Dois

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Sexta-feira, 7:30 pm.

Queridos leitores, vocês não fazem ideia do rumo que a nossa história está tomando. Passados quatro dias desde aquela terrível cena, nossa cacheada decidiu finalmente esquecer o garoto dos olhos de oceano, não tem sido fácil, eu posso garantir, mas ela tem tentado. Ela focou nos estudos mais do que o necessário, o evitou de todas as formas e passou mais tempo com os amigos, se antes ela era isolada deles, agora ela sabia que eles estariam lá para tudo.

Só quatro dias, e esses quatro dias foram os piores da vida dela, não queria aceitar que aquele garoto pelo qual se apaixonou, tinha escolhido uma garota melhor, e pior, que dizia ser amiga dele. Óbvio que ela se sentiu insegura, se sentiu uma fracassada, mas seus amigos, seu pai e seu irmão estavam lá e ainda estão, para fazer com que se esqueça disso, pois não passava de uma grande mentira. Ainda dói, todos os dias, mas é necessário para que ela possa se lembrar de que ele não foi capaz de amá-la assim como ela o amou, faz parte daquilo que chamamos de "superação". Na escola esse assunto foi se quer mencionado, digamos que todos sabiam do que a Flynn é capaz.

Hoje será uma noite interessante, pela primeira vez em muito tempo ela iria em uma festa, não aquelas da escola, mas uma festa de verdade, na casa do Erick, o popular do colégio. Julie estava calçando o salto alto preto e Flynn, terminando o delineado de gatinho de sua maquiagem:

- Como estou? - Flynn pergunta dando uma voltinha para sua amiga

- Está maravilhosa. - diz Julie e a amiga estampa um sorriso orgulhoso no rosto

A cacheada se levanta e para em frente ao espelho, passa a mão pelo vestido azul escuro, colado ao copo e ajeita seus cachos vagarosamente, analisa seu reflexo no espelho mais uma vez e sorri ao perceber que está tentando viver de novo, isso já lhe deixa feliz.

- E eu posso garantir que você vai ser a garota mais linda dessa festa - diz Flynn admirando sua amiga

- Não exagera, Fly! Não serei a mais bonita, mas eu me sinto bem, disso eu tenho total certeza. - diz a cacheada com um meio sorriso

Flynn sorri orgulhosa e pega seu celular, confere as mensagens, vê que Willie avisou que está lá em baixo e desliga o aparelho.

- Willie já chegou, vamos? - Julie assente

As duas descem as escadas com cuidado, chamando atenção de Willie e de Ray, os dois olham na direção das duas e sorriram. Ray elogiou a filha e sua amiga, abraçou as duas fortemente e pediu para terem juízo, eles se despediram e entraram no carro. O caminho foi curto e nada silencioso, já que a Flynn ficou cantando de forma exagerada o tempo todo. Ao chegarem, viram a casa lotada, muita bebida, som alto e muitos casais se pegando em cada canto, repararam o pequeno palco montado com instrumentos e viram os meninos conversando entre si, Julie sentiu um frio na barriga...

ele pode estar aqui, ela pensou.

- Vamos até os garotos! - Flynn exclamou alto

- Não! E se ele estiver lá? - a garota deu de ombros

- Aí eu aproveito e acabo com ele. - disse Willie com um sorrisinho convencido

Julie respirou fundo e caminhou com os amigos até os garotos, eles pareciam irritados e estavam decidindo algo, não deu para a cacheada descobrir.

- Oi meninos! - a de tranças chamou

- Oi! - falaram em uníssono

- Vocês parecem irritados, aconteceu alguma coisa? - foi a vez de Julie perguntar

- O imbecil do Luke, - Julie travou - ele disse que não vem e agora precisamos de um vocalista! - Alex ficou irritado

- Só que, como vamos achar um vocalista AGORA? - completou Reggie

Julie ficou pensativa, eles precisavam de ajuda, Luke não estava lá, ele não iria aparecer e então ela não correria o risco de esbarrar com ele, nem de se prender no olhar do guitarrista, muito menos de vê-lo com ela. Ela poderia ajudar.

- Eu posso cantar. - Julie respondeu incerta

- Sério? - Bobby perguntou com expectativa

- Se vocês quiserem eu posso... - ela foi interrompida com um abraço dos três

- Muito obrigado, de verdade. - o loiro se afastou

Ela assentiu sorrindo e se virou para os amigos. Eles a olhavam sem crer na resposta dela, e ao mesmo tempo, tinham a felicidade de ver que ela está voltando para o seu sonho.

- Isso é sério? - Flynn perguntou sorrindo

- É claro que sim! - Julie diz com um sorriso

- Meu Deus eu nem sei como reagir. - Willie finge limpar lágrimas

Ela sorriu, estava animada de verdade, sentia que poderia fazer aquilo sem medo e que poderia estar perto da sua mãe novamente. Ela tem que se permitir, ela tem que sentir a adrenalina dos palcos, a paz ao cantar e a alegria tomando conta do seu próprio corpo, ela merece viver.

Tomou mais um gole de água (não podia ficar bêbada), olhou as horas no celular e se aproximou dos meninos, já era a hora, pegou o microfone e respirou fundo...

é só música, Julie, você fazia isso com a sua mãe, lembra?
você pode fazer isso...
fique perto dela, Julie, se mantenha por perto.

Os pensamentos enchiam a sua mente, ao invés de tranquilizar a si própria só estava lhe apavorando cada vez mais; ela precisava se acalmar, precisava respirar, a música era sua vida e ela precisava viver de novo.

Mas o que fazer se a música lembra a sua mãe? O que fazer quando a música lembra ele?

volte a respirar, Julie.
volte a viver.
ela está com você.

Isso! Ela está com você, só deixe ela ficar do seu lado. Se permita, você vai chegar longe.

- Qual é a música? - olhou para o loiro

- Still Into You - ela conhecia essa música - consegue cantar ela, Ju?

Sim, ela consegue, ela cantou junto com ele uma vez.

- Consigo. - ela assentiu sorrindo

Ela respirou fundo, segurou o microfone firmemente, fechou os olhos e a música começou a tocar.

Ela relaxou assim que cantou o primeiro verso, estava acontecendo, ela estava cantando outra vez, isso poderia lhe trazer a maior felicidade do mundo, mas ao mesmo tempo, trouxe lembranças com o guitarrista, lembranças que ela queria esquecer o mais rápido possível...

Mas ela não conseguia, de forma alguma. Ele sempre estava na sua mente, ela querendo ou não, tudo lembrava ele. Argh! Isso era tão injusto! Ela não conseguia esquecê-lo e isso era torturante!

E ele estava lá... A observando atentamente, minunciosamente, cada movimento e respiração dela. Ela o viu, sua voz falhou e seu corpo enfraqueceu no mesmo instante, e de repente, lá estava a Julie vulnerável de novo.

O som da guitarra ficou mais alto do que sua própria voz, ela olhou para o lado e viu Bobby indo em sua direção.

- Continuaremos juntos ok? - a cacheada assentiu

Ele se aproximou mais um pouco e começou a cantar junto dela. Seus olhos tão profundos atrairam a cacheada, e ela não parou de encará-lo por um segundo.

- Estou aqui, não se importe com o resto. - ela assentiu novamente

Ele estava lá por ela, estava cantando por ela, e ele odeia cantar.

Pedaços | JUKEOnde histórias criam vida. Descubra agora