Marcas do passado.

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   P.O.V: Bruno Rezende
  O caminho inteiro até a minha casa foi um completo silêncio. Mayla parecia estar perplexa, em estado de choque. Estou extremamente preocupado com ela. Tenho quase certeza que tem a ver com o cara que vimos na frente da sorveteria. Ele nos encarou por alguns segundos e logo depois foi embora. Mayla havia pedido para eu tira-lá dali, mas desde então, não havia pronunciado mais uma palavra se quer. Chegamos no meu apartamento, e assim que entramos no mesmo, eu vi Mayla desmoronar. Ela começou a chorar como uma criança. Fui em direção dela e a abracei forte, tentando dizer através daquele abraço "eu estou aqui, vou cuidar de você". Senti as lágrimas de Mayla molharem minha camisa, mas eu já não me importava com isso. Eu queria saber o que estava acontecendo, e o que eu poderia fazer para ajudá-la.
— ei, tá tudo bem! — eu disse no ouvido dela — eu tô aqui, sempre vou estar. Pode contar comigo, Mayla! — dei um beijo no topo de sua cabeça.
— desculpa! — ela disse baixinho, em meio ao choro.
— não precisa se desculpar, Mayla. — sorri
— mas me conta, o que aconteceu? Por quê você ficou assim depois de ter visto aquele cara na sorveteria? — vi ela ficar em silêncio enquanto limpava as lágrimas —
se não quiser contar, tudo bem também! — sorri
— ele é meu ex namorado! — ela disse, ainda com a voz embargada — sabe, meu relacionamento com ele me deixou muitas marcas, traumas. Ele era extremamente controlador, abusivo, grosso... — ela fez uma pausa dramática e voltou a chorar.
— Mayla, se essas coisas ainda te ferem, não precisa falar se você não se sentir confortável. Não quero reabrir a sua ferida de forma alguma.
— tá tudo bem! — ela limpou as lágrimas novamente — teve uma vez, que... — ela soluçou, voltando a chorar — ele me agrediu. Fisicamente. — ela disse pausadamente e eu fiquei furioso. Como alguém era capaz de fazer uma coisa de tipo? Ainda mais com ela? Minha vontade era de caçar esse cara até o quinto dos infernos e quebrar a cara dele. — depois disso, com a ajuda da minha irmã, eu consegui terminar o relacionamento. Eu achava que iria morrer, mas na verdade, eu já estava morta por dentro! — peguei um copo de água para ela que bebeu tudo em segundos. — ele me agrediu fisicamente uma única vez, mas me marcou para o resto da vida! — ela se sentou no sofá e eu me sentei ao lado dela, fazendo um carinho no seu cabelo — ele era fofo e romântico no começo do namoro. Depois se tornou uma pessoa fria, amarga, grosseira, agressiva, ciumenta... Teve momentos em que eu não reconhecia mais o Murilo. — Murilo. Era o nome do desgraçado. — aconteceu muita coisa na minha vida em um curto espaço de tempo. Isaque nasceu, Minha mãe morreu, Meu pai se afastou e vi meu namoro com Murilo indo de ladeira abaixo. Ele me tratava super mal, fazia agressões verbais, mas a agressão física foi o ápice pra mim. Eu achava que nunca iria me livrar daquele relacionamento, ou de Murilo. Mas arranquei forças que nem eu mesma sabia que tinha para poder sair daquela situação e consegui. Eu fiz muita terapia e acompanhamento psicológico, e de vez em quando, ainda faço. Mas reencontrar ele hoje foi demais pra mim. Foi como se eu estivesse revivendo todo aquele período horrível da minha vida de novo.
— ei! — eu disse, puxando ela para um abraço. — você não vai mais passar por isso, Mayla. Acabou! E saiba que eu estou aqui pra você e com você, no que você precisar! —dei um beijo em sua testa —Você não denunciou esse filho da puta, Mayla? Não registou um boletim de ocorrência contra ele? — perguntei, com uma raiva notória na voz. Envolvi Mayla em um "abraço de lado", na qual ela estava com a cabeça no meu peito e mexia no cordão que eu usava no pescoço, enquanto um braço meu estava envolvido em uma parte do seu corpo e com a mão, eu fazia um cafuné no seu cabelo.
— quando eu terminei com o Murilo, ele sumiu no mapa. Nunca mais eu tinha o visto, até o dia de hoje! — respirou fundo.
— quer fazer algo em relação a isso?
— bom, até o presente momento ele somente apareceu na mesma rua em que estávamos, então, não vou fazer nada... — ela disse, pensativa.
— Mayla, você pode denunciar ele ainda. — sugeri — eu vou te apoiar. Vou estar com você em todos os momentos, não precisa temer. Sei que não é fácil, mas eu estou aqui, a sua família também!
— com que provas vou denunciar ele, Bruno? — ela disse, baixinho. Possivelmente estava com vontade de chorar de novo — não tenho nenhuma prova de que ele me agrediu e isso aconteceu há mais de 1 ano.
— estou com muita raiva agora! Puta que pariu. — bufei de frustração, sabendo que estou de mãos atadas quanto a isso.
— não quero que você fique batendo cabeça com os meus problemas! — vi ela sorrir pra mim. — não precisa se preocupar com isso!
— os seus problemas são os meus também, Maylinha. - sorri e nós ficamos em silêncio por uns minutos.
— posso tomar um banho?
— óbvio que pode! Toma banho no banheiro do meu quarto. Eu quero que você durma comigo hoje. — sorri para ela, que sorriu de volta. Era o primeiro sorriso sincero que vi no rosto de Mayla desde o momento em que ela viu o ex dela.
— eu não trouxe roupa de dormir! — ela mordeu o lábio inferior
— pode usar uma camiseta minha, se quiser! — dei de ombros e ela concordou com a cabeça. Acompanhei Mayla até o quarto, dei pra ela uma toalha, camiseta e ela pediu uma cueca minha emprestado também. Ri com o pedido, Mas emprestei uma cueca box que iria se ajustar no corpo dela por conta do elástico. Me deitei na cama e liguei a TV, Mayla logo saiu do banho, veio até mim e me deu um selinho. Minha camiseta havia ficado um verdadeiro vestido nela, o que me fez rir.
— obrigada! — ela disse, se deitando na cama e encostando a cabeça no meu peito.
— pelo o que?
— por estar segurando minha mão nesse momento. — sorrimos um para o outro. Iniciei um cafuné no cabelo dela e vi que logo ela pegou no sono. Mayla é uma pessoa incrível. Não merece passar pelas maldades do mundo.

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