97 - MINHA FILHA NASCEU CEGA E SURDA

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Minha esposa e eu sempre quisemos ter filhos. Sete anos atrás descobrimos que ela estava grávida, infelizmente nem todas as histórias tem um final feliz, Bob morreu logo após seu nascimento, devido a complicações decorrentes da gravidez. Isso nos deixou completamente esmagados, mas com o passar do tempo decidimos tentar novamente, depois de inúmeras tentativas finalmente recebemos a notícia que Melissa estava grávida novamente, nós finalmente conseguimos, mas novamente nem tudo é da forma que queremos, houve complicações com a gravidez e Ana nasceu cega e surda, mas isso não mudaria nosso amor por ela, Ana era a nossa anjinha, fomos informados sobre dificuldades que surgiriam ao longo de sua vida, ela nunca poderia falar, tão pouco fazer as tarefas mais simples sozinha, ela precisaria de cuidados constantes e enquanto isso parecia ser um fardo para a maioria, para nós era apenas um pequeno preço a pagar para ter o filho que sempre sonhamos, Ana não era uma causa perdida, ela era nossa anjinha.

Às vezes era muito frustrante, mas nunca deixamos de amá-la. Eu tocava guitarra porque sabia que ela conseguia ouvir as vibrações do meu amplificador, ela sempre sorria quando eu tocava "Sweet Dreams", ela nunca conseguiria ver o quão feliz ela fez mamãe e eu, mas independentemente de sua deficiência eu sabia que ela conseguia sentir.

Durante a maior parte do tempo nosso dia era sempre o mesmo, eu iria para o trabalho enquanto Melissa cuidava de Ana ao longo do dia, Ana precisava de alguém ao seu lado em todos os momentos, chegamos a pensar na possibilidade de contratar uma babá, mas achamos que não seria apropriado devido a sua deficiência, felizmente pra mim o meu trabalho me pagava mais do que o suficiente para manter nós três.

Cheguei em casa depois de um longo turno de doze horas de trabalho, para encontrar Melissa e Ana adormecidas no sofá, eu sorri e dei um beijo em suas testas antes de cobri-las e ir para a cozinha, eu raramente tinha tempo para mim, então eu apenas coloquei um pedaço de pizza congelada no microondas, puxei uma cadeira e comecei a folhear um livro, quando eu estava prestes a virar a última página do capítulo eu senti um puxão firme em minha perna, era a Ana parada em minha frente olhando fixamente para o meu rosto.

- Papai?

meu coração disparou, ela nunca havia falado uma palavra antes, isso não era possível, eu estava de boca aberta achando que deveria estar ouvindo coisas.

- Estou com sede, pode me dar água?

Eu engoli o medo em minha garganta.

- Claro querida, eu só preciso de um minuto, volte para perto de sua mãe que eu já levo pra você.

Ela asentiu com a cabeça e voltou para a sala de estar e se enrolou no edredom ao lado de sua mãe, levantei e enchi um copo com água, eu esfreguei os olhos em total descrença e comecei a rir quase histericamente, tudo deveria ser apenas minha imaginação.

Quando eu dei a Ana o copo com água do jeito que eu sempre fazia, ela agarrou o copo e começou a beber como se soubesse como fazer, isso me deixou pasmo.

- Obrigada, papai.

Meu corpo inteiro estava entorpecido. Eu forcei um sorriso e vi quando Ana voltou a dormir, voltei para a cozinha me sentindo fisicamente doente, incapaz de entender o que tinha acabado de acontecer. Eu me sentei novamente na mesa da cozinha e comecei a ler, eu devo ter adormecido em algum momento pois acordei com uma maldita dor no pescoço.

A primeira coisa que eu pensei quando acordei foi em Ana, então eu fui verificá-la, Melissa estava sentada no sofá assistindo TV enquanto Ana dormia profundamente ao lado dela. Pensei em dizer a Melissa o que aconteceu, mas achei que tudo deveria ser apenas um sonho estranho, afinal eu acabei adormecendo na cadeira depois de tudo.

Os próximos dias foram normais sem outros incidentes estranhos para relatar, eu voltei do trabalho uma noite para ver a Ana sentada na mesa da cozinha, enquanto minha esposa fazia o jantar, Ana tinha o mesmo olhar vazio de sempre, então tudo parecia normal.

Contos De Terror 1° EDIÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora