Prenúncio do fim dos tempos.

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Charlotte respirou fundo na varanda do quarto, a noite parecia silenciosa, silenciosa como um cemitério ou como o céu deve ser.

Ela se permitiu fechar os olhos e sentir o vento batendo contra seu rosto, o frio do vento que chicoteava contra seu rosto não era nada perto da sensação que Charlotte sentia naquele momento. Ela sabia que havia algo errado, nunca nada é assim calmo, não para ela. Algum inimigo deveria estar por perto, algo nas sombras pronto para a atacar, algum vilão com olhos coloridos, membros recortados ou chifres.

Charlotte se permitiu levantar a cabeça em direção ao céu, ainda de olhos fechados respirou fundo. Se sentia invencível, solitária e livre. Sentimentos esses que não duraram mais do que até ela sentir o frio do cano de uma arma contra sua cabeça.

— Você vai me matar aqui? — Perguntou abrindo os olhos e encarando o céu estrelado — E vai me matar com uma arma, sério? Esqueceu como se usa as mãos?

— Eu não quero lhe matar realmente, você sabe que eu gosto de você. — Comentou retirando a arma de trás da cabeça da loura e colocando-a de volta no coldre em seu ombro.

— Então o que faz aqui? — Charlotte perguntou.

O medalhão do homem brilhou contra a luz da lua, o medalhão que ela havia encantado para que ele nunca sofresse ferimentos e sempre tivesse mais força que seu oponente. O rosto do homem trazia uma mancha roxa ao redor dos belos olhos azuis e um pequeno corte próximo a boca. Ele caminhou até a sacada, sentando-se nela enquanto se equilibrava para não cair.

—Aceita um? — Perguntou oferecendo um cigarro de seu maço para Charlotte.

— Vou perguntar de novo. O que você faz aqui? —Charlotte perguntou pegando o maço do rapaz e retirando um cigarro — Espero que a resposta seja boa o suficiente para que eu não empurre você dessa sacada.

— Você sabe que isto é um sonho, certo?— Ele perguntou entregando o isqueiro para a loura. — Que se eu cair nada vai acontecer?

— Sei. — Comentou a Loura rindo — Nunca pararia para admirar as estrelas se não fosse. Lembro que nos fazíamos isso juntos.

— Juntos e depois com Amber.— Comentou o homem — Sinto falta dela.

— Eu não queria ter lhe traído com Anthony — Assumiu a Loura —Mas você estava sempre tão ocupado com o trabalho e com a cabeça enfiada no meio das pernas de Jane Smith e depois nas da Cherly Geller que eu não pude evitar.

— Eu sei que a culpa é minha.— William assumiu — Mas um padre Char? Um padre que sabia fez um pacto com um demônio?

— Quando eu conheci Anthony, ainda quando ainda morava no internato catolico, ele era lindo, inteligente, simpático e gentil. — A loura apagou o cigarro contra a grade enquanto falava — Quando ele entrou pela porta do mercado naquele dia, ele estava a mesma coisa, com a mesma aparência e a mesma simpátia da época que estudavamos juntos, e naquele momento me pareceu uma boa ideia.

Charlotte sentiu sua pele se arrepiar, o vestido azul claro que usava no sonho era o mesmo que havia usado quando conheceu William.

— Então você apareceu grávida.— William falou baixo — Assim como a Jane e a Cherly.

— As vadias apareceram primeiro.— Acusou Charlotte— Não foi algo planejado, não era como se eu quisesse ter filho com Anthony, eu queria ter um filho com você, mas nos juntos não dávamos certo.

— Lembro que uma vez quando eu cheguei em casa, você estava pondo a mesa equilibrando um copo sobre a barriga e rindo sozinha. — Comentou — Naquele momento eu soube que por mais que o bebê não fosse meu, eu criaria e nunca a abandonaria.

Fragmentadas - A Cor Da MagiaOnde histórias criam vida. Descubra agora