Pacote especial

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A escuridão da antiga construção não favorecia uma aproximação silenciosa. Charlotte já havia tropeçando milhares de vezes antes mesmo de estar próximo de onde um dia era a sala. A falta de concentração dela se dava por algo que ela estava sentindo. Ela sabia que havia algo estranho no ar. Ela estava com uma estranha sensação de estar sendo observada.

Enquanto andava pela casa, Charlotte buscava algum foco de luz, algo que indicasse a presença de William ou de qualquer outra pessoa pronta para a matar naquele local. Ela no fundo sabia que o prazo estava se esgotando e temia pela alma de Katherine.

Ao chegar no que parecia um dia ter sido uma cozinha, Charlotte chegou a uma porta por onde feiches de luz pareciam surgir por debaixo dela.

Charlotte respirou fundo, prendendo a respiração ao abrir a porta. Não havia nada lá, a não ser uma escada que parecia dar para uma espécie de porão. Ela pôs os pés no degrau se preparando para descer, quando sentiu um empurrão em suas costas. O corpo de Charlotte batia violentamente por alguns degraus, mas sua mente ainda tentava entender o que havia acontecido.

Quando Charlotte abriu os olhos, encarou um par de sapatos pretos próximo ao seu rosto.

— Você tem muita coragem de pisar nessa cidade novamente, Charlotte. — O dono dos sapatos pretos a segurou pelo pescoço a arremessando contra a parede com força.

Charlotte atingiu a parede com violência, caindo sobre algumas madeiras que estavam no chão.

— Você deve ter muita coragem — O homem falou se aproximando de Charlotte lentamente — Ou talvez muita vontade de morrer.

A loira respirou fundo sentindo sua boca inundar com seu sangue. Ela sabia que além dos cortes visíveis, possivelmente ela tinha quebrado algumas costelas com o impacto.

— Coragem, eu acho. — Charlotte falou se apoiando no chão e erguendo seu corpo dolorido com dificuldade e encarou o homem não deixando de se surpreender com a força que William havia adquirido.

— Eu acho que você está pedindo, ou melhor, implorando por um soco neste seu rostinho, gracinha. — Comentou segurando o rosto dela com a mão.

— Vamos, de logo o soco e desconte as ótimas férias que você passou naquele inferno. — Charlotte o respondeu em tom provocativo.

— Não foram ótimas férias, lá foi chato. Você ter me condenado ao inferno foi o segundo maior erro da rua vida. — Will argumentou ainda a segurando

— O primeiro deve ter sido o fato de eu ter casado com você. — Ironizou — Ainda vivendo das esmolas que os seres mais indefesos te pagam para você os proteger de você mesmo?

William a soltou e a encarou.

— Não que isso te interesse, querida, mas eu estou trabalhando para um novo rei, um que manda aqui em Chicago.

— Trabalho? Vindo de você? — Charlotte se afastou rindo se arrependendo em seguida, pois isso fez as costelas doerem ainda mais.

— Ele consegui uma forma de negócio muito boa, aliás, a melhor inventada. Coleta as almas das pessoas em estado terminal antes que morram. Como elas não estão mortas, o céu não tem como reenvidicalas. — Will explicou — E você, o que faz na minha cidade?

Mesmo dolorida e com os pensamentos um pouco nublados, na cabeça de Charlotte as coisas começavam a fazer algum sentido. Por isso o ser havia indicado procurar William, pois além dele não conseguir manter a maldita língua na boca, ele estava trabalhando para quem estava com o que havia ido buscar em Chicago.

— Estou aqui para ver seu chefe. — Charlotte falou antes de cospir um pouco de seu sangue no chão. — Ele me chamou pessoalmente.

— Impossível ele ter mandado chamar um ser tão inútil quanto você, Charlotte.

— Eu vim reivindicar a alma de Katherine. Katherine Smith. O céu pode não a reivindicar então eu mesmo vim fazer isso. — Charlotte falou estampando um sorrisinho vitorioso.

— Não há muitas pessoas que blefariam comigo. — William falou surgindo na frente de Charlotte derrepente e segurando seu rosto pelo queixo — Estou tentando entender se você é estúpida ou muito corajosa. — Comentou.

— Pergunte a ele. Ligue para ele e pergunte. — Charlotte falou calmamente empurrando William. Em seguida cospiu mais um pouco de seu sangue no chão e acendeu um cigarro. — Está esperando o que? Um convite?

William a encarou por algum tempo antes de sacar o celular e discar o número de seu chefe. Por mais que Charlotte fosse uma excelente mentirosa, uma manipuladora quase tão boa quanto é na cama, ele sabia que havia uma alma escondida e que o chefe esperava por alguém. Alguém em especial pois ele havia o mandado para aquela casa abandonada para aguardar essa pessoa.

Ainda encarando Charlotte Ele se distanciou um pouco parando próximo a escada para ter pouco de privacidade em sua ligação.

Charlotte encarou seu reflexo no espelho pendurado na parede do porão. Seu rosto não estava em um estado tão ruim, seu olho possuía uma mancha roxa. Passou a mão de leve pela região das costelas, duas ou talvez três costelas quebradas, e com certeza completamente roxas pelo impacto contra a parede, mas em algumas horas aquilo tudo não significaria nada. Ela escutou William xingar em alemão, e isso chamou sua atenção.

— Meu chefe mandou eu pedir desculpas pela minha falta de educação. — William falou ao desligar o celular e se aproximar. — Também mandou que eu te levasse até ele, pois realmente você veio atrás da alma de Katherine. Você é o pacote especial que eu havia vindo buscar.

— Então podemos ir? — Perguntou jogando o resto do cigarro que fumava no chão o apagando com o pé e se aproximou de William perto da escada — Creio que estamos quites então? Sem mais nos agredirmos quando nos encontramos.

William pondo a mão no bolso e em seguida assoprando o pó que havia nelas em direção ao rosto de Charlotte, a jovem se chocou contra a parede antes de apagar totalmente.

— Agora sim, quites. — William falou pegando o maço de cigarros do bolso da jaqueta de Charlotte e acendendo um cigarro para ele enquanto a pegava no colo para sair daquele local.

Fragmentadas - A Cor Da MagiaOnde histórias criam vida. Descubra agora