Arnael recomendou que a loura voltasse para a sala principal para aguardar que ele se arruma-se. Em um piscar de olhos ela já havia surgido novamente na sala, confusa, com o estômago ainda revirado. Daniel a encarava esperançoso esperando alguma palavra de esperança ou tragédia absoluta.
— Você conseguiu falar com ele? — Perguntou Daniel.
— Sim. Por favor, não se surpreenda quando ele aparecer — Respondeu ao amigo.
— O mordomo do demônio é uma mulher com asas, eu estou preparado para tudo. — Daniel falou, em seguida lançou uma piscadinha de leve para a amiga.
— Ele não é um demônio, ele é um sem forma, assim como Emma. — Comentou a loura — Só peço que você não abra boca, Daniel, você sabe que apesar de sempre confiar em você, você tem o costume de agir pelo coração em vez da razão, e eu não preciso desses rompantes de egoísmos nesse momento.
— Egoísta, eu? — Daniel riu — Você arrisca toda a população da Califórnia por uma única vida, e eu que sou egoísta. — Alfinetou.
Ambos permaneceram por algum tempo em silêncio na sala encarando a pintura pendurada sobre a lareira, até que Arnael surgiu. Não parecia mais um sem forma, estava bonito, estava vestindo um terno preto e os olhos azuis brilhavam. Ele exalava um cheiro peculiar, como se cheira-se a maldade e decomposição.
— Ele é tão... — Daniel se perdeu nas palavras enquanto encarava o homem ainda distante da dupla.
— Normal ? — Charlotte perguntou em um sussurro e Daniel assentiu com a cabeça.
Arnael se aproximou e sorriu, estendendo a mão para que Daniel o cumprimentasse.
— Creio que você deve ser Daniel Smith, estou correto? — Perguntou recolhendo a mão ao ver que Daniel não o cumprimentaria.— Eu sou...
— Eu sei, você é o Demônio que roubou a alma da minha filha.— Daniel acusou, o interrompendo. Charlotte encarou Daniel irritada, tudo que ela tinha falado para ele não fazer ele fazia como uma criança fazendo pirraça.
— Demônio é um termo generalizado e ofensivo.— Arnael falou encarando Daniel — Peço que não use mais esse termo, também peço que não me interrompa mais.
Daniel recuou alguns passos até ficar atrás de Charlotte, mesmo com os anos que estiveram juntos em trabalhos perigosos, ele continuava por dentro a mesma criança medrosa que fazia xixi na cama até os doze anos, por medo do escuro.
— Agora peço que me sigam até meu escritório.— Falou dando as costas para a dupla e começando a subir as escadas. Charlotte foi a primeira a segui-lo, logo atrás Daniel a acompanhava, em silêncio, guardando a pouca coragem que ainda tinha para usar em outro momento.
— Como você sabe, esse meu ramo de trabalho e algo novo.— Arnael começou a falar enquanto caminhavam até o escritório — Os demônios são muito criativos, os sem forma, bem, não é por sua criatividade que eles são conhecidos.
Charlotte estranhou, nenhum ser de qualquer espécie falava mal de sua própria espécie, havia algo errado em Arnael, a Hunter não conseguia saber o que, mas havia e ela sentia isso. Arnael abriu a porta de madeira bem desenhada, o escritório do sem forma, era grande, pintado em dourado e vermelho, próximo a mesa com alguns milhares de papéis entulhados. O lustre de cristal pendurado no centro do cômodo, os móveis de madeira e dois sofás, ambos vermelhos, próximos a lareira dava um ar aristocrático ou de um consultório de psiquiatra.
— Eu tenho um concorrente muito específico, e gostaria muito que você desse um jeito neles. — Arnael falou assim que entrou na sala.
Charlotte e Daniel se sentaram em um sofá enquanto Arnael se sentou no outro. Uma pequena mesa de vidro manchada de algo vermelho separava-os, sob a mesa pedaços de algo com aparência líquida e um cinzeiro de cristal repousava calmamente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Fragmentadas - A Cor Da Magia
FantastikCharlotte Hunter é uma mulher com habilidades sobrenaturais e muitos segredos, para ajudar um velho amigo ela começa uma jornada pela sombria Chicago em busca de um bem precioso. Entretanto, é perseguida por segredos e mistérios de seu próprio passa...