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"Você fez flores crescerem em meus pulmões e embora elas sejam lindas, eu não consigo respirar."

"Você tem medo de contar para as pessoas o quanto machuca, então, guarda tudo para si mesmo."

"Deixe-me te contar uma coisa: se você conhece uma pessoa solitária, não importa o que eles te digam, não é porque eles gostam da solidão. É porque eles tentaram se misturar no mundo antes, mas as pessoas continuam a desapontá-los."


Várias coisas vinham à mente de Josh quando ele pensava em satisfação. O modo que o sol se encontra com o mar em uma hora específica entre o entardecer e o anoitecer e a forma como todo o céu reflete esse movimento e o mar, por sua vez, absorve essa essência e se junta ao plano, deixando o momento passageiro tão magnífico que seria digno de uma pintura. E a parte mais satisfatória de tudo é que o pintor, para desenvolver um quadro com extrema fidelidade à paisagem natural, tem apenas alguns minutos antes que todo o céu mude de coloração de novo e ele tenha que retornar no dia seguinte, ansiando ver a mesma paleta de cores no céu e a mesma leveza de reflexos no mar.

Mas nada se comparava a imagem de Noah Urrea dentro de uma floricultura em plena quinta-feira à noite, chuva caindo do lado de fora impiedosamente e as luzes que agiam como estufa para os ramos de flores criando sombras em suas feições angelicais, o modo que sua testa estava relaxada e o nariz suave complementando o contorno da boca aberta em uma respiração pesada apenas o deixava aparentemente mais novo e mais... leve. Encolhido em um moletom roxo claro (Josh se lembrava dele, no dia em que o encontrou prestes a partir e o acolheu em seu dormitório. Ele o vestiu logo após vomitar a pizza que Josh recomendou que não comesse) e a mesma jaqueta jeans de sempre, Noah parecia ainda menor com jeans skinny e Vans, uma meia branca de cano alto escondendo seu tornozelo e o protegendo do frio.

Josh queria mais que tudo tirar uma foto dele enquanto agarrava uma flor cor-de-rosa entre os dedinhos, a aproximando do nariz e fechando as pálpebras conforme inalava seu cheiro, mas antes mesmo de poder ajustar a câmera em frente aos seus olhos, Noah captou seu olhar, no exato momento em que ergueu as pálpebras e recolocou a flor no vaso. Por um instante, tão breve que Josh mal percebeu, alívio passou por suas feições, quase como se quisesse vê-lo ali, mas não demorou muito para cerrar os lábios e se encolher nas roupas, os olhos demonstrando receio e os músculos visivelmente tensos diante de sua presença, mesmo que estivesse à balcões de flores de distância.

Se aproximando a passos largos, Josh engoliu o caroço que se encontrava em sua garganta, sem motivo aparente para tal, e parou no exato momento em que Noah recuou alguns passos, constatando estar perto demais. Ele o encarou com aqueles olhos verdes vazios, causando um esfriamento na boca de seu estômago, não de um jeito bom como em borboletas, mas em um jeito angustiante, desesperador. Já era tempo do verdes vívido retornar ao seu posto.

- Oi.

Noah desviou o olhar de Josh e deu passos para longe, distraindo-se com as flores ao que passava o dedo suavemente por suas pétalas macias, sentindo a textura em sua pele fria e desejando ser uma delas, bonita, suave e delicada – mal sabendo que já era uma. Josh o acompanhou, as mãos nos bolsos e em silêncio, passos pequenos para manter a distância, o que parecia confortar Noah, de certo modo.

- Eu, hm, não te vi na uni hoje. – Josh murmurou esperançoso e Noah, de fato, ergueu os ombros em resposta, sem fita-lo ou ficar de frente para o mesmo, apenas observando flor por flor com dedicação. – Está tudo bem?

Algo no tom de Josh denunciava que aquela pergunta se referia não apenas ao dia perdido na uni mas também na situação em geral. Era tão estranho ver Noah ali em sua frente, rodeado por flores, enquanto que meses atrás tudo que tinha eram ligações ignoradas, mensagens não respondidas e fotos mal apreciadas. Mas Noah estava ali.

Once Upon A Plug • Nosh Onde histórias criam vida. Descubra agora