CAPÍTULO 4
Dez anos atrásMeu peito doía a cada puxada de ar. Eu engolia seco tentando conter minhas lágrimas em meus olhos, meu estômago brincava de cambalhota dentro de mim e minhas mãos tremiam.
Haviam horas que eu estava em minha cama, me revirado por ela tentando ter pelo menos, ter uma hora de sono, estava agonizando de tanto chorar, segurando meus joelhos deitado. Eu não sabia como eu havia parado no hospital que Taehyung trabalhava, muito menos o porquê de eu estar vendo Taehyung vomitar na chuva após sair correndo de um quarto agitado.
O médico estava em minha frente, mexendo sua boca como se estivesse falando comigo. Mas eu não escutava, como se meus ouvidos estivessem se recusando a escutar qualquer coisa, a não ser, as vozes da minha própria mente.
As vozes estavam cada vez mais altas, cada vez mais repetitivas, impedindo-me de prestar atenção em qualquer movimento de Taehyung. Ele havia me deixado sozinho em um quarto comum e tinha se trancado no banheiro, provavelmente para trocar suas roupas encharcadas.
Estava sendo um desafio encarar minhas poucas unhas, sem querer levá-las à boca pelas minhas mãos trêmulas. O médico continuava mudo em minha cabeça, mas pelo seus preparativos, ele iria me tocar.
E meus olhos se fecham.
- EU TIVE UM FILHO VIADO QUE AINDA MATOU A MÃE!
A frase martela novamente em minha cabeça mais uma vez nessa noite e eu dizia para mim mesmo que aquilo não teria como voltar a acontecer, ele não poderia mais tocar um dedo em mim.
Diferentemente do outro toque que me fazia formigar e sua voz me fazia quase flutuar.
- VOCÊ MATOU ELA!
Eu havia guardado todo o meu caos por mais de 20 anos, sem me abrir nem para o psicólogo que eu havia pago para mim mesmo, anos atrás. Então eu finalmente vomito todo o monstro preso em minha garganta, libertando meu coração da dor unicamente minha.
Tento me concentrar nas mãos delicadas que acariciavam minhas costas enquanto eu sabia que estava chorando nos braços de Taehyung, mesmo imaginando, minha mãe, dizendo que ficaria tudo bem quando Minjun chegar em casa. Comendo cereal duro e borrachudo. Jeon Jungkook, de dez anos, sentado na cadeira tendo seus últimos momentos de paz antes das sete da noite.
E toda aquela rotina começa.
Minjun entra pela porta, a batendo com força, largando seu casaco velho e fedido no braço do sofá andando para perto de mim com o indicador levantado.
- O que você pensa que tá fazendo moleque?
- Comendo pai. - Jeon mais novo fala trincando o maxilar fazendo força pra que não doesse mais do que a mão do mais velho entrando em contato com seu rosto.
- EU JÁ TE FALEI! SE VOCÊ QUISER COMER TRABALHA E COMPRA SUA COMIDA! - Minjun gritava se aproximando do rosto da criança, com suas bochechas vermelhas pelo frio e a bebida que havia consumido em um bar qualquer.
- Mas pai...
- NÃO ME CHAMA DE PAI PORRA! - Um soco é distribuído na mesa já bamba, fazendo o cereal com o pouco leite que tinha, cair sobre o colo do mais novo. -VOCÊ MATOU ELA!
O menino Jeon continuava de cabeça abaixada, mordendo seus lábios, sentindo as lágrimas silenciosas caírem pelo seu rosto. Meus braços sobem para me proteger dos golpes que Minjun dava enquanto gritava com o menino de 10 anos encolhido na cama agonizando de dor.
Sabendo que sua única família que restava era seu próprio pai, ele tentava de tudo para se explicar a Namjoon e a diretora o porquê dos hematomas, inventando qualquer desculpa para que eles não chamassem o conselho tutelar para investigar a casa do menino.
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FLUTUA-ME ˒ kth + jjk
AcciónTaehyung é aquele tipo de pessoa que trabalha, estuda, visita a mãe e frequenta um único bar com sua única amiga, vivendo uma vida, quase, parada. O contrário de Jeon Jungkook. Existia um estereótipo em seu local de trabalho a ser seguido fielmente...