deuses

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CAPÍTULO 5
Deuses

As capelas dos hospitais quase nunca são usadas. Alguns acompanhantes católicos ou de sua respectiva religião que frequentavam ali, rezando por seus familiares, chorando ajoelhados pedindo pra que tudo ficasse bem.

Eu entrei ali apenas uma única vez, Mina havia perdido uma avó e como promessa feita, ela rezou um terço para a falecida. Fiquei lá sentado com bunda na madeira por trinta minutos, vendo a enfermeira de cabeça baixa, sussurrando alguma oração com um terço azul claro, passando bolinha por bolinha.

Por pouco tempo que eu fiquei ali, observei cada detalhe, como um bom residente, olhando todas as figuras divinas expostas ali. Com certeza, os daquela época eram muito rígidos, algumas vezes até loucos e insanos. Queimando mulheres na fogueira, prenderem quem se opunha ao pensamento geral.

Mina nunca foi muito religiosa, a única vez que eu a vi rezando foi por sua avó falecida. Ela alegava que Deus não a ajudou quando sofreu abusos e violência do pai, que era pastor da igreja local, já eu me considerava ateu. Protegendo quem chegava no hospital, tentando fazer de tudo pra que aquela vida continuasse a seguir seu caminho.

Nós médicos somos como deuses para o olhar de alguns.

Minha avó me levava na missa dos domingos às vezes e eu já era um bom ouvinte e observador, escutava tudo enquanto desenhava em uma agenda velha que a mulher me dava pra me distrair. Uma agenda cinza cintilante com verde menta que junto a ela, um marcador de fita cinza preso em si.

Eu era insistente, sempre que não via a agenda na bolsa da vovó, corria pela casa tentando achar. Não conseguia prestar atenção naquele bando de pessoas louvando a seu Deus pedindo misericórdia pelos pecados que cometiam e que sabia que iriam cometer novamente ao sair dos portões da igreja.

Mina não era muito diferente, ao sair da porta de madeira do final do hospital, começou a cometer seus pecados novamente.

- Porra agora meu cú tá doendo, banquinho ruim!

Eram meio dia no Kangbuk, já tínhamos almoçado quando Mina recebeu a ligação de sua mãe falando sobre a morte, ela não se espantou muito com a notícia, sabia que o estado de sua avó era grave e não queria insistir para que não causasse mais dor na idosa.

Depois da sua curta oração, voltamos ao nosso quartinho da ala de fisioterapia. Precisava falar sobre a ida de Jeon a minha casa, sabia disso! Mas também sabia que Mina iria gritar tanto depois de soube.

- VOCÊ TEM O QUE NA CABEÇA TAEHYUNG? QUASE CINCO ANOS DE FACULDADE DE MEDICINA PRA VOCÊ ARRISCAR SUA VIDA ASSIM? - Mina andava de um lado pro outro enquanto eu, agradeceria se não ficasse surdo.

- Mina eu sei tá bom? Mas ele é legal, está destruído em minha cama.

- ELE TÁ NA SUA CAMA? VOCÊS TRANSARAM?

- Não! Tá maluca? Ele chorou na minha perna até dormir! E eu fiquei acordado a porra da noite inteira vendo se ele tava bem...

- SE VOCÊ NÃO FOSSE TÃO BURRO DE LEVAR UM DESCONHECIDO PRA CASA EU ATÉ FALARIA QUE ISSO FOI FOFO MAS VOCÊ É TÃO IDIOTA TAEHYUNG!

- Ele chorou até dormir Mina, falando o quão o pai dele era idiota de colocar a culpa da morte da própria mãe no garoto...

- ELE MATOU A MÃE?

- Não! Espero que não!

- E VOCÊ LEVOU ELE PRA CASA? - Sua postura estava tensa, sabia que era preocupante mas eu não tinha o que fazer.

- Ele estava com dor caralho!

- Você vai chamar ele pra sair!

- OI? - Eu junto minhas sobrancelhas com a resposta de Mina, não chamaria um paciente pra sair nem fodendo.

FLUTUA-ME  ˒ kth + jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora