Trio estranho para uma viagem de carro

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Charlotte se remexeu desconfortável no banco do carro antes de abrir os olhos, o cheiro de gasolina chegou em suas narinas antes mesmo do sol atingir seus olhos, isso a obrigou a fechar os olhos. Ela aproveitou o silêncio para buscar em sua memória como havia chegado até o carro, mas nada passava em sua cabeça, todos os pensamentos e memórias relacionadas ao encontro com William estavam embaralhados e um pouco confusos. A porta do motorista e a porta de trás do carro foram abertas simultaneamente.

— Quanto tempo fiquei fora do ar? — Charlotte perguntou assim que sentiu a diferença de peso no carro.

— Cerca de duas horas — Daniel respondeu revirando uma sacola que estava em suas mãos em busca de algo. — Você estava péssima, William teve que te carregar até o carro, segundo ele você apagou no meio da escada.

A loura abriu os olhos, e encarou William que estava dirigindo e Daniel que estava sentado no banco de trás, se questionou em silêncio se Daniel não lembrava quem William era ou se aquilo era culpa de uma das magias que William deve ter roubado de alguém.

— Meu herói — Charlotte falou sarcasticamente encarando William que não tirava os olhos da estrada.

— Aliás, eu trouxe isso para você — Daniel falou entregando um sanduíche para Charlotte — Preciso de você 100% para resgatar minha menina.

O vento frio entrava pela janela do passageiro, William acelerava pelas estradas fazendo com que a poeira subisse pela velocidade do carro. Charlotte pegou o sanduíche e retirou do plástico.

— Por que sempre sou eu que tenho que salvar a criança em perigo? — Perguntou enquanto mordia o sanduíche — Por acaso sou a única pessoa que conhece magia nesse universo? Já tentou a Olivia ou talvez a Emma?

— A única? Não. Talvez a única que trabalhe por cigarros e bebidas baratas e movida a uma culpa sem tamanho. — William provocou encarando Charlotte.

Daniel soltou uma risada baixa, o que fez Charlotte virar para trás para o encarar, sua cabeça havia começado a clarear e as coisas estavam ficando mais organizadas a sua frente.

— Por que mudamos de carro? — Charlotte perguntou curiosa mordendo outro pedaço do sanduíche.

— Eu nunca dirigiria aquele carro de circo — William reclamou — Nada que um pozinho mágico para alterar alguns elementos.

Charlotte revirou os olhos e continuou comendo enquanto encarava a estrada que parecia sem fim. William cantarolava alguma melodia, enquanto Daniel permanecia em silêncio no banco de trás.

— Um trio estranho para uma viagem de carro — Comentou Daniel após um longo silêncio. — Um cara com a filha em coma lutando pelo amor da esposa, uma mulher de infância problemática que possui uns dons estranhos e... — buscou encarando William — Eu não faço ideia do que é você, amigo.

— William e um mercenário, trabalha fazendo qualquer serviço a qualquer preço. Isso quando não está assaltando demonologos ou bruxos procurando magias, pó ou qualquer coisa magia — Comentou Charlotte escolhendo manter em segredo o fato de ainda ser casada com ele. Já que Daniel parecia não lembra do fato — E eu não tive uma infância totalmente problemática — Charlotte argumentou.

— Eu definitivamente não acredito em você. — Daniel falou arqueando uma sobrancelha enquanto Charlotte se virou para o encarar — Então me conta sua primeira memória feliz da infância.

— Eu em um balanço que tinha no parque em frente a minha casa. As vezes se eu fechar os olhos ainda consigo me ver naquela manhã. — Charlotte falou fechando os olhos como se buscasse na memória aquela cena.

Daniel sorriu em resposta. Nunca havia escutado Charlotte falar daquele jeito sobre nada. Nada que não fosse Amber pelo menos.

— Eu acho que falta pedaços nessa história — William falou interrompendo o momento agradável fazendo Charlotte o encarar irritada.

— Eu pulei apenas os desnecessários. — Charlotte rebateu — Como eu ter fugido de casa para ir brincar no balanço, e que eu ainda estava brincando no balanço quando o fogo da casa foi apagado e do mesmo balanço eu assisti meu pai sair de dentro da casa direto para o hospital.

— Charlotte! — Daniel exclamou surpreso — Eu sinceramente não consigo entender você.

— Cara, tente entender que infâncias problemática fazem pessoas com pouco amor a vida mas com iniciativa para se jogar de cabeça em qualquer situação suicida. — Comentou William tirando o olhar da estrada e encarando Daniel — Infâncias traumáticas também fazem ótimos soldados como o irmão da Char.

Daniel respirou fundo e passou a mão no rosto pensativo, a explicação de William era razoável, mas como dizia seu terapeuta: Pessoas com problemas sempre arranjam desculpas para seus atos.

— Eu se fosse vocês dois tentaria terapia. — Daniel falou tranquilamente — Eu comecei a fazer ainda no útero.

— Eu já tentei e posso dizer que isso é furada. — Argumentou o Will fazendo uma curva fechada, encarando Daniel ser jogado de um lado para o outro no banco de trás — A terapeuta me recomendou me desculpar com minha mãe, mas Las Vegas é como o inferno, sempre lotada demais para conseguir encontrar alguém.

— E no meu caso meu pai está morto demais para eu me desculpar pelo que ele mesmo me fez. — Charlotte falou abaixando quebra-sol e encarando seu reflexo no pequeno espelho.

Olhou fixamente para seu reflexo, o silêncio e a tensão era praticamente palpável, os únicos barulho dentro do carro era o da respiração do trio, a loira abriu o porta-luvas a procura da única coisa que poderia tirar a sensação que a pertubava. Mas ao invés dos seus cigarros, não encontrou nada além de alguns mapas de Los Angeles.

William riu chamando a atenção da loira que o encarou irritada, ele melhor que ninguém sabia que não deveria ter feito isso com ela.

— Não precisa tentar me matar, Char, prometo que quando voltar eles estaram no lugar. — William falou parando o carro bruscamente. — Chegamos. Vocês devem entrar pela frente. Irei pelos fundos para acertar meu pagamento.

— Me promete que nunca mais vamos nos encontrar. Porque eu te juro que se nos cruzarmos novamente você irá beijar o chão. — Charlotte perguntou torcendo para que nunca mais encontrase com William.

— Eu também agradeceria profundamente se você nunca mais me caçasse ou que nunca mais nos encontrássemos — William falou se inclinando até ficar próximo a orelha de Charlotte — Mas algo me diz que ainda vamos nos encontrar e muito. — Falou quase em um sussurro fazendo Charlotte se arrepiar.

Daniel foi o primeiro a sair do carro, ignorando a tensão nos bancos da frente. Saiu e foi até a porta de Charlotte à abrindo para ela.

— Venha, vou te ajudar a sair do carro. — Daniel falou estendendo a mão para que Charlotte a pegasse.

Charlotte encarou Daniel e revirou os olhos soltando uma risada baixa, por mais que o gesto fosse simpático era desnecessário.

— Ainda não estou morta amigo. — Charlotte jogou as pernas para fora do carro e se levantou ficando de pé ao lado de Daniel. Por mais que tivesse sentido dor ao ficar de pé nunca assumiria.

Charlotte olhou ao redor, eles estavam de frente para uma mansão, as janelas brancas se destacavam em meio a pintura escura do casarão, a porta enorme de madeira e as gárgulas no telhado davam um ar de filme de terror ao local. A porta da casa foi aberta, e uma figura nas sombras fez sinal chamando Charlotte e Daniel. Eles se entreolharam antes de seguir até a porta.

— Eu não queria assumir, mas os pelos da minha nuca estão arrepiados desde o momento que descemos daquele avião. — Comentou Daniel.

— Estamos em Chicago, tudo que há de mal está por aqui. — Charlotte sussurrou enquanto encaravam a mulher de vestido de época sorrindo com a porta aberta.

Fragmentadas - A Cor Da MagiaOnde histórias criam vida. Descubra agora