94 - COMO SE MATA UM MONSTRO?

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- Ben, o que você está fazendo aí?

Olhei brevemente para a porta onde minha esposa estava parada com um olhar cansado.

- Eu já estou indo, eu só preciso de mais um minuto.

Não havia motivos para responder sua pergunta, afinal ela sabia o que eu estava fazendo, tenho certeza disso, e ela não gostava disso, ela não conseguia entender, ela não queria que eu continuasse.

Meus olhos deslizaram novamente para o meu celular onde ficaram colados na tela por mais quatro minutos, eu tinha revirado a internet inteira há meses procurando o resto do julgamento, mas tudo que eu consegui achar foi um seguimento de seis minutos que foi televisionado pela Cicity Vinils, eu assisti a este vídeo tantas vezes que eu já conhecia cada detalhe de cada segundo, mas ainda assim eu continuava assistindo porquê eu precisava de uma resposta.

A câmera estava nesse momento focada no júri, todos estavam inclinados para frente concentrados no testemunho do especialista forense. A câmera então deslizou para o banco de testemunhas onde o doutor Phil falou sobre a decomposição do corpo de Andrew e o estado que estava quando o cão farejador o encontrou no início de dezembro.

Phil caminhou até o retroprojetor, bateu uma pilha de slades na mesa para endireitá-los e em seguida colocou dentro do projetor, uma foto gráfica do corpo nu de Andrew apareceu na tela e todos no tribunal suspiraram alto. A Cicity Vinil desfocou as imagens, mas eu me lembro do terror que estavam sobre elas, eles estavam certas por estarem assustados.

Phil falou sobre toda a tortura psicológica e física que a criança de apenas cinco anos havia sofrido, ele explicou cada foto sem demonstrar emoção, apontando os incontáveis cortes, contusões e fraturas expostas. Ele falou sobre a causa da morte, estrangulamento, e mostrou ao tribunal como as impressões digitais no pescoço de Andrew combinava perfeitamente com as do réu, então ele desligou o projetor e começou a falar sobre o tempo presumido da morte, a câmera se moveu para trás neste ponto mostrando minha família chorando silenciosamente, então finalmente avançou para a mesa do réu.

O garoto sentado ao lado de seu advogado parecia bastante entediado, ele rolava um lápis de um lado para o outro entre seus dedos. Enquanto respirava alto em todos os momentos, era ele, esse era o monstro que eu queria matar, parece que ele sentiu que a câmera estava o filmando, pois de repente ele se virou, olhou diretamente para a câmera e sorriu, era um sorriso soberbo, inteligente, como se não tivesse remorso ou medo das consequências, como se ele acreditasse que tudo valia a pena e no final ele estava certo, ele foi sentenciado a ficar preso até chegar a maioridade e mais três anos depois disso, isso não era nada, isso era menos que nada.

Eu olhei para a lâmina em cima do balcão, uma única pergunta estava em minha mente: como se mata um monstro? mas eu sabia o que tinha que fazer, isso parecia tão fácil, mas será que eu teria coragem de fazer isso? Meu irmãozinho merecia vingança, mesmo que fossem dezessete anos depois, Andrew sofreu horrores que nenhum ser humano deveria suportar. Olhei novamente para a pequena tela e assisti os últimos segundos de vídeo.

O garoto, de repente, se sentou paralisado, seu rosto formando uma expressão arrebatada. Os policiais entraram na sala com vários dispositivos de tortura improvisados que ele havia criado. Colocaram todos em uma mesa próxima ao juri, minha família inteira se levantou assustada e foram escoltados para fora da sala, Cicity Vinils cortou o vídeo nesse momento, mas isso não importava, lembro-me muito bem do que aconteceu depois, o detetive manteve cada um dos dispositivos para que o júri pudesse examiná-los, eu balancei minha cabeça de um lado para o outro completamente atordoado com minhas criações.

minha esposa abriu a porta e falou novamente.

- Ben, você não vem para a cama?

mas eu estava pensando em uma questão muito mais importante, a única que realmente importava. Na verdade eu sabia como matar um monstro, olhei novamente para lâmina afiada no balcão, essa era a parte fácil, mas o problema era muito mais complexo do que isso, porque como você mata um monstro quando está dentro de você?

Contos De Terror 1° EDIÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora