passado

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CAPÍTULO 9
Passado

Família é um símbolo de união. Pessoas que contém o mesmo sangue correndo pelas veias. Amor.

Infelizmente, quando meu pai morreu, chegamos a ficar sem chão. Se deitando em sua cama após receber a notícia, minha mãe ficou dias ali, sem piscar e olhando pro absoluto nada. Mamãe tinha crises, chorava e gritava comigo por nenhum motivo, apenas para descontar sua agonia de ter perdido o homem que amava. Ele era o amor da sua vida, sua alma perdida no mundo. Eram inseparáveis, isso eu podia afirmar.

Lembro de ver eles depois de me botar na cama, sentados na mesa de jantar com suas taças de vinho, rindo baixo pra não me acordar. Mal sabiam que eu estava lá, vendo a felicidade deles até cansar, voltando quietinho pra cama e fechando os olhos pensando neles.

Era restaurador ver o amor deles.

Sonhei por muito tempo de minha infância em encontrar alguém assim, uma mulher que pudesse me deixar amar-la, ter filhos e viver imensamente feliz.

Mal sabia que aos quinze anos, não me sentia bem em pensar que beijaria uma menina, não sentia atração alguma delas. Não queria beijar, não queria namorar e muito menos me envolver. Não sentia vontade.

Descobrindo, enfim, minha sexualidade.

Quando um amigo me desafiou a beijar o menino que estava ao meu lado, na verdade e desafio.

Ele era mais velho e, consequentemente, sabia que tinha muita mais coisa que eu. Sem um pingo de dúvida, posso dizer sem sombra de dúvidas que ele me libertou.

- Você já beijou algum menino? - eu fechava a porta do quarto, vendo ele sentar na ponta da cama, me vendo assentir. - Se você não quiser, podemos ficar conversando...

Timidamente, coloquei uma de suas pernas dobradas, no meio das minhas, ficando acima de seu rosto. Meus olhos focaram no seu, que pedia por um beijo meu com sua boca entreaberta. Segurando minha cintura fina, aproximando meu colo do seu.

Ali, eu não era mais o mesmo.

Descobri o meu verdadeiro eu.

Era legal ser diferente na roda de amigos, o gay. Mas fora dela, era preocupante e agonizante. Pessoas paravam de falar comigo quando o boato chegava em seus ouvidos.

Não demorou muito pra que eu me assumisse a meu pai aos dezesseis anos, me dando todo o apoio que eu precisava e aquilo, me fez ficar mais feliz do que o normal.

Igualmente a ele, quando descobrimos que eu havia passado na faculdade de medicina nove anos atrás.

- FILHO? VOCÊ PASSOU! - sua mão me apertava enquanto meu corpo estava paralisado encarando o "aprovado" na tela do computador.

- pai?

- VOCÊ PASSOU MEU FILHO! VOCÊ PASSOU! - ele me balançava, chorando e me agarrando pelos ombros me levantando dali.

Ele era atencioso, sempre que me via estudar por horas sem ao menos parar para comer, me levava algo, me distraia por poucos minutos mas o suficiente pra me revigorar. Massageando minhas costas sempre que passava por mim sentado na mesa da sala, rodeado por apostilas e livros.

Todo carinho era essencial, necessário. E foi um baque não ter aquilo após sua morte. Me deixando a dúvida;

Trancar ou não a faculdade? Trocar de curso?

FLUTUA-ME  ˒ kth + jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora