Larissa • Lennon

Larissa • Capítulo 24

Lennon

Cheguei no endereço que a Larissa me passou e mandei uma mensagem avisando, olhei a faixada do local, era colorida com o letreiro escrito "Lar Arco-íris", tinha várias mãozinhas de tinta pelo muro.

Do lado de fora já dava pra ouvir a música e as vozes das crianças pelo lugar, escutei um barulho no portão e logo ele abriu revelando a Larissa de short, descalça, com a camisa do lugar e o cabelo que um coque mal feito.

- Vocês vieram! - ela abaixou abraçando meus irmãos.

Maria não parou de falar dela um segundo ontem depois da festa, que a Larissa era engraçada, que ela era bonita, que ela queria ser policial também, acabei contando pra morena que quase morreu do coração quando descobriu.

- Fiquei feliz de vê que vocês vieram - ela me abraçou - vamos entrar que já tá uma bagunça!

Ela deu espaço pra que a gente entrasse, era um pátio grande recheado de crianças pra todos os lugares.

- Separei pra vocês - se aproximou com três pacotes de camisas - Brendha leva eles pra se trocar que daqui a pouco começa.

Brendha chegou saltitante, cumprimentou a gente e logo saiu com meus irmãos pra um espaço fechado.

- Agora eu posso te dar um beijo - ela se aproximou juntando nossos lábios - tô doida pra fazer isso desde ontem.

- Tia Lalissa - um menino de aproximadamente uns 4 anos parou do nosso lado cutucando ela - tá doendo!

Ele desviou o olhar dela pra mim e agarrou as pernas dela com vergonha, Larissa se abaixou na altura dele vendo o seu braço com um ralado de leve.

- Eu falei pra você não correr né Nando? - ele resmungou alguma coisa - Que foi? - ela perguntou vendo a cara dele pra mim.

- Ele é seu namorado titia? - Larissa riu

- Ele é um amigo muito especial da titia - ela olhou pra mim sorrindo.

- Tudo bem parceiro? Qual seu nome? - perguntei pra ele que acabou indo pro colo da Larissa.

- Fernando, mas pode me chame de Nandinho- ele colocou a cabeça na curva do pescoço dela com vergonha - você gosta de judô?

- Nunca lute, gosto mais de skate - os olhos dele brilharam na hora e a Larissa bateu a mão na testa - falei besteira?

- Agora você aguenta a peça - ela comentou baixinho.

- Depois a gente pode andar de skate? - ele perguntou pra mim e virou pra Larissa na hora - Pode titia? - ele falava tudo explicadinho.

- Vou pensar ok? - ele concordou meio cabisbaixos.

- Nandinho vamos pro café da manhã? - Brendha chegou com meus irmãos - Vamo comer gente!

Seguimos ela até um refeitório improvisado a céu aberto, cumprimentei o resto do pessoal e só ali vi que o Davi, a Geovanna e o Rodrigo estavam aqui também.

- Quem vai agradecer pela comida? - uma moça mais velha perguntou e as criança se sentaram ficando quietas.

Demorou alguns segundos até que o Fernando levantou a mão no colo da Larissa.

- Isso Nando, vamos lá então!

Olhei ao redor e todos abaixaram a cabeça, olhei pra Larissa que fechou meus olhos rindo.

- Papai do céu - ele começou com os olhos fechados - obrigada por hoje, pela comida gostosa, pelos titios que faz o café pra gente, que seja um dia muito legal, feliz e que a gente se divirtam muito, em nome de Jesus... - ele parou esperando o resto completar.

- Amém! - falamos todos juntos e a Larissa abraçou ele apertando sorrindo orgulhosa.

...

- Vou trazer um babador pra você - brinquei vendo ela observando o pequeno treinando com o Rodrigo.

- Eu não aguento de amor com esse menino - ela fingiu chorar - Ta limpinho ein?! - ela me olhou de cima a baixo.

As crianças me arrastaram para um futebol e a gente fez tudo, menos jogar uma bola mesmo.

- Como você conheceu aqui? - perguntei sentando no banco do lado dela.

- Uma vez a gente veio fazer uma operação aqui na Rocinha e eu acabei parando aqui, na mesma semana o pessoal da delegacia queria se juntar pra fazer algo porque era dia das crianças e eu lembrei desse, acabou que passamos o dia fazendo festa com eles mas acabei voltando outras vezes só com o pessoal, passou a ser meu refúgio.

- E foi aí que eu você conheceu o Fernando? - ela assentiu sorrindo.

- Aqui é um orfanato, mas também funciona como uma creche, a mãe do Fernando engravidou de um dos traficantes da boca quando tinha 17 anos, o pai morreu faltando uma semana pra ele nascer, ela só tinha ajuda do pessoal daqui pra criar ele, no dia que viemos aqui ele tinha um aninho e eu me apaixonei por aquela coisinha redonda que sorriu todo bobo no meu colo, me senti na obrigadas de ajudar a cuidar dele.

- Então você apadrinhou ele?

- Sim, ele tem problemas respiratórios sério e de pele também por isso eu pago plano de saúde, ajudo com a alimentação, roupa e tudo - ela sorriu vendo ele correndo atrás da Lucas - queria colocar ele em uma escola particular só que ficaria difícil pra mãe dele levar e buscar.

- Falando do nosso anjinho? - a moça mais velha que vi no café se aproximou - Você deve ser o Lennon!

- Sim e a senhora?

- Pode me chamar de Tia Titóca - ela sorriu simpática - vejo que já conheceu o amor da vida da Lali.

- Então aqui você é a Lali? - arqueei a sobrancelha e as duas riram.

- Tia Lali - a mais nova corrigiu.

- A mãe do Fernando tá aí, estava te procurando - falou com a Larissa que concordou.

- Lê já voltou tá bom? - ela parou algum segundo olhando pra mim depois que percebeu - Quer dizer, Lennon.

- Lê! - corrigi ela que sorriu saindo correndo pra área da entrada.

- Lennin - Lucas me gritou - vamos jogar queimado! - ele ergueu a bola pra mim.

- Meu time contra o seu  - Rodrigo parou do lado do meu irmão - vai encarar cantor?

- Vocês estão de sacanagem comigo - levantei indo ao encontro deles.