Segunda-feira, 2pm
Julie Molina
O amor é a prisão da liberdade
— O que te traz aqui Julie?
— Eu não sei exatamente, meu pai me disse que é melhor pra mim. — deu de ombros
— Posso fazer algumas perguntas? — a cacheada assentiu
Vou atualizá-los, a vida não é algo a ser enfrentado sem ajuda, e Julie percebeu isso. Nem sempre seus amigos e sua família saberão o que dizer, o que fazer ou como reagir, ela precisa de alguém que possa realmente entendê-la. A festa deveria ter sido uma forma de diversão da cacheada, mas, ao cantar aquela música e ao vê-lo na multidão, ela não conseguiu relaxar e simplesmente foi embora, passando o resto da noite assistindo filmes na Netflix. Isso a deixou desanimada de novo, e nem sua melhor amiga conseguiu tirá-la do quarto.
— Julie, seu pai mencionou o fato que aconteceu há 3 semanas, se sentiria à vontade para me contar?
- Eu... - desviou o olhar
Ela estaria pronta pra isso? Enfrentar as dores que lhe atormentam a cada dia? Isso é demais para qualquer um. Mas seu pai lhe disse que era o melhor pra ela, então, ela faria isso.
- Minha mãe morreu - suspirou - E no mesmo dia, meu ex não ficou ao meu lado.
- Por quê tirou essa conclusão? - perguntou com cuidado
- Ele disse que não podíamos ficar juntos.
- E você decidiu se isolar então? - ela analisava a expressão da garota atentamente
- É. - disse envergonhada
A terapeuta anotou algo em seu caderno e Julie a olhava curiosa. Aquilo com certeza era estranho, alguém fazendo perguntas e anotando sobre você, era desconfortável.
- Julie, você foi ao velório de sua mãe?
- N-não - a voz trêmula já entregava a fragilidade do assunto
- Não se sentiu à vontade?
- Como eu me sentiria à vontade? Ela morreu. - seus olhos ardiam - Seria difícil vê-la deitada em um caixão.
- Entendo. - o silêncio tomou conta do local e ela anotava mais uma vez
- Por quê as pessoas me perguntam isso? Será que não entendem que eu não queria vê-la ali? - seu tom de voz era de indignação
- Julie, não fique brava com as pessoas, elas não sabem o que se passa dentro de você. - a cacheada suspirou - Você sente raiva?
- Sinto.
- De quem? - a cacheada a olhou novamente
- De mim. - disse sem transparecer nenhuma emoção
- Pode me explicar por favor? - mais um suspiro cansado
É, aquilo era cansativo. São perguntas que ela não queria responder, são assuntos delicados e a alma dela doía toda vez que sua mãe era mencionada.
Mas ela precisava, precisava falar sobre sua mãe. Mesmo que ela sinta raiva, mesmo que ela desabe em lágrimas a qualquer momento, mesmo que aquilo a machuque de todas as formas, ela precisava falar. A vida não seria a mesma, mas ela continuaria, e a Julie teria que continuar também.
- Eu não estava lá quando... - engoliu seco
- Onde você estava? - isso foi bem direto
- Com a minha melhor amiga, a Flynn.
- Onde sua mãe estava?
- Em casa com o meu pai e meu irmão mais novo. - uma lágrima solitária insistiu em cair
- E você se culpa por isso? - disse com cuidado
- Eu não disse eu te amo pela última vez, não disse adeus, não lhe abracei... - sua voz falhou - quando eu cheguei em casa, meu pai me contou e eu saí correndo.
- Não foi culpa sua Julie.
- Eu fui covarde, eu não consegui me despedir. - enxugou as lágrimas - Eu só saí correndo, para a casa daquele imbecil.
- Seu ex-namorado? - a cacheada assentiu - Me conte o que aconteceu lá.
- Não quero falar sobre isso, só quero esquecê-lo. - focou o seu olhar no chão
- Você quer fugir disso também?
Aquilo acertou na ferida da cacheada. Foi um choque de realidade, que desorganizou os pensamentos dela e acelerou o seu coração. Ela estaria fugindo dele?
- Eu não estou fugindo dele! - disse firme
- Me desculpe querida, mas você está. - a voz calma da mulher a fez pensar
Ela estaria fugindo dele?
- Se eu estiver fugindo, qual o problema? - cruzou os braços e arrumou sua postura na cadeira
- Vou responder isso de uma forma que você possa entender, certo? - Julie assentiu - A primeira coisa que você disse sobre o seu ex, é que queria esquecê-lo.
- Sim...
- Mas minha querida, você não vai esquecer ele.
- Não?
- Não, a palavra certa seria superar, e não esquecer. Você está com raiva dele, mas eu aposto que você foi feliz com ele. - Julie desviou o olhar
- É...
- Eu sei que pode doer, muito, mas uma hora essa dor acaba. E para isso, você não pode fugir, você tem que enfrentar. - sorriu de forma acolhedora
- Isso passa então?
- Sim querida, isso passa. - a cacheada sorriu tímida - Posso voltar para a minha pergunta agora? - Julie assentiu - Julie, o que aconteceu na casa do seu ex-namorado?
Ok, eu não quero narrar isso de novo.
Sabemos o que aconteceu, não precisamos repetir, certo? Essa história é sobre muito mais do que esse término, e eu mostrarei à vocês que a dor pode ser um meio de ser feliz.
O amor é bom, e a dor, também.

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Pedaços | JUKE
FanfictieJulie Molina é uma jovem garota de coração partido. Perdeu sua mãe e seu grande amor não ficou do seu lado, deixando-a destruída. Ela luta todos os dias contra a dor da perda da mãe e a dor do amor. Seus melhores amigos e sua família lhe ajudam ness...