5° Capítulo

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Apurei minha audição e escutava dois corações acelerados do meu pai e da coisa lá em cima. O olhar do meu pai era de desespero, da última vez que vi ele desse jeito foi o dia que ele arrancou a cabeça daquele ômega.

Acreditam que ele queria minha cabeça?? Eu era uma criança, linda diga-se de passagem mas ainda uma criança.

Foco Ayla!!!

Me concentrei mais na audição e percebi uma outra batida de coração, mas bem fraca

Quando dei por mim já estava quase saindo do alçapão e meu pai puxando meu pé para eu não sair. Levantei a "portinha" de madeira e deixei só uma fresta para ver o que era, mas sem ser notada.

Vi uma pata de animal, era uma corça e estava com uma das patas quebradas

Diego: O que está vendo? — Sussurrou
Ayla: É uma corça e parece que quebrou uma das patas, vem vamos ir lá — O puxei pela mão e saí­mos do alçapão. 

A corça se assustou e recuou. Mas logo caiu no chão. Demos um passo para frente e vimos um veado filhote.

Diego: Vamos Ayla, me dê sua mão vou te ensinar uma coisa. — Estendi minha mão e me abaixei ao alcance da corça, coloquei a mão na barriga da mesma e logo grunhiu de dor. — Se concentre na dor do animal, esvazie sua mente e se concentra.

Me concentrei e logo vi minha veias da mão se tornarem em uma coloração preta e senti uma dorzinha no peito, meu pai tirou minha mão suavemente da corça.

Ayla: O que aconteceu? O que eu fiz? — perguntei meio atônita. 
Diego: Você tirou a dor dela filha, não está doendo mais. — Sorri ao ouvir isso. — Agora cure a pata dela com as palavras do livro.

Me posicionei e coloquei a mãos por cima da pata mas sem encostar e recitei as palavras, vi uma luz roxa saindo de minhas mãos e entrando na pata da corça. 

Levantei o olhar e vi o filhote vir em encontro com a mãe. O filhote chegou mais perto e logo passei a mão em seu fucinho molhado.

A corça se levantou eu e meu pai recuamos dois passos. Nós temos uma conexão inexplicável com a natureza e os animais, olhou para nosso rosto e bateu a pata no chão, em forma de agradecimento eu acho.

Se virou e seguiu com seu filhote. Olhei sorrindo para meu pai e olhei os dois sumindo entre as árvores.

Ayla: Viiiu, não tinha perigo nenhum — Sorri convencida.
Diego: Se lembre das regras, se ouvir algo suspeito corra — Me aconselhou.

Ayla: Eu cansei pai, cansei de me esconder.
Diego: Ayla já falamos sobre isso, nã vamos ultrapassar a cerca — Logo completei o que ele sempre dizia.
Ayla: O mundo e as pessoas são cruéis — Disse em um sussurro. 

O que eu mais queria era conhecer o mundo lá fora, como era uma alcatéia, como um alfa liderava todos. Eu só queria um lugar seguro.

Ayla: Vou ir no rio tomar um banho — Abaixei a cabeça e segui a trilha.

Eu sabia que tudo era para me proteger, to sendo uma egoí­sta por pensar só em mim mesma, posso querer sair da floresta mas meu pai passou por muita coisa por culpa minha.

Ele veste a máscara de homem forte, mas sei que está quebrado por dentro e o que quebra meu coração é saber que a culpa é toda minha e não posso reverter isso.

Quando percebi escorreu uma lágrima do meu olho e logo vieram outras. Olhei pro céu e soltava soluços de tanto chorar.

Ayla: Me desculpa mãe! 

Fiquei um tempo escorada em um tronco e fui em direção o rio antes de escurecer.

                            🦋🦋🦋

Diego: Minha borboletinha vem aqui — Colocou as mãos em cada lado do meu rosto — Eu te amo, e não queria te deixar magoada mas não posso nem imaginar você em perigo.

Ayla: Eu sei pai — Suspirei — Eu que errei, sei que é pra me proteger e fui egoí­sta pensando em sair — O abracei forte — Me desculpa — Minha voz saiu abafada por meu rosto estar colado em sua camisa.

Diego: Tudo bem meu amor, sei que você tem curiosidade para saber o que tem lá fora, não é culpa sua.

Ficamos um tempo abraçados em silêncio quando ele resolve desfazer o abraço e me dar um beijo na testa.

Diego: Vamos dormir, amanhã é dia de corrida.
Ayla: Espera… Hoje era meu dia de folga — cruzei os braços inconformada por ter esquecido.

Diego: Boa Nooite filha. — Cara de pau, ainda se faz de desentendido
Ayla: Nada disso pai, volta aqui — Fui atrás dele — Eu vou cobrar mais tarde — Gritei para ele ouvir.

As discussões vinham mas meu pai sempre me ensinou que quando chegasse a noite tudo tinha que se resolver. 

A gente nunca dormia sem se resolver, nem que precisássemos ficar a noite toda acordados.

                            🦋🦋🦋

No meio da noite acordei com muito calor, não conseguia parar de me mexer sentia o suor escorrendo pelas minhas costas, barriga, testa.

Ayla: Pai — Sussurei, minha garganta estava seca, não conseguia falar mais alto — Pai, acorda.

Estava ofegante, mas não conseguia levantar, se eu me erguesse provavelmente caí­ria.

Diego: Ayla? O que foi? — Veio para perto e tocou na minha testa, percebendo todo o suor — Você tá ardendo.
Ayla: tá… Tá doendo — Disse fraca — Meu corpo todo dói

Senti meus olhos pensarem e minha respiração ficar lenta.

Diego: Filha, não dorme está bem vou preparar aquele chá e logo você vai estar melhor. Ayla me escuta, fica acordada não fecha esses olhos — E foi a última coisa que escutei antes de desmaiar

🦋...

A última híbridaOnde histórias criam vida. Descubra agora