I - A mensagem.

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Um ano depois, Nova Orleans.

- Mãe, eu estou ótima. - pela enésima vez, minha mãe me pergunta se eu estava bem através da chamada de voz que estávamos fazendo - Eu já resolvi os problemas do trabalho. O meu chefe disse que eu poderia ficar em casa por dois dias. - digo enquanto arrumo a minha cama.

- Só dois dias? É muito pouco pra você, minha querida. Você esse mês trabalhou mais que o necessário, está muito sobrecarregada, precisa descansar. - Ela responde. Sua voz estava carregada de preocupação, assim como todas às outras vezes que falou comigo.

- É, eu sei, mas é só por esses dias. Ele me garantiu que na semana que vem me daria três meses de folga, já que ele viu o quanto eu estava me esforçando no trabalho.

Calmamente, pego o celular que estava em cima do criado-mudo e o tiro da opção viva-voz, aproximando o celular do ouvido.

- Agora estou mais calma. - ouço minha mãe suspirar - Eu sei que estou me preocupando demais com você, mas não quero ver você daquele mesmo jeito de quando você retornou de Duskwood. - Ela confessa.

Senti que todo ar havia sido varrido do quarto quando ela citou o nome dessa cidade tão conhecido por mim, mas ao mesmo, tão desconhecido.

Mesmo sem notar, ela sempre me faz lembrar do que aconteceu há um ano atrás e do estado deplorável que eu fiquei. E isso é doloroso, é como abrir uma ferida mal cicatrizada.

- Mãe, eu sei que a senhora está preocupada comigo e que só quer me proteger, mas eu realmente estou bem. Tudo que aconteceu tempo atrás que fique no passado. - dei a conversa por encerrada.

- Tudo bem então, meu amor. Qualquer coisa, já sabe, pode ligar pra mim. - mamãe se despediu e logo em seguida desligou a chamada.

Sentei na lateral da cama, largando o celular na mesma. E sem o menor êxito, soltei um suspiro de frustação.

Minha mãe sabia mais do que qualquer outro o jeito que eu fiquei, somente ela presenciou tudo isso; minhas crises de choro constante; a ansiedade vindo com tudo; a dificuldade para dormir pois os pensamentos ficavam a mil; a raiva; tristeza profunda; e até mesmo uma possível depressão.

Quando a dor apertava e as memórias vinham, minha mãe sempre estava lá. E eu agradeço tanto por tê-la, não poderia ficar mais grata.

E depois do que aconteceu, resolvi dedicar todo meu tempo no trabalho, evitando ter uma vida social.

Tenho medo de me envolver com alguém ou em algum grupo de amigos e eles me usarem, mesmo não vendo nenhum motivo o qual levaria essas pessoas a me usar. Tenho trauma do que aconteceu, e não quero que se isso se repita.

Ouço meu celular vibrar, me trazendo de volta da minha linha de pensamentos.

Poderia ser minha mãe que me mandou mensagem por ter esquecido de falar alguma coisa importante comigo sobre uma receitinha caseira que ela viu na TV para melhorar a circulação sanguínea.

Eu ri com esse pensamento, ela sempre fez isso.

Em um ato instantâneo, pego o meu celular ligeiramente.

Entretanto, a notificação não era da minha mãe. A notificação dizia que um número desconhecido tinha me enviando uma mensagem.

Minhas sobrancelhas se ergueram, quem diabos estaria me enviando mensagem em plena seis e doze da manhã?

De início, ponderei em ignorar a mensagem dessa tal pessoa, não me convém responde-lá, pode ser um engano.

Mas, como sempre, a minha curiosidade foi maior do que a minha noção.

Abri o aplicativo de conversa e entrei na mensagem. No entanto, o que eu vi me fez parar no tempo.

[???] Olá, Selena.

Então eu pude sentir.

Pude sentir minha respiração ofegante, pude sentir meu coração parar por alguns segundos. Meus olhos, que não desviavam, não se mexiam, estavam fixados.
Engoli seco e respirei fundo.

Paralisei.

Me congelei no tempo, e os mais rápidos segundos se tornaram os mais longos.
Tanto que quis jogar meu celular pela janela, tudo por conta dessa simples mensagem.

É o Jake, a única coisa que passa na minha mente são essas três palavras.

O que ele quer comigo depois de tanto tempo?

Minhas mãos começaram a tremer, então segurei o celular com força para não correr o risco de escapar das minhas mãos.

Procurei primeiro me acalmar, fazendo a contagem de sete. Eu não poderia enfrentar essa situação tendo um começo de crise ansiosa, eu tinha que me manter fria o bastante para lidar com ele.

Ele me trazia de volta todos os meus sentimentos. Eu odeio a maneira como ele me deixa.

Estando calma o suficiente, me encostei na cabeceira da cama e enxuguei meu rosto. Com o celular em mãos, comecei a digitar, mas logo apago o que eu tinha escrito.

Eu estava em uma luta interna comigo mesma, não sabia o que responder ou se eu devia responder.

O ponto positivo foi que eu não precisei pensar demais no que eu podia escrever, já que ele se adiantou e começou a digitar.
E assim como eu, apagou, mas diferente de mim, retornou a digitar.

[???] Eu entendo que você não quer nenhum tipo de contato conosco, principalmente comigo.

Com certeza não, pensei.

Continuei a ler as mensagens que o Jake mandava. Estava tensa, suando frio.

[???] Mas, estamos precisando da sua ajuda.

[???] Lembra quando você disse que talvez pudesse ter dois sequestradores?
[???] Um ainda está solto.

Li a mensagem indignada. Ele realmente está pedindo minha ajuda na cara dura depois de tudo que eles fizeram? Eu digitei agiumente, retrucando seu pedido.

[Selena] Mudaram de idéia? De acordo com o que eu lembro, me disseram que não precisariam mais da minha ajuda.

[Selena] Eu não vou mais ser capacho de vocês, Jake.

[Selena] Se esse outro sequestrador ainda está solto, não é mais problema meu. Se virem do avesso, mas não venha pedir minha ajuda.

[Selena] Vocês não passam de uns traidores, não tiveram remorso de mim, de como eu iria ficar, de como eu iria me sentir. A única que ainda pensou em mim foi a Lilly, exceto ela, mais ninguém.

Em um único ato, entro no perfil dele e o bloqueio sem pensar duas vezes.

Então, o que acharam?
Deixem seu feedback, vou adorar saber o que estão achando.

Duskwood - Apenas Mais Uma Chance.Onde histórias criam vida. Descubra agora