Capítulo 17: Resposta

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Beto Velásquez.

Apertei o volante de couro com força enquanto olhava o lado de fora da casa no sítio, haviam várias horas de viagem e provavelmente eu passaria a noite por lá, o que me trouxe várias memórias de quando eu era só um menino. Eu, Tamara e Zezinho éramos o furacão de Judas do Norte nas férias, todos nos conheciam como "os netos pestinhas da Dona Ermê".
Sorri nostálgico, respirando fundo e soltando o ar com calma.
Meu primo percebeu que eu havia chego e saiu de dentro de casa, me obrigando à sair de dentro do veículo.
Apesar de eu ter hesitado, o reencontro não poderia ter sido melhor.

Apertei firmemente a mão do roceiro e ele automaticamente me apertou pra um abraço apertadíssimo, me fazendo rir alto. Qualquer um que nos visse poderia arriscar que éramos irmãos, alguns arriscavam gêmeos. Até éramos parecidos, mas ele era muito mais parrudo que eu.

— José Velásquez, quanto tempo, cara! — Disse no meio do abraço apertado.

— Esqueceu que tem família no interior, foi? — Meu primo perguntou num tom brincalhão, seu sotaque interiorano era presente e se acentuava quando se animava.

Nos soltamos do abraço e eu sorri tímido, talvez fizesse um ano ou mais que eu não aparecia. Vovó me obrigava a aparecer desde que soube das minhas terapias e crises pra me mimar com suas comidinhas e geleias, com certeza tinha ficado preocupada com o meu sumiço.

— Muito trabalho ultimamente, foi mal... — Zezinho assentiu e juntos fomos caminhando em direção à casa — Mas, finalmente vim. Meu chefe deixou eu tirar um tempinho, aconteceu muita coisa ao mesmo tempo e eu precisava pedir conselhos. Tá tudo muito confuso.

— Se me disser que tem a ver com aquela tal de Tancinha...

— Tem e não tem, não vou mentir. Mas, antes de falar eu quero dar um abraço na vovó mais amada de todo o mundo... — Acabei interrompendo meu raciocínio antes de contar pro meu primo a real problemática, deixando ele com "cara de interrogação".

Corri em direção à mais velha que me recebeu de braços abertos e um sorriso gigantesco. Ela se encontrava na cozinha, o cheiro adocicado de açúcar no fogo provava que ela não havia parado de produzir suas excelentes geléias. Ermelinda, minha vó, me abraçou com toda a força do mundo e eu a abracei de volta, deixando um beijo em sua testa. As mãos dela subiram para as minhas bochechas e seus polegares acariciaram ali. Me senti com dez anos de novo.

— Oi, vovó. Sentiu saudade do seu neto favorito? — Perguntei, ainda sem soltar a mais velha do abraço.

— E como! Tá se cuidando direitinho? Indo na terapia? Tomando seus remédios? 'Ocê fala tão pouco sobre isso! — Tagarelou ela, se afastando e gesticulando com os braços como ela costumava fazer.

Assenti e puxei uma cadeira pra me sentar, pensando bem em como começar a história. Falaria sobre Alexia, sobre como fiquei afetado novamente por todos os vícios e crises, Tancinha voltando a minha vida se mostrando disposta a mostrar sua mudança e apesar de parecer tudo sincero, algo em mim dizia que ela me queria de forma que eu não poderia corresponder... Fiquei pensativo, vovó notou e disse com o tom apressado dela:

— 'Ocê desembucha, Beto!

Dei uma risadinha e encolhi os ombros.
Tomei o ar pra falar, mas o que aconteceu no mesmo momento fez com que minha boca colasse no mesmo lugar e todos os pêlos do meu corpo arrepiarem. Escutei vozes, só que uma delas era extremamente impossível de não reconhecer. Era única, era a minha voz favorita em todo o mundo.
Meu pescoço virou de uma forma quase impossível pra anatomia humana e meus olhos arregalaram, meu coração palpitou e pareceu descompassar em seguida.
Alexia.
Era a voz da Alexia, a mulher da minha vida. Ela tava viva, bem guardada, onde eu poderia encontrá-la sempre que eu quisesse. Senti vontade de chorar, mas controlei as lágrimas pra quando eu tivesse certeza. Eu não sabia se meu estado emocional estava tão catastrófico a ponto de me fazer alucinar pra lidar com perdas.

Salve-se, Coração!Onde histórias criam vida. Descubra agora