XIII/ Part 1 - Jake

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Meus dedos se movimentam agilmente contra as teclas.

Era a segunda vez nessa madrugada que eu desvio mais um atentado dos agentes do governo contra o meu sistema. Felizmente, com sucesso.

Não é como se eu fosse do tipo orgulhoso, mas são coisas como essa que fazem meu ego elevar-se.

Me gabar de situações semelhantes é um dos poucos prazeres que me permito ter, já que o restante deles, tive a capacidade de destruí-los um por um.

Mas isso não significa que eu deva baixar a guarda. Muito pelo contrário. Enquanto puder, sou eu quem deve tomar as rédeas da situação, o que tem dado certo durante um curto prazo de tempo, mas já estou ficando sem muitas opções. Não subestimá-los é a coisa certa a se fazer; eles continuam sendo agentes do FBI e irritantemente imprevisíveis.

Me jogo contra a cadeira. Por mais que o assento fosse confortável o suficiente, não me sinto relaxado de forma alguma. O pensamento de deixar tudo para trás mais uma vez não me agrada, mas também não me surpreende.

Tomo um último gole de café e passo a mão pelo rosto. Meus músculos estão tensos. Na verdade, sempre estiveram.
Não só pela bagagem de cinco longos anos que tenho carregado como uma cruz, mas por um motivo a mais. Poderia agora listar cada uma das minhas covardias. Para ser honesto, seria ridículo mencioná-las.

A grande verdade é que não há um lugar fixo para mim. Pessoas como eu nunca devem se deixar levar pelas emoções, nunca devem se acomodar o suficiente, sempre terá que deixar uma brecha para ir embora.

Por anos, tentei me convencer do contrário, torcendo para que eu estivesse enganado mais uma vez, e de que, sim, eu poderia me sentir pertencente de algum lugar.

Mas em um piscar de olhos, perdi tudo.

Na época, estava completamente ciente das consequências quando escolhi fazer parte deste mundo. E quando se é jovem e inconsequente, tudo parece ser atrativo demais.

Nos dias de hoje, nada disso me surpreende, é o esperado para que aconteça, apenas tento não ser pego.

A vida não é um morango.

Lamentações à parte, o que me resta é continuar no ritmo. Se tudo que planejei der certo, então terei menos uma situação para lidar.

O plano é fácil: inicialmente, deletarei quaisquer dados que potencialmente podem levar até mim(menções, documentos, chats de conversas). Uma grande quantidade de informações a meu respeito está no aparelho celular de Selena, o que me força a fazer uma limpa silenciosa no seu dispositivo mais tarde.

Juntamente com essa limpa, inevitavelmente terei que escrever uma mensagem para ela de última hora pedindo para que se desfaça do celular e chip.

É um pedido estranho para se fazer, mas a essa altura não vejo outra alternativa. É preciso ter certeza de que nenhum dos marmanjos que me perseguem cheguem até ela.

E como sei que Selena é uma das pessoas mais questionadoras e pulso firme que já conheci, certamente não irá engolir essa ideia de primeira. Por isso, irei me certificar de que não tenha escolhas além do que foi pedido.

Vale ressaltar que ela irá ficar sem celular, o que pode ser perigoso no estado atual em que ela se encontra. Caso algo grave lhe aconteça - hipoteticamente falando -, de que forma ela irá se comunicar e pedir ajuda? Há muito com que se preocupar.

Ainda não sabemos o quão longe esse segundo sequestrador pode chegar.

Então, para prevenir qualquer das hipóteses, vou me assegurar de que ela não fique sem contato com o exterior por muito tempo.

Em seguida, como previsto, irei embora para longe por um tempo indeterminado. Não serão feitos comunicados a alguém em particular, nem para minhas irmãs ou até mesmo para Selena - o pedido para o descarte do celular e chip não se encaixa como aviso.

Desta forma, evitarei as prováveis perguntas desnecessárias as quais não estarei disposto a responder. E, claro, dar credibilidade ao meu plano; sem paradeiros.

Algumas semanas após o meu aparente sumiço, darei um jeito de trazer mais uma vez à tona a hashtag iamjake. Atualmente, não é tão popular como no início, mas há sempre uma maneira.

Por que isso agora? Bom. É bem simples de entender. Com o meu desaparecimento repentino, os agentes não terão o que buscar, já que todos os rastros serão apagados.
Portanto, quando a hashtag voltar a circular, os agentes que estão à minha procura serão coagidos a ir atrás de cada pista deixada, apesar de todas serem inautênticas.

Contudo, a probabilidade de localizarem algo é quase nula. E se caso cheguem a encontrar, não terão muitas possibilidades para seguir, considerando a falta de provas e de fundamentos.

Quanto ao caso do segundo sequestrador, tenho meio caminho andado. No entanto, o fato de ter procurado por algo tão fora do tempo, de certa forma, me irritou. Mesmo com toda tecnologia disposta para nós, há sempre um idiota para dificultar o processo.

De qualquer forma, não foi difícil. Com algumas pesquisas rápidas, consegui localizar um contrato de compra e venda de uma Olivetti LINEA 98*. O vendedor é de Duskwood. Já o Lewis, o comprador, está dentro dos limites da cidade. Não pude ver muitas coisas sobre ele.

Talvez isso se deva pelo fato da pesquisa completamente superficial que fiz, mas não acho que seja uma informação útil. No entanto, não fui tão a fundo quanto gostaria de ter ido, mas não é como se eu tivesse muito tempo agora.

E a essa altura, preciso de soluções, não de mais perguntas.

Por agora, deixarei esse trabalho para a Selena. Confio cegamente no seu potencial e inteligência.

A essa altura, há inúmeras vertentes nessa história, o fardo de carregar a culpa é uma delas. E por mais que eu tenha tentado deixá-la fora dos meus pensamentos me ocupando com outros assuntos, ela sempre retorna à minha mente de um jeito lento e suave.

Viver com esse remorso tem sido pior do que qualquer outra coisa que já aconteceu na minha vida.
E só de pensar que sou eu a causa de toda indiferença de Selena, sinto ódio da minha própria pessoa. Mas quando vi que não haveria um mundo onde nós dois pudéssemos dar certo, forcei-me a fazer o que nunca desejei.

Mas foi necessário. Para nós dois, principalmente para ela.

Selena é boa demais. Ela não merece um cara que vive se escondendo, sobrevivendo. Selena merece viver livre, com alguém livre.

Merece alguém que a leve para jantar a noite em um restaurante bonito, sem a incerteza de ser pego a qualquer momento na frente de todos, acabando com qualquer resquício de dignidade.

Me recuso a construir sua felicidade em castelos de areia.

É um argumento um tanto quanto medíocre, sei disso, mas não consigo encontrar outro jeito de amenizar a minha culpa. E eu não estou tentando esquecê-la, mas muitas vezes acho que parece isso.

De todo o jeito, é uma história para outra ocasião.

Meu corpo inteiro reage ao cansaço e automaticamente olho para o relógio do alojamento, que beirava às quatro da manhã. Pelo canto dos olhos, enxergo a cama completamente intocável desde que cheguei. A exaustão é visível aos olhos de terceiros, mas me recuso a me entregar completamente.

O horário da minha fuga está próximo. Não posso perder nem mais um minuto.

Olá! Finalmente atualização.

Quero agradecer a todos que tiverem a santíssima trindade de paciência e não desistiram de mim. Adoro todos vocês :)

Essa é a primeira parte do capítulo 13, a segunda parte talvez venha ainda essa semana, mas não prometo nada. Hehe

Não esqueçam de deixar o seu feedback.

Até o próximo capítulo.

Beijos! 💋

Obs:*Olivetti Linear 98 é uma máquina de escrever antiga.

Duskwood - Apenas Mais Uma Chance.Onde histórias criam vida. Descubra agora