Você só me liga quando alguém vai morrer

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Charlotte abriu a porta do quarto o encontrando vazio, olhou no pequeno banheiro, embaixo da cama e até mesmo no guarda-roupa. Não havia sinal de Daniel muito menos sinal de que algo pudesse ter acontecido a ele, ela caminhou até a janela buscando algum sinal do amigo na parte de fora, até que o som da porta do quarto sendo aberta chamou a atenção da jovem.

Antes que ela pudesse se virar, Daniel surpreendeu a empurrando contra o vidro da janela, em um movimento rápido

— Eu deveria me sentir surpresa, Daniel? Sei que você sempre quis me algemar num quarto. — A loura pronunciou ao sentir o toque frio das algemas em seu pulso.

O rosto do homem assumiu um tom vermelho, tanto pela fala da amiga quanto pelo fato dela não ter se surpreendido com o fato de que era ele.

— É você mesma? Ou um ser fingindo ser você? — Daniel puxou-a fazendo com que ela se sentasse na cadeira que havia pego.

A Hunter respirou fundo, sentia que ainda não estava 100% do encontro com Gênesis e o fato que Daniel a pegou de surpresa contribuía ainda mais para a confusão mental da jovem, mas, ainda assim sorria presunçosamente.

— As algemas são por precaução. — Daniel falou como se isso explicase a atitude dele.

O homem puxou outra cadeira se sentando na frente da loura, Por algum tempo ficou a analisando, buscando algum indicativo ou sinais de que outra pessoa ocupava o corpo da amiga.

— Se for você mesma saiba que eu estava preocupado com você. Você não me falou para onde ia, com quem ia, apenas abriu a porta e fugiu como uma maldita adolescente problemática. — Daniel reclamou.

— Você queria que eu ficasse para acariciar suas costas enquanto você chorava? — A loura debochou — Eu estava buscando soluções, seja com Gênesis ou deitando com Edgar. O importante é que eu trouxe respostas, enquanto você chorava e praguejava os céus.

A loura tentou forçar as algemas a quebrarem, porém a tentativa foi ineficaz, por mais que tivesse deixando com que Daniel acreditasse que ele havia conseguido a dominar e a interrogar isso estava se tornando cansativo.

— Então você sabe o feitiço que é necessário? — O homem perguntou esperançoso.

— Infelizmente sim, mas há um porém, somente os puros de coração podem ter êxito no feitiço que Genêsis me ensinou, é preciso ter um propósito e um sacrifício de boa vontade. — Respondeu introduzindo uma mentira na verdade original.

— Nesse caso devo esperar o corpo da minha filha para o enterrar? Pois a última coisa que você pode ser é pura de coração ou você ter um propósito além de beber.

— Você é horrível Sir Daniel, um herói de merda em um cavalo branco. — Charlotte reclamou sentindo as algemas queimarem contra o contato com os pulsos feridos pela força que fazia para tentar se soltar. — Eu tenho um plano, um plano que vai dar certo, que não envolve pessoas puras ou sua morte.

Daniel se levantou caminhando até o frigobar, enquanto o amigo não estava prestando atenção Charlotte forçou novamente as algemas novamente tentando se livrar delas, tentou imaginar fogo corroendo a madeira da cadeira e em seguida o metal, porém não surgiu fagulha alguma. Sempre que trocava de corpo com Gênesis perdia por algum tempo as maldições que possuía.

— Qual a prova você pode me dar que Genêsis não assumiu seu corpo definitivamente? — Daniel caminhou novamente em direção a loura com um suco em mãos.

— Genêsis diferente de William, só possuiria alguém se a pessoa aceitasse e concordasse. Você deveria ter mais medo de ficar num carro trancado com William do que eu estar dividido o corpo com Genêsis.

— Não sei o que estava passando na minha cabeça, mas você sabe o que aconteceu da última vez que você brigou comigo e saiu de casa voltando só na manhã seguinte.

Charlotte respirou fundo sustentando o olhar na direção do rosto de Daniel, ele sabia a versão que William havia implantado na cabeça dele, não a verdade.

O telefone de Charlotte tocou a deixando apreensiva, Daniel enfiou a mão no bolso da jaqueta da loura retirando o aparelho.

— Alex. — Ele leu o nome no visor.

Charlotte forçou as algemas novamente finalmente as quebrando de modo que as separou em duas.

— Meu irmão está me ligando, você quer continuar esse péssimo e falso interrogatório ou pode me esperar atender? — Ela estendeu a mão para que Daniel entregasse o telefone.

Assim que a loura pegou o aparelho atendeu a vídeo chamada do irmão.

— Ei, você aí do outro lado da tela. Algo aconteceu? — Charlotte perguntou assim que o homem em traje militar apareceu na tela.

Alex ficou algum tempo encarando a imagem da irmã, havia alguns anos desde que ele estava longe de casa, e por mais que não admitisse sentia saudades da irmã e da família que o esperava retornar para casa.

— Marie, que saudade. Apenas liguei para ver você. — Ele sorriu o que arrancou um sorriso da irmã.

— Você só me liga quando alguém vai morrer, qualquer outra opção me deixa levemente preocupada. Fico feliz em saber que você ainda não se explodiu.

— Ainda? — Mike perguntou levando a mão ao peito fingindo estar ofendido — Agradeço a consideração. Devo estar voltando daqui a alguns meses, você estará lá para me receber?

—Nós receber.— Henry um amigo antigo do irmão de Charlotte apareceu atrás de Mike. — Deixa eu falar com minha futura esposa.

— Ela é minha irmã, você nunca se casará com ela.— Alex o empurrou fazendo com que Henry saísse do alcance da câmera do computador — Você vai estar lá para nós receber?

O coração de Charlotte pesou mesmo que por um segundo, ela havia se esquecido que seus atos não atingiram apenas a ela, mas a todos que a cerca, perderia a vida, o contato com o irmão e tudo mais que a lembrasse como era estar viva.

— Se eu tiver viva irei. — Respondeu encarando o rosto do irmão.

—  Se mantenha viva então, soldado. — Alex brincou — Te amo irmã, não se esqueça.

A ligação desligou derrepente antes que jovem pudesse o responder. Ela cojitou ligar novamente, mas sabia que onde o irmão estava dificilmente ele teria chance de atender novamente.

— Olhe tudo que eu estou desistindo para você ser feliz com sua filhinha e a vagabunda da sua esposa. Eu espero que valha a pena. — Charlotte rosnou em direção a Daniel pegando a chave das algemas que estavam em suas mãos.

— Eu não estou pedindo para você desistir de nada.

— Desde o início eu falei que havia um preço alto a ser pago. Você achou o que? Que o era em dinheiro? Em bens? Claro que não! — Ela gritou retirando as algemas quebradas — Uma vida por outra, achei que você já tinha prendido a lição. Genêsis me mostrou que só haviam duas opções, o sacrifício ou o feitiço.

— Charlotte eu queria me desculpar de verdade. Eu sinto muito por tudo, por Amber, pelas coisas que falei, por tudo. Eu tenho fé em você e sempre terei.

Charlotte respirou fundo demonstrando um sorriso superficial para Daniel.

— Não preciso de suas palavras nem de suas desculpas, até porque a única pessoa que pode decidir se quer ou não morrer pela causa sou eu. — Ela caminhou até a cama se sentando — Eu agradeceria se você se sentasse para que eu pudesse lhe explicar cada detalhe desse plano mortal. E com fé em mim, amanhã a noite você já estará com sua filha nos braços. Nem que eu tenha que morrer para que isso aconteça.

Fragmentadas - A Cor Da MagiaOnde histórias criam vida. Descubra agora