Once Upon A Plug • Nosh

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Conforme dezembro começava, a chuva torrencial se transformava em neve, apenas pequenos e frágeis flocos que mal seguravam sua forma ao atingir alguma superfície, virando água em poucos segundos, mas já era o suficiente para transformar Londres em um gigante cobertor ambulante. As aulas na UAL continuaram em horário normal mas naquela quinta-feira congelante, todos se encontravam aninhados em seus lares, bem, nem todos.

- Me passa o baseado. – Krystian resmungou enquanto Samuel segurava o pequeno e grosso pedaço de seda enrolado contra os lábios, os olhos azuis já bem vermelhos. O Victoria mal pareceu incomodado com o pedido, o que fez Krystian virar manhoso para Bailey, que ajeitava o videogame na televisão. – Amor, o californiano não quer me passar o baseado.

- Sam, dê o baseado para Krystian. – Bailey respondeu meio que no automático ao que estava concentrado nos cabos atrás do aparelho preso à parede. Josh revirou os olhos da cama aonde estava.

- Podem falar mais baixo, por favor?

Josh estava com os cabelos molhados enrolados em uma toalha enquanto o resto do corpo encontrava-se debaixo dos cobertores grossos, o frio do corredor entrando por baixo da porta e arrepiando os pelos de seu rosto. O notebook sobre sua barriga o esquentava de certa forma por meio da saída de ar lateral, Friends passava na tela e naquele exato dia, naquele exato momento, a reprise do episódio final da sétima temporada era a atração. E após muita discussão, a qual Josh perdera, sobre quem teria o domínio da televisão, ali estavam os meninos, todos enrolados na cama de Bailey enquanto jogavam GTA.

Josh não conseguia evitar em pensar em Noah. Se ele estivesse ali, se tudo estivesse bem e se tudo estivesse como nos planos originais, eles estariam dividindo a cama de Noah no dormitório enquanto os meninos ficavam no de Josh e Bailey, ambos sob edredons grossos e quentes, pizza, Friends na TV e o jogo da Disney para entretê-los durante os comerciais, eles discutiriam sobre a relação de Ross e Rachel e aprenderiam juntos o verdadeiro significado de amor em uma relação, julgando as ações dos personagens livremente enquanto colocavam azeitonas na boca um do outro e Noah riria de Josh tentando cortar a longa linha de queijo que apenas crescia conforme sua mão afastava o pedaço de pizza sabor mozzarella de seu rosto, para então ajuda-lo com seu dedinho, e logo depois se beijarem com lábios gordurosos e sorrisos abafados, as risadas preenchendo o quarto e a felicidade mantendo-os quentes.

Mas não era o caso. Josh soltou um suspiro quando Samuel gargalhou e afastou o baseado de um Krystian manhoso, Bailey tendo que intervir na briga infantil, e recolocando seus fones, se aconchegou no travesseiro atrás de suas costas e tentou prestar atenção na péssima e ao mesmo tempo ótima música que Phoebe tocava e cantava no Central Perk para todos ali.

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- Você não está comendo direito, Noah! – de forma acusatória, Lamar resmungou da cozinha enquanto aguardava as pipocas estourarem. Noah, do sofá, sob uma montanha de edredons e vestindo meias felpudas de vaca, suspirou ao que aumentava o volume da televisão.

- Eu não sinto fome.

- Mas precisa comer.

- Preciso ouvir a Phoebe cantando, se você puder colaborar... – ele murmurou baixo e mal-humorado enquanto subia a touca do moletom até cobrir suas orelhas e as proteger do frio intenso que penetrava o apartamento pelas paredes.

Lamar sentou-se no lado oposto ao seu e o ofereceu pipoca, resmungando mais ainda ao receber um não como resposta. Noah estava de mal humor naquele dia, o frio o deixava assim pois fazia as flores morrerem e as folhas caírem – ele preferia a primavera ou o outono, ao menos, e trancafiado dentro do apartamento, sentia-se muito mais solitário do que antes. Mas ele gostava de ser solitário, sim? Ou ao menos se acostumou com a solidão, durante todos esses meses afastado e afins, independentemente de Lamar estar no quarto ao lado. A questão é que ele sentia falta de algo. Ou melhor, alguém.