Capítulo 18: Luar

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Beto Velásquez.

Fim de tarde, o sol já encontrava um lugar entre as "montanhas" do interior e os sons da noite já tomavam o sítio. Grilos, as galinhas dentro do galinheiro — menos a galinha Felipa, que tinha liberdade pra zanzar por aí como um pet —, o restante dos animais se preparando pra dormir, enfim.
Eu e Alexia pedimos um pouco de tempo pra ficarmos sozinhos, porque merecíamos esse espaço depois de tanto tempo sem ao menos saber se estávamos vivos. Então, depois da conversa que tivemos na sala, pegamos algumas coisas e fomos até perto do lago, sentamos debaixo de uma árvore que havia por lá com algumas bebidas e lanchinhos e passamos o dia de chamego, aproveitando nossas próprias presenças como se nada houvesse acontecido. Contei das últimas peripécias do Júnior, da reprise que passava no lugar da novela enquanto ela não voltava, de trabalho e afins.
Apesar da noite se aproximar, o calor não dava sinal de trégua, então renovamos o repelente e ficamos lá.
Alexia estava deitada em cima do meu peito, enquanto eu encarava a profundidade do céu com um sorriso que nada podia tirar do rosto. Meus dedos brincavam com as novas madeixas da atriz, que parecia muito satisfeita com essa espécie de carinho.

— Sabe, Alexia... Não teve um dia nesses dois meses que não pensei em você. Sabia que você tava viva, porque sentia isso no meu peito. Mas, você não faz ideia do quanto de pessoas me disseram pra desistir da sua volta — admiti, descendo o olhar para a ruiva, que subiu o dela pra mim.

— E você pensou em desistir em algum momento? — Perguntou ela, visivelmente preocupada.

Balancei a cabeça negativamente e sorri, sem cessar os carinhos no cabelo dela. Alexia me abraçou pela cintura com força, como se dependendo da resposta, eu fosse desaparecer.

— Jamais pensaria em desistir de você, deveria saber disso. Apareceu na hora certa, no momento certo, era a pessoa certa, com as intenções certas, o coração mais lindo do mundo... Não há perdão de paixão do passado que apague tudo o que você fez por mim — falei, me sentando na grama e ela se sentando ao lado — acredite, você não faz ideia do espaço que você toma na minha vida... De forma positiva, claro.

A atriz sorriu abertamente e segurou meu rosto com ambas as mãos, me puxando delicadamente pra perto e tomando meus lábios para um beijo doce e breve. Quando nos afastamos, percebemos que os céus já estavam tomados por um azul mais escuro, anunciando que a noite enfim havia chegado. Apesar disso, ainda estava calor. Ela se afastou e fez uma careta, se abanando com ambas as mãos como se isso realmente fosse resolver.
De fato, apesar do interior costumar ser mais fresco, o dia estava insuportável de quente desde que eu havia pisado os pés aqui. Não havíamos percebido, mas estávamos mais suados do que nunca.
Pensei em sugerir que voltássemos para dentro pra tomar um banho, mas antes que eu pudesse abrir a boca, ela reclamou:

— Que calor! Eu não sei se é você que me dá essa quentura ou se é esse lugar — disse ela, no seu tom dramático de sempre.

Olhei pra frente.
O lago!, pensei, começando a sugerir que a melhor resolução pro calor seria ficar debaixo da água trincando daquele lago, sem contar que seria a oportunidade perfeita pra ter um tempo a sós com Alexia. A única iluminação dentro daquele amontoado de água era da lua cheia que vinha subindo e dava uma sensação de "prateado" nas águas.
Sorri traquina e me levantei num pulo, sem dizer nada.

— Pra onde você vai, Beto? — Perguntou ela, ainda sentada.

Tirei a camisa branca que eu vestia, depois desci as mãos para os botões da bermuda marrom que eu vestia para desfazê-los, desci o zíper lentamente e joguei junto à camisa no chão, do lado da ruiva. Em seguida, tirei os chinelos e fiquei apenas de cueca na frente dela.
Alexia observou tudo com muita curiosidade e além de tudo, atenção. Havia muito tempo que não tínhamos nada, nem beijos, nem abraços, nem simples conversas. Mas, imagino que a falta de contato carnal foi uma das coisas que mais atingiu ela durante esse tempo.
Ela mordeu o lábio inferior com um sorriso malicioso e aproximou as mãos do meu abdômen, passando as unhas firmemente por cada definição dele. Quando seus dedos se aproximaram da barra da cueca, segurei seus pulsos e a levantei, mantendo um sorriso cheio de intenção.

Salve-se, Coração!Onde histórias criam vida. Descubra agora