BONUS TRACK

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"COMO VOCÊ PODE SER DESSE JEITO?!"

"VOCÊ QUE É UMA EGOÍSTA!"

"COMO EU PUDE UM DIA DIZER QUE AMAVA ALGUÉM COMO VOCÊ!?"

Os gritos ardidos fizeram Kyungsoo abrir os olhos em alerta. Tudo parecia confuso, mas aos poucos sua consciência e corpo acordaram, e começando a ter os primeiros raciocínios matinais o garoto percebeu que aquela barulheira se tratava apenas de seus pais.

"Mas que droga...", se sentou na cama e passou a mão pelos cabelos bagunçados. "Quem aqueles dois acham que são para fazer tanto barulho nessas horas da... CARAMBA, JÁ SÃO OITO HORAS!"

Tropeçando nos próprios pés, saiu em disparada ao banheiro para tentar não chegar tão atrasado na aula. Na velocidade da luz não demorou muito para escovar os dentes e se vestir, pegou a mochila e livros, mas respirou fundo antes de ir encarar sua família.

"Bicho, o que eu fiz para merecer essa vida?", reclamou em pensamentos antes de atravessar o corredor, mas surpreendentemente, ou não, encontrou a cozinha da humilde casa vazia. Mas um pequeno pedaço de papel em cima da mesa chamou sua atenção:

"Fomos em uma manifestação pelos direitos ambientais em outro estado. Não sabemos quando voltamos - Mamãe"

"Minha nossa, que novidade...", revirou os olhos e amassou o bilhete. "Que se dane esse movimento hippie idiota"

Tomou um pouco de café, mas nem se deu o luxo de comer algo, porque mesmo que quisesse tentar esquecer as pessoas que pela lei deveria chamar de pais, ainda estava atrasado. Fechou a porta e se apressou até o ponto de ônibus na outra rua, mas quando virou a esquina percebeu o ônibus acabando de sair do ponto de embarque.

"NÃO!", tentou correr mais rápido, mas já era tarde demais, "Não é possível que o meu dia já vai começar assim, bicho. Alguém lá em cima me odeia"

Sem outra alternativa, se contentou com o fato de ter que andar 40 minutos para o colégio. O dia por coincidência parecia demonstrar o seu humor, totalmente acinzentado, o sol nem ao menos parecia que iria dar as caras. Entre cada passo que o moreno dava, era um suspiro indignado. Sua mente só conseguia lembrar dos defeitos da sua vida, se não era com o fato dos seus pais nem ligarem para sua presença, era por causa do povo daquela cidade que sempre queria ser perfeitinha e fazia sua vida ser uma porcaria. Mas, mesmo com tantos problemas, tinham as únicas pessoas que prestavam naquela cidade: Junmyeon e Yixing.

"Aqueles otários...", sorriu frouxo quando chutou uma pequena pedrinha na calçada.

Os seus dois melhores amigos eram os únicos que poderia chamar de família. Não sabia dizer quando aquela amizade chegou ao nível de um morrer pelo outro, mas assim era desde sempre. Eles eram os únicos que o entendiam, apoiavam em tudo, e os que mais incentivavam seu sonho de se tornar um cantor famoso.

Ainda perdido em pensamentos tentando descobrir o motivo de sua vida não acontecer nada de grandioso, o volume de um dos carros que passavam chamou sua atenção. Pela primeira vez naquela manhã nublada, um brilho de felicidade surgiu nos olhos do garoto de 17 anos.

A lataria escura bem lustrada fez o coração de Kyungsoo falhar algumas batidas. Com os olhos atentos como de um gavião, analisou cada detalhe daquele carro que não conseguia decifrar o modelo, mas sabia ser um Chevrolet pelo seus conhecimentos com carros. A sensação era como se tivesse se apaixonado à primeira vista, mesmo que não fosse o maior crédulo no amor, e com essa sensação não perdeu tempo antes de sair correndo em direção ao carro quando o viu parar no semáforo da rua.

"HEY!", pessoas na rua encararam Kyungsoo como se fosse um doido. "BICHO, ESPERA AÍ", quando chegou ao lado do carro, se apoiou nos próprios joelhos para recuperar o fôlego.

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