Assim que a porta da igreja se fechou, a loura permitiu assumir mesmo que por meros segundos que a magia sempre a perseguiria, seja por conta de um acidente de carro quando era pequena ou por conta de John, um homem que acabou de conhecer e já havia a chamado de feiticeira. O vento frio de Chicago a puxou para a realidade bruscamente, forçando-a a sufocar esses pensamentos, por hora. Charlotte pôs a jaqueta antes de descer os degraus da igreja, a peça era como um abraço quente contra o corpo molhado.
— Seis minutos, seria um recorde? — Edgar perguntou saído do carro.
Charlotte levou um cigarro a boca e o acendeu, enquanto caminhava em direção ao carro.
— Lá dentro o tempo corre diferente, você precisa ouvir uma missa do meu tio, a impressão é que durou dias mas só dura 5 minutos. — Charlotte respondeu soltando a fumaça do cigarro em direção ao céu.
Edgar a encarou tentando decifrar o rosto da loura quando ela se aproximou, o sorriso que o homem carregava havia sido desmanchado enquanto abria a porta para a mulher.
— Está muito cedo para fumar — Edgar falou tirando o cigarro da boca dela e jogando no chão — Isso ainda vai lhe matar.
Ela respirou fundo sufocando a vontade de chorar, sempre que se encontrava com Gênesis ficava com um resquício da magia do ser, na maioria das vezes afetava as emoções da mulher a deixando melosa e emocionada.
— Idiota — Reclamou levando a mão ao maço roubado fingindo não estar travando uma batalha interna contra si mesma — Posso morrer a qualquer hora.
— Se você acender outro, eu irei fazer a mesma coisa.— Edgar ameaçou — Eu só quero o seu melhor.
Charlotte fitou o homem parado a sua frente, Edgar estava novamente com aquele olhar de que escondia algo por baixo de todo o cavalheirismo e boas maneiras.
— Está bem, papai.— Deu-se por vencida entrando no veículo.
O moreno revirou os olhos antes de dar a volta para entrar no carro, estava começando a faltar paciência para lidar com Charlotte.
O caminho até onde ela estava hospedada pareceu se arrastar, Edgar pensava em maneiras de ajuda-la com a missão misteriosa e impossível que de algum modo a levaria para a morte.
— Lembra da Josy? — Edgar novamente tentou puxar assunto pela milésima vez.
— Que a filha havia vendido a alma quando criança. — Charlotte afirmou após puxar na memória a imagem da mulher lhe pedindo ajuda na época. — Caso perdido, coitada.
— Ela invocou Anúbis e propôs uma troca; se o coração dela pessase menos que uma pena Anúbis deveria devolver a alma da filha dela, caso ela perdesse ele teria sua alma como recompensa. Ele apesar de um Deus tem vícios humanos, um maldito viciado em jogo. — Edgar comentou de modo divertido.
— E ela conseguiu? — Perguntou curiosa.
— Não, mas essa é exatamente a questão. — Edgar argumentou levantando uma das sobrancelhas encarando Charlotte — Não é porque a galinha tem asas que ela pode voar.
— Tem algum sentido nessas frases que você fala? — A jovem riu esquecendo mesmo que por um momento que aquela jornada suicida. — Mas você não está totalmente errado, não é porque ela apostou com um Deus que sua única alternativa seria perder.
— Você entendeu.
Charlotte se calou por um momento, sua cabeça planejava uma saida alternativa para a situação suicida que estava se jogando.
— Tenho algo para você. — Edgar falou estacionando o carro e entregando pergaminho enrolado — Aqui está exatamente como e quando você morre.
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Fragmentadas - A Cor Da Magia
FantasyCharlotte Hunter é uma mulher com habilidades sobrenaturais e muitos segredos, para ajudar um velho amigo ela começa uma jornada pela sombria Chicago em busca de um bem precioso. Entretanto, é perseguida por segredos e mistérios de seu próprio passa...