Capítulo 4: Complemente Rendido

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Beto Velásquez.

Os dias da viagem passaram, e cada vez mais eu me encontrava encantado pela espontaneidade da Alexia e sua história de vida. Ela era única em todos os seus aspectos e me deixava muito mergulhado nela, completamente diferente de todas as mulheres que eu tinha visto em toda a vida. A inominável ao lado dela parecia apenas uma mancha no meu passado — assim eu pensava.
A despedida foi a pior, um pra cada lado. Ela iria pro Rio de Janeiro gravar as cenas complementares e eu iria pra São Paulo, já que meu trabalho precisava de mim. Tivemos a sorte dos nossos horários de vôo serem próximos então fomos juntos até lá.
Ficamos jogando papo fora, até que anunciaram nos microfones o número da minha viagem e obviamente eu teria que ir em breve.
Me levantei, Alexia fez o mesmo.
Olhei naqueles olhos castanhos brilhantes e amorosos com um sorriso de canto pesaroso, por ter que me despedir por enquanto dessa mulher espetacular que roubou meu coração por todo o verão.

— Eu quero te ver logo — declarei, soltando a alça da mala para acariciar seu rosto lentamente com o polegar — vou sentir falta de você, sua maluquinha.

A atriz sorriu abertamente e deitou a cabeça para a direção do carinho, sem quebrar o contato visual entre nós.

— E eu vou sentir falta de você, seu bobão — disse ela.

Dei uma risadinha, deslizando a mão para a sua nuca e a trazendo para um beijo, meio romântico para dois ficantes, eu sei. O beijo foi demorado, cheio de saudade. Talvez eu fosse sentir muita falta daquela boca na minha, mas muita falta mesmo. Quando o ar faltou, me afastei deixando um selar nos lábios dela e me afastei de vez.

— Vai pra São Paulo logo, tá? — Apertei carinhosamente seu queixo.

— Prometo que vou tentar, dei muita pouca canseira em você — falou ela, rindo enquanto ajeitava meu cabelo com uma das mãos — mal conheceu todos os dotes de Alexia Máximo.

— E você não conheceu todos os dotes de Beto Velásquez, eu te garanto que se você me der mais uma chance... Te mostro o verdadeiro "máximo" — falei num tom sugestivo.

"Vôo 742, Cancún-Guarulhos, última chamada!"

Meu sorriso se desfez, acho que já estava completamente rendido à mais uma mulher maluca, mas inigualável, especial.

— A gente se fala — mandei um beijo no ar pra Alexia.

— Por favor! Vou morrer de saudade — admitiu.

— Também vou morrer de saudade. Agora deixa eu ir, manda mensagem quando você chegar no Rio, hein!

E tive que ir correndo, dei uma olhada para trás antes de entrar no portão e vi ela acenando e sorrindo. Essa era Alexia Máximo.

*    *    *

Várias horas depois, finalmente estava em casa. Respondi algumas mensagens, fiz algumas ligações avisando que já estava no Brasil e iria resolver meus projetos com urgência e, também, avaliaria outras propostas assim que descansasse. Mas, o mais importante: mandei mensagem para a morena que balançou meu verão.

Cheguei no Brasil, minha maluquinha.
Foi tranquilo, tudo certo, viu?
Boa sorte com a sua novela, quero ver!

Claro que ela não veria as mensagens naquele momento, entretanto, ficaria muito feliz em recebê-las.
Apesar de querer muito responder ela na hora, tava exausto e acabei caindo no sono.

Sonhei que estava em uma espécie de camarim, onde as luzes estavam diminuídas e só se viam silhuetas e partes do corpo com clareza, além de estar sozinho, bem, não totalmente sozinho. Uma música sensual baixa começou a tocar no ambiente e eu fiquei levemente confuso, até ouvir sons de saltos batendo contra a madeira do chão do camarim. Pela sombra perto da porta eu sabia que era Alexia, acabei dando um sorriso interessado e me permiti sentar no sofá espaçoso e confortável que tinha ali, presumindo que fosse um show especial, só pra mim.
A morena foi andando em passos lentos até adentrar completamente o camarim e, quando apareceu na minha frente, eu senti uma mistura de sentimentos completamente fora de série. Ela vestia uma das roupas dela, do musical Santa ou Devassa, que ela havia mostrado pra mim em Cancún. A atriz chegou perto de um rádio, de onde descobri que saía a música sensual, e colocou na música que ela cantava no espetáculo.
Passei a língua nos lábios e a observei ela fazer aquele show especial só pra mim, sentindo uma sensação prevalecer em mim — e vocês sabem bem o nome dela.
Enquanto ela se apresentava, veio andando lentamente em minha direção e segurou meu queixo com delicadeza. Minhas mãos não conseguiram se manter paradas e voaram para a trazer pra mim e encerrar de uma vez por todas esse desejo danado correndo pelas minhas veias. Porém, ela se esquivou e continuou fazendo seu show.

— Quer me deixar maluco? — Perguntei baixinho, me levantando do sofá.

— Louco por mim você já tá, mas acho que você devia se tocar disso. Se não correr, vai perder hein — disse ela, com uma voz sugestiva.

— Ahn? Como assim, Alexia? Correr atrás de voc-

Ela me empurrou de volta pro sofá.

— Já dei minha mensagem, agora aproveita o show.

Acordei naquela hora, pensando em uma coisa só: no quanto eu estava ferrado por estar "obcecado" — de uma forma boa, eu diria — pela Alexia. Ainda tinha um pouco de medo de me machucar e machucar qualquer pessoa que eu amasse por conta de tudo que me ocorreu no passado, mas todos me diziam para me perdoar e fazer acontecer. Alexia apareceu na minha vida num momento de mudanças, onde as coisas finalmente pareciam estar funcionando e andando como deveriam andar. Como se a "inominável" jamais tivesse existido na minha vida. Como se aquela maluquinha espalhafatosa e mandona fosse a primeira mulher que me permiti amar sem peso na consciência.
Peguei o celular, era meio dia e haviam algumas mensagens de Alexia.

Que bom que você chegou bem.
E é claro que você vai ver minha novela.
A equipe de eventos da Peripécia vai cuidar da festa de estreia dela...
Pedi pra providenciarem um convite pra você.
Saudade, meu bobão! Prometo que logo em São Paulo.

Li todas as mensagens com um sorriso impagável no rosto, talvez eu soubesse qual era a da mensagem da Alexia do sonho. Simplesmente precisava descobrir o que ela sentia sobre mim e fazê-la minha do jeito certo, dessa vez sem tramóias. Beto Velásquez é um novo homem.

Notas: Guardem bem essa festa de estreia da novela, hein. Se eu fosse vocês eu não comemorava muito esse convite. Nem tudo são flores.

Salve-se, Coração!Onde histórias criam vida. Descubra agora