|Capítulo 17|

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Quando Sophie Charlotte olhou pelas amplas janelas de seu escritório no último andar da Cosméticos Deinert, não conseguiu reprimir uma risadinha de deleite. Ela teria dado qualquer coisa para ver a expressão no rosto de Sina e Heyoon quando percebessem que haviam sido instalados no chalé de lua-de-mel no Maplewood Lodge.

E claro que Sophie não tivera como instruir a secretária, Hayley Brant, a fazer a reserva, ou mesmo como fazê-lo pessoalmente. Embora conhecesse tanto Louise quanto Harry, os proprietários de Maplewood Lodge, há anos e confiasse em sua discrição, era possível que sem quere eles deixassem escapar a alguém e as recém-casadas ficassem sabendo o que Sophie havia feito.

Ainda assim, ela conseguiu administrar o caso com bastante facilidade. Instruíra a empregada a fazer os arranjos, sabendo que, se alguma coisa desse errado, ela poderia culpar a senhora Brant pela confusão.

Olhando para o céu cinzento e triste de inverno, Sophie se perguntava se estaria nevando do outro lado da fronteira com o Canadá, em Maplewood Lodge. Esperava que sim, esperava que Sina e Heyoon estivessem em seu chalé de quarto único, sozinhas uma com a outra, fazendo o que era natural acontecer entre duas belas moças em tal situação. O casamento delas não ia terminar em anulação ou divórcio... Não se ela pudesse impedir!

Rumores sobre as duas terem fugido juntas já circulavam pela Cosméticos Deinert. E, embora Sophie não tivesse confirmado nenhuma das fofocas, tampouco havia negado. Apenas sorria, misteriosa, para as perguntas educadas, feitas com cuidado, para que todos soubessem que se isso realmente houvesse acontecido, ela não ia condenar ninguém. E havia instruído Klaus e Caleb a agirem da mesma maneira.

Mais cedo, ao passar por Noah Urrea em um dos longos corredores da empresa, Sophie havia balançado a cabeça e aberto um sorriso radiante para ele, certa de que, pela expressão de seu rosto, ele ja sabia sobre Sina e Heyoon e desejava muito que lhe dissessem que não era verdade.

Sem chance, Noah, seu idiota, Sophie pensara ao passar por ele. Você tem sorte de ainda ter um emprego na Cosméticos Deinert depois de ter partido o coração de minha neta!

Virando-se discretamente para trás, Sophie tivera a enorme satisfação de ver Noah ajeitar o colarinho com o dedo, como se a gravata o estivesse sufocando. Ao longo dos anos, ela havia aprendido como fazer com que um mero olhar para pessoas que a desagradavam fizesse com que se perguntassem, nervosas, se ela estava a ponto de demiti-las. Em mais de uma ocasião, Sophie havia feito exatamente isso porque não tolerava nenhum funcionário que ficasse abaixo de suas expectativas na empresa. Com a mesma facilidade, aqueles que se superavam em seu trabalho também eram recompensados.

Seja dura, mas justa, era o que seu finado marido, Ben, gostava de dizer, e Sophie adotara o lema. De costas para as janelas, Sophie saiu de seu escritório. Ela poderia ter apenas ligado para o laboratório, mas sabia que não conseguiria nada pelo telefone com o apático Alfred Mueller.

Cara a cara, no entanto, e na ausência de Heyoon, ele não acharia tão fácil evitar suas perguntas. E, ainda que houvessem passado apenas alguns dias desde a apresentação formal de Heyoon sobre a fórmula, ela tinha de saber como estava progredindo Rosto Fabuloso, se estavam ou não mais perto de descobrir o ingrediente X.

— Bom dia, Alfred. ‐ Sophie cumprimentou o químico atarracado, sorrindo agradável e calorosa ao entrar no laboratório, e fazendo com que ele deixasse escapar um gemido.

Como todo mundo na Cosméticos, Alfred sabia que, quando a chefe gorjeava, brilhante e alegre como um pássaro, era sensato ficar alerta. Em resposta, ele resmungou, taciturno, antes de voltar, determinado, sua atenção ao trabalho.

— Alfred, quero saber se eliminamos mais alguma possibilidade para o Ingrediente X nos últimos dias. ‐ Sophie não se intimidava pelas poucas palavras do rapaz.

— Sim. - concordou ele com a cabeça, sem dar mais nenhuma informação.

— Ah, faça-me o favor, Alfred! Sua lealdade e discrição são admiráveis. Mas quantas vezes preciso lembrar-lhe que você trabalha para mim... e não para Heyoon Jeong! Então, quero saber sobre o ingrediente X!

— Amazônia. - Respondeu o químico, relutante.

— Amazônia? Que diabos isso quer dizer? Explique-se. Juro, arrancar uma palavra de você é como tirar um dente. Você se refere à floresta amazônica?

—  Sim. - suspirou Alfred, sabendo que teria que conversar, querendo ou não. E quando Heyoon voltasse ao escritório, ficaria furiosa porque não queria que ninguém, nem mesmo Sophie, se metesse em seu território. E Alfred não ia querer receber mais uma das broncas de Heyoon. — Acho que é lá que o ingrediente X será encontrado. Mas não posso dizer com certeza, entende. Ainda tenho mais testes a fazer.

— Quantos testes?

— Não sei. Mas são vários. Heyoon e eu já repetimos muitas vezes: em ciência, não se pode ser apressado, senhora Deinert. A senhora não quer que cometamos erros, não é? Como acidentalmente transformar o Rosto Fabuloso em Rosto Pavoroso?

— Não, claro que não.

— Então, a senhora deve ser paciente. - o químico insistiu, teimoso.

— Ainda assim, de que estamos falando, Alfred? Dias? Semanas? Meses?

— Semanas, talvez... se tivermos sorte. E se a senhora puder me deixar continuar a trabalhar em paz! - Alfred olhava para ela, agressivo, apontando para os béqueres e tubos de ensaio, o microscópio, os slides e a pilha de notas à frente dele.

Franzindo as sobrancelhas e batendo o pé, impaciente, ela ponderava se o pressionaria ainda mais. Mas sabia, pelo maxilar teimoso dele, que não tinha muita chance em conseguir muita coisa. Aquele bode velho obstinado! Se não fosse tão brilhante, ela o demitiria, pensava, enfurecida.

Nunca havia ocorrido a Sophie que, em todos os departamentos da Cosméticos, ela tinha pessoas no comando que compartilhavam muitas de suas próprias características. E ela secretamente gostava das pequenas escaramuças com Alfred e com vários outros de seus funcionários. Eram o que a mantinha de pé.

Alfred era tão compenetrado e sério que, mais de uma vez, Sophie havia sido tentada a fazer alguma brincadeira que o deixasse desconcertado. Mas tinha resistido ao impulso, considerando-o indigno de uma mulher em sua posição. Ela sabia que Heyoon, no entanto, não era tão contida, e riu lembrando a última brincadeira que ela havia feito com o colega.

Heyoon havia despejado uma substância química inofensiva na cafeteira do laboratório. Alfred passou o resto do dia com a boca e a língua descoloridas. Agnes Smith, responsável pelo refeitório da empresa e sempre muito gentil com Alfred, quase desmaiou quando o viu no almoço, especialmente quando Heyoom.sugeriu que a sua comida era responsável pelo incidente.

— Tudo bem, Alfred. Entendi. - disse Sophie, mordaz. — Volte para os seus testes. Mas lembre-se de me notificar assim que tiver feito algum progresso.

Ela começava a esboçar uma idéia com relação ao ingrediente X. A fórmula secreta da juventude era seu bebê.

Havia sonhado com ela durante anos, e agora que finalmente chegava a uma conclusão, ela queria ser a responsável pela última peça da equação. Tão logo soubesse qual era o ingrediente, voaria até a Amazônia, pilotando ela mesma o jato da empresa, decidiu. Mas não podia contar a ninguém, nem mesmo a Caleb, sobre seu plano. Toda a família e os amigos se oporiam ferozmente ao esquema.

Diriam que era uma viagem longa e cansativa e que ela estava velha demais para se lançar a uma aventura tão exaustiva, especialmente se estivesse no controle do avião. Mas Sophie sabia que, graças a um regime regular de exercícios, estava mais em forma que muitas mulheres com décadas de idade a menos do que ela. Sim, ela iria para a floresta amazônica pilotando. Amélia Earhart perdia para Sophie Charlotte Deinert!

Uma Esposa Contrada 「𝑺𝒊𝒚𝒐𝒐𝒏▪︎𝑯𝒆𝒚𝒏𝒂」(G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora