- Seu monstro.
- Assassino.
- Seu covarde.
- Assassino de criança.
- Seu assassino.
Vozes enfurecidas enchiam a sala do tribunal, abafando o testemunho do homem sentado na cadeira esperando sua sentença, mesmo depois de tudo ele ainda não era capaz de compreender completamente o que tinha acontecido, afinal ele não estava lá, não tinha visto acontecer o que todos naquela sala diziam que ele tinha feito.
Para a minha infelicidade eu estava sozinho, eu era diferente do que eles diziam, eu era outro. Corpos foram encontrados na floresta e eu morava perto da floresta. Eu era um cara solitário, eu não tinha amigos.
Eu estava rodeado por famílias revoltadas, formando meio círculo em torno de mim, me vigiando como se estivessem ali para me impedir de sair da mesa antes do meu julgamento, não que eu pudesse fugir, afinal eles tinham arrancado as minhas pernas para me ensinar uma lição.
- Você não pode fugir dos seus pecados.
Eles não deixaram passar muito tempo para me ensinar isso. Quando os caçadores encontraram os corpos ensanguentados, desmembrados e mutilados, um sacrifício aparentemente ritualistico, toda atenção e suspeita se voltou para mim, eu mal falava sua língua, eu não acreditava em seus deuses, eu tinha vindo de outro lugar, outras terras, provavelmente eu estava fugindo de alguma depravação que eu tinha cometido antes.
Eu me movi desconfortável quando o outro homem se levantou e tomou a palavra dentro da sala, dois dos meus acusadores colocaram as mãos em meus ombros para me impedir de levantar e golpear o homem, não que eu pudesse lutar contra eles, afinal, eles tinham arrancado meus braços para me ensinar uma outra lição.
- Você não pode retirar seus pecados.
Raiva e vergonha queimaram minhas bochechas enquanto ele descrevia livros estranhos que ele tinha me visto lendo, não eram livros normais, ele disse, eram provavelmente símbolos demoníacos, provavelmente os mesmos demônios que eu tinha sacrificado aquelas crianças.
Eu queria gritar, replicar, dizer para todos naquela sala que aqueles símbolos eram meramente a língua que eu aprendi desde criança, esse livro era uma das poucas posses que eu tinha da minha infância, mas eu não podia falar, eles tinham arrancado a minha língua para me ensinar uma terceira lição.
- A mentira não te salvará dos seus pecados.
Durante todas essas lições eles me lembravam que estavam apenas fazendo comigo o que eu tinha feito com seus filhos, então, eu ouvi as portas do tribunal se abrirem, murmúrios estouraram entre a multidão quando um homem entrou, eu virei e olhei para ele, manchas de sangue em sua camisa, ele estava com um grupo que tinha saído para ver se eles poderiam encontrar mais crianças desaparecidas da vila e eles haviam encontrado, em uma cabana no meio da floresta, quilômetros mata adentro, havia um homem lá quando eles chegaram, um homem igual eles e ele havia confessado tudo.
Com horror a multidão se virou e olhou para mim e depois de uma pausa o juiz falou suavemente:
- Inocente.
O alívio e a felicidade transbordaram em meu rosto. Eu chorava, mas eu não tinha braços para enxugar minhas lágrimas, eu queria levantar, mas eu não tinha pernas para sustentar um homem livre e eu não tinha língua para expressar o meu alívio e agora eles não poderiam recuperar seus pecados.
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Contos De Terror 1° EDIÇÃO
HorrorContos, historias e tudo que há de pior nesse mundo... Durma bem crianças...