Capítulo 16: Surpresa

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Beto Velásquez.

Coloquei o tapetinho debaixo do braço, enquanto abria a porta pra que Tancinha pudesse sair. A loira também tinha um tapete em mãos, inclusive, ambos eram dela.

— Tancinha, eu tenho certeza que esse não é meu tipo de programa — murmurei, guardando a chave do carro ao bolso depois de trancá-lo.

— Eu prometo que você vai gostar. E se odiar, pensa que depois daqui tem uma surpresa pra você — sorriu ela, se aproximando e mantendo a caminhada no mesmo ritmo que o meu.

Era um dia relativamente fresco em São Paulo e o tempo se encontrava nublado, provavelmente não choveria. Pelo menos, não tão cedo.
Caminhamos juntos pelo parque e pela primeira vez, percebi que algumas pessoas olhavam pra nós e cochichavam, me fazendo lembrar que ser namorado da Alexia me tornava uma figura pública. Será que as pessoas estavam achando que eu já tinha desistido dela? Balancei a cabeça e afastei esses pensamentos da minha cabeça.
Pouco tempo andando depois, chegamos no campo onde um pequeno grupo já estava concentrado em posições próprias, tocava uma música típica dessas reuniões — talvez um mantra? — e um instrutor ajudando pessoas que provavelmente eram iniciantes. Eram movimentos muito delicados pra um homem com zero coordenação motora como eu.
Engoli a seco e olhei pra Constância, que devolveu o olhar.

— Animado pra primeira aula? — Perguntou ela, enquanto nos instalávamos um pouco mais atrás no grupo.

— Não. Eu tenho certeza que isso não tem a mínima chance de dar certo, Tancinha — respondi dando uma risada ao ver uma das pessoas fazendo uma posição que desafiava as leis da gravidade e da anatômica humana.

O instrutor se aproximou e cumprimentou a loira com um abraço, eles falaram brevemente. Ela me apresentou ao cara, que foi receptivo comigo também. Disse que assim que nós nos instalássemos, daria instruções pra mim e frisou que pela experiência de Tancinha, ela poderia fazer o que quisesse.
Colocamos nossos tapetinhos atrás da última fileira de alunos formada e ficamos isolados atrás daquele grupo de umas quinze pessoas. Di Marino falou pra eu me alongar como se fosse correr e começou a fazer ela mesma, acompanhei a mesma nos alongamentos.
Pouco tempo depois, o professor se aproximou e começou a me dar instruções. A princípio, nada parecia muito complicado e eu me senti ridículo por pensar que aquilo era uma coisa completamente impossível.
Me estiquei inteiro em pé, abri os braços, fiquei na ponta dos pés, senti o ar fresco correr pelos pulmões e a ansiedade que antes se fazia presente em mim em todos os momentos desde o "sumiço" de Alexia havia diminuído um pouco. Talvez, porque exigia muito a minha atenção e distrações eram necessárias pra que eu não sofresse o tempo inteiro. Além disso, a música que tocava em looping ao fundo me deu um pouquinho de sono, junto com o som da copa das árvores se encontrando e chacoalhando com a brisa leve.
Enquanto eu fazia o que havia sido sugerido a mim, deixei meu olhar escapar pra Tancinha, que fazia as coisas no seu próprio nível de dificuldade. Seus movimentos, seus braços, suas pernas, sua leveza. Ela sabia fazer tudo aquilo mesmo, e desde quando? De fato, ela havia mudado muito desde o nosso fim. De vez em quando eu parava meu trabalho pra ver o dela e ficava impressionado. Até lembrar que ela também era bailarina nas horas vagas.

Tudo parecia em completa paz.
Até exigir um pouquinho mais de mim.

O professor apareceu e disse que eu estava indo bem pra um iniciante e que nem parecia que eu estava ansioso, sugeriu então uma posição mais arriscada. Tancinha me encorajou, e como ela também parecia desafiar as leis da física, senti que eu deveria mesmo deveria arriscar. Se desafiar Newton era tão fácil, por que não tentar?
Então, pediram pra que eu fizesse uma posição confusa de um pé só. Tanto o professor quanto Tancinha me mostraram por eles mesmos com serenidade no olhar, me obrigando à repetir o feito. Quando chegou a minha vez, eu sequer conseguia sustentar meu equilíbrio por mais de dois segundos e aquilo me deixou intrigado.

Salve-se, Coração!Onde histórias criam vida. Descubra agora