54 - Vamos decidir no Cara ou Coroa

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Encontrei-a perto do meu carro enquanto saía do meu prédio. Não sei o que me motivou a pegá-la. Quantas incontáveis moedas já havia encontrado na vida enquanto andava por aí? Dúzias? Centenas?

Ainda assim, fui atraído para ela.

Aquela moeda gasta, suja e velha.

Quando me sentei em minha mesa do trabalho, comecei a tirar as coisas dos bolsos. Celular. Carteira. Chaves. Moeda.

Phill, um dos meus colegas de trabalho, entrou em meu escritório. Em suas mãos, havia dois sanduíches da nossa padaria preferida.

"Hey, Steve. Eles só tinham bacon suficiente para fazer um sanduíche. O outro é de linguiça. Sei que nós dois preferimos o de bacon, então... Queda de braço para decidir?", ele riu.

Olhei para a moeda. O rosto do presidente Lincoln, com tons de verde, me encarava.

"Vamos decidir no Cara ou Coroa", falei. "O vencedor fica com o de bacon".

Phill assentiu com a cabeça enquanto eu jogava a moeda. Enquanto eu a pegava no ar, falei cara.

Peguei com a palma na mão e a coloquei em cima do dorso da outra.

Cara!

Devorei meu sanduíche e continuei com meu dia.

Cerca de uma hora depois, percebi que ia ser um longo dia. Não havia novos pedidos, nenhum e-mail... E todo e-mail que eu mandava, voltava para minha caixa de mensagem com uma resposta de "não estamos disponíveis no momento".

Obviamente, era um dia antes de um feriado. Todos deviam estar aproveitando suas vidas. Enquanto isso, eu estava preso no escritório, fitando meu Outlook.

Por volta do meio dia, meu chefe entrou, com Phill atrás dele.

"Ok, as coisas andam meio devagar aqui hoje, e estamos dispensando o pessoal. Preciso pelo menos de um de vocês para ficar aqui caso a equipe precise de ajuda", meu chefe falou.

"Decidam entre vocês quem sairá mais cedo".

Enquanto meu chefe saía da sala, olhei para Phill.

"Bem, você ficou com o sanduíche de bacon, então...", falou.

"Nem fodendo", falei. "Você saiu mais cedo sexta passada... E na outra sexta também".

"Ugh, porra, cara. Eu tenho... planos... para essa tarde", falou, constrangido.
Olhei para a moeda. Juro por tudo que Lincoln piscou para mim.

"Vamos decidir no Cara ou Coroa?", perguntei.

Não demorou muito para eu já estar saindo pela porta do escritório. Pude sentir Phill me fuzilando com os olhos. Desculpa, velho amigo. Mas hoje é meu dia. Coroa é da boa!
Olhei para a moeda e sorri.

Fui direto para o mercado para comprar umas flores para minha esposa. Queria surpreendê-la... Talvez levá-la para jantar.

Depois do mercado, fui ao posto de gasolina abastecer. Enquanto pagava, olhei um bilhete de loteria no caixa. Porra, por que não? Hoje estava sendo um ótimo dia para mim.

"Qual eu deveria escolher?", me perguntei. Peguei a moeda do bolso. Cara, o da esquerda, e Coroa, o da direita. Joguei a moeda.

Coroa, então o da direita.

Risquei o bilhete com minhas chaves enquanto ainda estava no caixa.

Um $250.

Dois $250.

TRÊS!

Tinha acabado de ganhar 250 dólares!
Por sorte, o caixa tinha o suficiente para me pagar naquela mesma hora.

Mais feliz do que nunca, fui para o carro com o dinheiro em mãos, e depois para casa.

Cheguei no meu prédio e fui até a porta do meu apartamento. Estava com uma fresta aberta. Meu coração caiu do peito enquanto a abria lentamente.

Pude ouvir o chuveiro ligado no banheiro do nosso quarto. Minha esposa gritou lá de dentro.

"Phill? Estou só tomando um banho rápido. Se me mandou uma mensagem, foi mal, meu celular quebrou hoje pela manhã", falou, em alto e bom tom.

Senti minhas pernas bambas.
Dei a volta e fechei a porta lentamente. Desci as escadas e voltei para o carro.

Não me lembro de dirigir. Não me lembro de ter entrado na loja também. Só me lembro de perceber que estava na seção de caça do mercado.

"Como posso ajudá-lo?", um funcionário me perguntou enquanto eu estava parado atrás do balcão de vidro, que continha armas e facas de caça.

"Arma ou faca?", perguntou.

Senti minha mão esquerda deslizando para o bolso para pegar o bilhete de loteria. A mão esquerda deslizou para pegar a moeda.

"Vou decidir no Cara ou Coroa", falei.
Eu estava de pé na frente da porta do meu apartamento de novo. Dessa vez, estava fechada. Antes que eu pudesse pegar as chaves do bolso, minha esposa escancarou-a, lágrimas em seu rosto.

"Steve, m-meu Deus, eu não queria que você descobrisse desse jeito", falou chorando.

Entrei. Vi Phill sentado em uma poltrona na sala de estar.
Minha poltrona.

"Olha, Steve... Quero que você saiba que... Quero que saiba que isso não tem nada a ver com você ," ela falou entre soluços.

Andei até Phill. Ele se levantou, desafiante.

"Olha, cara...", começou. "Eu...",
Antes de finalizar a frase, cravei a faca fundo em seu abdômen. Me olhou nos olhos enquanto seu corpo começava a fraquejar. De longe, podia ouvir minha esposa gritando.

"Steve, meu Deus! O que você fez?!", gritava.

Me virei para ela, a faca ensanguentada ainda em punho. Ela estava no chão, agarrada a uma das cadeiras da mesa de jantar.

"Steve, pelo amor de Deus, não faça isso", falou. "Por favor! Por favor, não me mate!",

Parei a alguns metros dela e coloquei a mão dentro do bolso para pegar a moeda.

"Vamos decidir no Cara ou Coroa".
Eu dirigia pela rodovia, girando a moeda nos dedos. Parecia novinha em folha. Brilhante. Vibrante. Meu Deus, que moeda mais linda!

Passei rápido demais em um buraco na rodovia e ouvi os corpos se debatendo no porta-malas.

Merda.

O que diabos eu faço com eles?

Enterro?

Jogo em uma vala?

Olhei para a moeda.

"Vou decidir no Cara ou Coroa".

By: CreepypastaBrasil

Contos De Terror 1° EDIÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora