Algumas semanas depois...
*P.o.v Patrícia*
Mais uma etapa, mais um capítulo e mais uma chance de fazer aquilo que por ventura é certo. Eu havia feito as provas finais da escola em novembro e a vida me presenteou com a aprovação, eu estava em êxtase de felicidade, eu sinceramente nunca achei que isso valeria algo e que eu já estava sei lá, fadada a me meter em buracos cada vez mais fundos. Passei pela corda bamba pois minhas notas anteriores não ajudavam.
- Olha se isto não é uma surpresa! - Disse a secretária da escola me entregando o boletim.
- Não é? Achei que eu não ia conseguir - Peguei o papel de sua mão.
- Eu também achei, você nunca se esforçou em nada por aqui Patrícia. Olhe, vai ser difícil você conseguir alguma coisa na vida, boa sorte - Disse a criatura em desdenho, era assim que um profissional letrado deveria fazer?
A lancei um sorriso falso, não estava disposta a insultar mesmo claramente aquela mulher me colocando a um nível abaixo. Era bem verdade que eu não queria nada da minha vida mas não posso querer mudar este rumo? Não é disto que a vida é composta? De chances?
Estava decidida a fazer minha faculdade, tentaria bolsa em alguma instituição, meu pai não poderia pagar e eu estava desempregada e com ótimas dívidas. Daqui a três semanas seria a formatura e eu também não tinha vestido azul para a ocasião, era esta a cor que toda a classe definiu. Saí daquele local e me dirigi até a minha casa, ao chegar fui olhar no banco como estava a reserva para pagar os Mendes.
- Puta merda, este dinheiro me ajudaria tanto! - Disse olhando o montante de quase 20 mil, metade do que eu deveria pagar.
A ajuda de Beatriz foi de suma importância, eu não tive a oportunidade de trabalhar com todas as letras no escritório e o restante vinha dos fundos da venda da moto e seguro do papai, este estava procurando emprego mas em mais de um mês os bicos pagavam as despesas da casa que por sorte e graça era nossa. Pensando em todas as estratégias para minha vida, eu adormeci.
Acordei com batidas na porta, saí em disparado para atender e quando a abri me deparei com uma Alice plantada lá, ela estava cheirosa e arrumada como sempre. A sua roupa era a do mesmo dia em que conheci, sim, eu lembrava e eu me odiava por lembrar podem ter certeza.
- Eu preciso de você.
Foi a única coisa que ela falou antes de adentrar naquele local e me beijar, eu sentia saudade e as forças para parar eu não tinha. Minhas costas bateram contra a parede, nossos passos estavam incertos. Ela me levantou e subiu cuidadosamente pelas escadas, tirei seu terno, blazer eu nunca me atentei aos nomes de peças de roupas mas eu as retirei. Caímos na cama e ela me beijou o pescoço, eu suspirei... Espera. Eu estava vendo as paredes do quarto cair e uma voz familiar sorria alto e chamava pelo meu nome. Eu acordei.
- Hey, hello! Acorda mulher! Acorda! - Era Beatriz balançando meus pés, fingi demência para ver se ela acreditava mas ela continuou - Eu sei que você estava sonhando com ela e eu vou começar a falar seu sonho bem alto se não acordar! - Ela terminou e eu levantei.
- Eu não estava sonhando com ela, deixa de ser doida - Tentei soar convincente.
- Alice, Alice! - Dizia aquilo com gemidos, eu não acredito meu Deus.
- Para, eu não fiz isso! O que diabos está fazendo aqui? - Tentei desviar do assunto e ela parou.
- Eu disse para você descansar por estes dias que a gente depois ia sair, me diz, como foi na escola? - Perguntou curiosa.
- Passei! A secretária soltou até praga aquela praga - Comentei e ela sorriu.
- Normal, minha professora dizia que eu não ia ser nada na vida também. Faz alguns dias que coloquei o filho dela na cadeia por bater na esposa. Foi lindo assistir a justiça, ela me olhou e passou direto - Relatou indiferente.
- A Alice comentou que você mudou seu rumo, tu era desviada que nem eu? - Me interessei pelo o assunto.
- Oh não baby, não existe algo mais desviado que você - Debochou e depois sorriu em sua típica maneira de ser - Eu estou brincando, bem, muito preguiçosa e com familiares que não apoiavam nada, eu já tinha aceitado trabalhar de segunda a sábado para ajudar nas contas, até que em uma feirinha de profissões eu me deparei com a promotoria de justiça, eu me apaixonei! Corri atrás, fiz concurso e aqui estou. Foi difícil e eu aprendi que nem mesmo todo esforço é sinônimo de vitória mas a vida Patrícia vai te alocar no lugar certo e na hora certa. Agora levanta! - Me puxou.
Era por volta das 12 horas da tarde, fui preparar o almoço. Para hoje tinha ovos, arroz, feijão e farofa. É, com o preço que este país cobrava encima de carnes o ovo era a solução.
- Bia! Só tem ovos! - Gritei para a minha amiga que estava na sala.
- Não tem problemas Paty, eu sempre fui fã de galinhas! - Falou e eu quase derrubei a panela pela crise de risos, ela adentrou o local com o celular na mão e se aproximou mostrando, era uma mensagem de Alice.
- Viajar? Nossa, que madura - Alice dizia que estava tomando um tempo para si na mensagem, que iria ficar longe de São Carlos por um tempo.
- Qual é Paty? Eu não defendo porém também não julgo. Ela está mal, acredite! - Me lançou um olhar misterioso.
- Eu também estou, com saudades e vontade de ir atrás mas não vou, não custava ser mais responsável com a porra do coração alheio, não custava! - Soltei brava encostando a panela na mesa.
- Realmente não, sem preocupações okay? - Me abraçou - Agora cadê meus ovinhos?
Almoçamos e depois de eu tomar banho e ela também saímos pelas ruas atrás do que fazer, eu comentei sobre conseguir um emprego para pagar alguns custos, muito esperta ela me perguntou se haveria formatura pois iria me ajudar no vestido e essas coisas. Olha como a vida te dá tapas, eu estava precisando de ajuda e justamente quem eu jurava forca é quem estava a me ajudar. Deixamos o meu currículo vagabundo em alguns supermercados, farmácias, uma loja de produtos animais e uma lanchonete. Fico me perguntando o que se passava na cabeça da pessoa que me via descendo de um ótimo carro com papéis em mãos e entregando pedindo uma oportunidade.
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RomancePatrícia Marques, moradora do lado mais pobre da cidade de São Carlos, com grande histórico de processos por pequenos delitos tem em sua vida um encontro com Alice Rubem, advogada conceitual e de família rica, o que nunca foi motivo para ela ser ego...