inferno gélido

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CAPÍTULO 1
Inferno gélido

- Está preparado?

Era uma pergunta frequente na minha rotina, e a resposta era sempre a mesma;

- Não. - olho para a figura de Mina, a única enfermeira legal e amiga no Kangbuk, hospital onde trabalhávamos há um ano e meio.

- Vamos Tae! Precisamos entrar. - a mulher ajeitou sua bolsa carregada nos ombros e passou a mão em meu braço. - Vamos juntos, ok? - passo a última alça da mochila preta surrada no meu ombro e assinto com a cabeça, começando a andar.

Todo dia era uma luta naquele hospital, seja por perdas de pacientes, pessoas mal educadas ou até mesmo impasses que tinha com o resto da equipe.

Não é porque os médicos sorriem para os pacientes, pensam juntos em uma solução e são simpáticos com o resto da comissão do hospital, significa que no vestiário eles se abraçam e trocam beijos. Muito pelo contrário, alguns deles não trocavam uma palavra, muitas das vezes nem um bom dia entrava em meus ouvidos.

Atravessando a pequena entrada para carros e ambulâncias que tinha na frente do hospital, adentramos o que eu chamo de...

Inferno gélido.

Pode perguntar a qualquer pessoa se ela sentia uma má sensação com o ar dos hospitais, que ela iria responder que sim.

E isso não é diferente para médicos, mesmo aqueles que amavam a medicina, era impossível negar que parecia ter Lúcifer sussurrando em seu lado só de suspirar dentro de um hospital.

E toda vez que o bipe apita, é uma chamada para descida do inferno. Seja para atender um paciente já localizado no quarto ou para receber um trauma na emergência, todo som que saia daquele aparelhinho fazia qualquer um arrepiar ou querer tacá-lo na parede até vê-lo despedaçado.

É extremamente irritante ouvir aquele barulho na metade de um cochilo bom, já que os médicos não dormem, eles apenas descansam os olhos.

Então, Mina e eu chamamos o aparelho de apito do demônio, para os íntimos Lulu, como eu e a enfermeira somos.

Como nós não trabalhamos no Kangbuk, nós éramos crucificados todos os dias naquele lugar.

Nunca pensei que cursar medicina era as mil maravilhas, muito pelo contrário, o que só piorou depois da morte do meu progenitor, quem me fez fazer essa escolha de carreira.

Meu pai sonhava em me ver levantando o diploma da faculdade concluída, o que não conseguiu por apenas um mês, ele foi levado para sentar ao lado de seu maior e melhor amigo, lá nos céus.

Mas graças a ele que eu tenho o emprego o qual ele tanto sonhou, em sua época não conseguiu realizar por si por conta do pouco dinheiro que a família tinha, então eu tenho certeza que de lá de cima ele está sorrindo com todas as minhas escolhas.

Finalmente, quando a porta automática abre e minha amiga me puxa pra dentro, um arrepio em minha espinha me incomoda.

- Tenha um bom dia, vá se trocar! - a baixinha mascarada tira o pano de sua boca, ficando na ponta dos pés para me dar um beijo na bochecha, virando-me e dando um tapa leve em minha bunda.

- Bom dia. - sussurro baixo olhando pra figura feliz e pulante que estava a poucos metros de mim, me dando um tchau com uma das mãos.

Infelizmente, vou ao vestiário enfiando minha mochila de qualquer jeito nos armários metalizados que disponibilizaram a nós no início de nossa residência no hospital, pegando somente o meu uniforme diário e confortável.

FLUTUA-ME  ˒ kth + jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora