Quatro

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Terça-feira, 10am

Julie Molina 

Você deixou um vazio em mim...

Às vezes, quando estamos vazios, sentimos que a vida não tem mais graça. Às vezes, temos um buraco dentro de nós, mas mesmo assim, nosso coração ainda bate na mesma velocidade. Mesmo que não seja o nosso desejo, nós ainda estamos vivos. E talvez, viver com essa dor não seja algo ruim, talvez ela te fortaleça, talvez ela te conforte em algum momento.

A Julie sente a dor, sente o vazio, mas sabe o que é engraçado? O vazio nem existe, então quer dizer que está faltando alguma coisa, pois esse é o real significado de vazio: a falta de algo, ou de alguém.

E sabe o pior disso tudo? Nem sempre conseguimos identificar o que está faltando, então, temos que suportar o vazio, até ele ser preenchido, sem nem mesmo perceber quando está acontecendo.

Um corredor lotado não preenche esse vazio, só aumenta cada vez mais. E é nesse corredor lotado, que se encontra a nossa cacheada, sozinha. Ela passava pelo corredor sem prestar atenção em volta, olhava para os cadernos concentrada e nervosa. Mas um choque contra o seu corpo a surpreendeu e ela caiu no chão…

- Me desculpe, eu não vi você. - uma mão foi estendida em sua direção.

eu não vi você…

eu não vi você…

- ...eu não vi você. - ela recolheu seus livros rapidamente  - Quer ajuda?

- Não precisa, mas obrigada. - ela se levantou e finalmente olhou para o dono da voz.

Aqueles olhos…

- Lembra de mim? Sou o Luke, eu derramei ponche em você. - o garoto coçou a nuca envergonhado.

E como esquecer?

- Lembro sim. - sorriu nervosa - Agora eu preciso ir, tcha-

- Espera! - aquele mesmo toque, a mesma sensação - Topa tomar um sorvete mais tarde...comigo?

Seria uma boa ideia? Ele ainda é um estranho.

- Pode ser. Mas eu preciso realmente ir.

- Então tchau.

- É...tchau. - a cacheada saiu correndo.

Julie?

Julie?

- Julie! - a cacheada se assustou e voltou a realidade - Você está bem?

O loiro a olhava preocupado,e confuso. 

Ela pensou nele, de novo.

- Tá tudo bem sim. Eu só tenho que ir. - se levantou

- Eu posso ajudar você se…

- Não precisa! Eu pego meus livros. - sorriu nervosa e ele assentiu.

Alex saiu andando, enquanto a cacheada recolhia suas coisas. Mas um perfume inconfundível invade as suas narinas, ela levanta o olhar, e ele está lá, observando a cacheada, de novo.

- Quer ajuda? - ele poderia ir embora, ela pensou.

- Não, só vá embora! - disse grosseiramente e começou a caminhar.

Mas ele ainda estava atrás dela, ela poderia sentir.

- Não foge de mim, Cachinhos. - ela parou e se virou para ele.

- Nunca mais me chame assim! - ela foi rude novamente.

E ele foi atrás dela, de novo.

- Não faz isso, por favor! - ele implorou e ela andava cada vez mais rápido 

- Me deixe em paz, Lucas. - seus olhos ardiam de novo

Ela não podia chorar, não na frente dele.

- Julie, eu…

Ela não queria escutá-lo, só pensava em sair dali, em ir embora, em deitar na sua cama e chorar mais do que ela chorou no dia anterior. Ela realmente queria fugir.

Fugir daquela dor, daquele vazio que foi preenchido quando ele chegou perto dela, fugir do olhar dele, fugir dele. Ela permaneceu de costas para ele, pois, encontrar aquele olhar seria o cúmulo para ela.

Seu coração ainda batia forte, e ela implorava para que ele parasse, o choro entalado na garganta não permitia com que ela falasse direito. Ela não queria respirar, pois junto com o ar que tanto precisava, ela sentia o perfume. 

Uma lágrima caiu.

Outra lágrima caiu.

Mais uma lágrima caiu. E junto com ela, várias outras. 

- Eu não quero escutar você. - sua voz embargava cada vez mais. - Você está me fazendo sofrer. - o choro se intensificou.

E a Julie foi embora de novo.

...

Chegou em casa completamente abalada, suspirou e subiu as escadas. Entrou em seu quarto e largou a mochila em um canto qualquer, parou na frente do espelho e encarou o próprio reflexo, viu o cabelo preso, os olhos avermelhados, a boca inchada e sua roupa meio largada, e então, começou a chorar novamente, com mais intensidade. Sua cabeça doía e ela sentiu raiva de si mesma, se sentiu patética, se sentiu fraca. 

Seu corpo tremia, doía e sua mente estava rápida demais. Ela não aguentava aquilo, ela se sentia vazia de novo. Então, ela gritou. Um grito de dor, de raiva, de tristeza.Gritou até suas cordas vocais começarem a doer, gritou até não conseguir mais.

Mas, ela parou, e o silêncio tomou conta do lugar novamente. Ela caminhou até sua cômoda e pegou o porta-retrato, o abraçou. As lágrimas caíam e ela as secou com as costas de suas mãos.

- Mamãe, eu não sei se você me escuta, mas eu só quero dizer, que eu sinto saudade. - fungou - Eu tenho me sentido muito triste e eu não consigo superar ele, sei que leva tempo, mas meu coração dói e eu não sei o que fazer.

Ela se deitou na cama e chorou baixinho até adormecer.

Pedaços | JUKEOnde histórias criam vida. Descubra agora