos aqueles carros parados. Estava exausto, todo suado pelas altas temperaturas daquele dia, com uma vontade imensa de ir para casa, mas o motor a sua frente não deixava ir embora. Tinha passado o dia inteiro em busca do problema daquele carro, seu dono estava desesperado, montou e desmontou o motor várias vezes, e só agora no fim da tarde, depois do horário de expediente, que encontrou o motivo: Polias desgastadas precisando serem substituídas.

Trocou todas as peças necessárias, estava dando os últimos apertos necessários, quando sentiu a garganta seca. Tentou lutar contra o incômodo, mas não teve jeito, mesmo frustrado, parou por um instante para saciar a sede.

— O calor de Phoenix não é brincadeira, bicho.

Foi em direção ao bebedouro da oficina, mais fundo do galpão, pegou um copo bem servido de água gelada. Tinha sido um dia tão cansativo que um mero copo de água parecia revigorar suas energias, olhou os carros parados, dos mais velhos, aos mais novos, e sorriu feliz. Adorava seu trabalho, aquele cheiro de graxa e galpão antigo era relaxante e aconchegante, mesmo com aquele calor infernal.

Terminou seu segundo copo d'água, quando escutou o grito do seu chefe, Sr. Lee, pela oficina à sua procura:

— KYUNGSOO, SEU FEDELHO, CADÊ VOCÊ? O Sr. McKinley ligou perguntando sobre o carro!

Jogou seu copo no lixo, já indo à procura do seu chefe, quando o próprio apareceu em sua frente.

— Ah, aí está você! Descobriu qual é o problema do carro?

— Sim, mas o problema não era tão grave quanto eu pensei, só precisei trocar as polias do motor. O que demorou mesmo foi descobrir que era só esse o problema. — Kyungsoo sorriu frouxo quando se aproximou do veículo, apoiando se em frente ao capô aberto.

— Não acredito que aquele homem fez todo esse alvoroço só por causa de umas polias desgastadas! — o homem falou desacreditado — Mas, bem, amanhã eu ligo o avisando, já que acabou o expediente mesmo. Aliás, se já estiver terminado, pode ir arrumando as coisas para fechar a oficina. Hoje fica por sua conta.

— É, realmente. Pelo escândalo que ele fez parecia até que o carro iria explodir a qualquer momento! — Ambos deram risada — E pode deixar que eu fecho tudo, já estou no final — Kyungsoo limpou as mãos de graxa no macacão jeans desgastado.

— Beleza, então. Vou indo. Até amanhã, garoto, se cuide na hora de voltar para casa — o homem se despediu, logo desaparecendo em meio aos carros parados dentro da pequena oficina.

— Pode deixar, que amanhã eu volto sem falta! — já pegou um alicate a fim de terminar seu serviço.

— É bom mesmo, garoto, você é o meu melhor mecânico, sem você essa oficina não tem futuro!

Não conseguiu segurar a risada, Sr. Lee sabia ser dramático quando queria.

Mark Lee, seu chefe e dono da oficina, é a figura mais próxima que tinha como pai. Não tinha relações muito saudáveis com sua família, se assim poderia chamar, mas aquele homem era sua inspiração. Foi ele que lhe deu seu primeiro emprego, como mecânico júnior, seu maior sonho de adolescente. Mark ensinou tudo que sabia para si e o acolheu como filho, tinha muita gratidão e respeito por ele. Além de muito carinho, como um filho tem pelo próprio pai. Mas mesmo tendo uma relação tão forte com seu chefe, ainda era um funcionário como qualquer outro. Tinha que trabalhar.

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