Fragmentadas - A Cor Da Magia

Velhos Amigos

O apartamento estava repleto de garrafas vazias pelo chão e cinzas de cigarro. Não que Charlotte se importasse com isso, mas Daniel parecia claramente incomodado, tão incomodado que isso o levou a chamar ela para que conversasem no Hellptons, um bar não muito longe do apartamento, mas com um ambiente mais acolhedor. Um rápido e curto trajeto, feito pelos dois velhos amigos em silêncio.

Assim que abriram a porta, foram atingidos pelo cheiro chá inglês, menta e cerveja barata. Estranhamente o aroma no ar deixava o lugar ainda mais familiar para Charlotte e Daniel. O Hellptons era como uma segunda casa para Charlotte desde pequena.

Assim que passaram da porta, Daniel se focou em procurar uma mesa, enquanto Charlotte se aproximou do balcão para fazer os pedidos.

— Como vai meu casal favorito? — Charlotte perguntou ao se encostar no balcão.

Atrás dele uma mulher loira, segurava um copo de costas enquanto um homem de cabelos grisalhos a fazia rir de algo. Mas ao ouvi a voz de Charlotte a mulher se virou rapidamente assustada.

— Jesus ! — Exclamou Laura, colocando o copo sobre o balcão e se aproximando de Charlotte — Olhe Jacob — Chamou o marido para que se aproximasse — Está não é a Charlotte Hunter? Pode não parecer mas acho que há uma pessoa por baixo dessas manchas roxas.

— Por onde andou menina? Teve um encontro romântico com a traseira de um caminhão? — Perguntou Jacob rindo fazendo com que Charlotte desse uma risada do comentário.

— Acredite em mim, o adversário ficou em estado pior. — Comentou lembrando da pequena briga que teve com sua sombra.

Laura e Jacob Hellpton eram os donos do bar, um casal simpático casados a mais de quarenta anos e velhos amigos de Charlotte.

— Por onde andou? Faz anos que não aparece, achei que tinha nos abandonado. — Laura reclamou dramaticamente.

— Você sabe. Eu ando por aqui e por ali, faço algo aqui e algo ali. Sempre estou por todo lado. — Charlotte respondeu encarando Laura e Jacob.

— Olhe o pobre Daniel.— Laura comentou tirando o foco de Charlotte e encarando Daniel que estava sentado na mesa sozinho encarando a rua pela janela — Ele parece tão triste. Mas continua um pedaço de mal caminho.

— Pare de babar, Laura. — Jacob reclamou com um semblante levemente irritado, enquanto enchia duas canecas de cerveja.

— A primeira rodada e por conta da casa, Hunter, para garantir que você volte mais vezes. — Laura falou depois de dar um beijo no marido.

Charlotte sorriu para o casal, pegou os copos, os levando até a mesa. Colocou um copo na frente do amigo e se sentando em seguida com o seu em mãos.

— Você está realmente melhor que da última vez que te vi. — Comentou Daniel quebrando o silêncio.

— Obrigada pelo elogio. — Charlotte respondeu de forma irônica — Quantos anos fazem desde a última visita?

— Desde que você pegou a irmã da Jane no dia do casamento dela. — Daniel respondeu.

— Eu acho que ela encarou bem. — Charlotte respondeu encarando o amigo.

Daniel riu e por mais que Charlotte não quisesse admitir adorava a risada dele e sinta falta do amigo.

— Como vai o feliz casal? — Charlotte perguntou enquanto enfiava a mão nos bolsos da calça jeans em busca do seu maço de cigarro.

— Péssimos. — Daniel respondeu — Estamos separados a quase um ano.

— Com quem ela te traiu agora, idiota? — Charlotte perguntou abrindo o maço e colocando um cigarro na boca.

— Ninguém. — Daniel se defendeu — Se fosse tão simples como uma traição já teríamos resolvido. Éramos felizes, mas...

— O que está havendo? — Charlotte perguntou apagando seu cigarro.

— Nos últimos anos, nós andamos bem, realmente bem...

Charlotte acendeu outro cigarro, soltando a fumaça lentamente. Ela respirou fundo, sentia que havia algo no ar, algo estranho, algo que pela segunda vez naquele dia, não sabia explicar o que era.

— Tenho certeza que não veio até mim pedir conselhos matrimoniais, até porque se levar em conta isso, nós dois estamos mal nesse quesito. — Charlotte falou virando seu copo de cerveja em um único gole — Também sei que não eram saudades minhas, se não teria me procurado antes.

— Talvez eu tenha sentido saudade. Droga, Charlotte, eu te devo a minha vida. Você se lembra de como era quando éramos crianças.— Daniel sorriu para a amiga esperando que ela retribuisse o gesto.

Charlotte deu a última tragada em seu cigarro e o apagou.

— Daniel, o que você quer de mim?

— Desde que você surtou e sumiu, depois reapareceu e sumiu, usei Jane como um porto seguro. Depois quando Katherine nasceu, ela foi meu porto Seguro. — Daniel falou sentindo um peso no peito.

— Quantos anos ela já tem? Dois? Três?

— Ela tem oito anos, Charlotte! — Daniel a respondeu em tom acusatório — Eu mandei foto do último aniversário dela.

— Perdi meu celular em um caso no México, até comprei outro, mas nunca recuperei os dados do antigo.— A amiga respondeu dando de ombros.

— Katherine é a única na minha vida. Ela não está bem, por isso vim até você. Eu vim até aqui para lhe pedir um favor.