Show de vizinha

01

FEVEREIRO 2021

-Você não pode simplesmente  cancelar toda sua agenda, só  por causa de uma crise de identidade. – Lilian, minha agente, andava de um lado para o outro, nervosa.

- Eu sei, mas eu preciso.- falei calmamente,  enquanto tomava mais um gole de café. – Tenta remarcar, caso não consiga,  paciência. – suspirei.- Vai dar tudo certo, eu só preciso de um tempo.

- Não deixe aquela vadia, destruir você. Nunca gostei dela, agora entendi o porquê.

Lilian nunca gostou da minha, agora ex namorada, Alejandra. Mas sempre a respeitou. Nosso relacionamento era tido que eu precisava no momento: tudo começou com uma amizade, e depois se transformou em paixão. Só Deus sabe o quanto eu era apaixonado por aquela mulher. Enfim,a convivência entre Lilan e Alejandra sempre foi algo difícil. Lilian não conseguia entender, o motivo da minha ex preferir  um relacionamento  mais discreto.Ficamos juntos por quase um ano em segredo,  mesmo eu sempre querendo assumir o nosso compromisso  publicamente. Mas ela havia me traído,  com um dos seus amigos no mês passado. Não procurei  saber dos detalhes, apenas dei um ponto final em toda aquela situação.

- Ela não vai, te dou a minha palavra. – forcei um sorriso, enquanto balançava a cabeça negativamente. -Também será bom passar um tempo com a minha mãe, na casa onde passei boa parte da minha adolescência.

- Você precisa encontrar alguém decente e formar uma família.- ela revirou os olhos. – Georgeta  com certeza quer netos e você já está ficando velho.

-Nao imagina o tanto que ela quer.- sorrimos- Como estão as crianças?- perguntei por seus filhos.

- Bruce está sofrendo a primeira desilusão amorosa. Sorte que já te ajudei em tantas, que posso aconselhá-lo  bem.- ela sorriu. – Anne só pensa em estudar , já quero próximo semestre, ela vai para a faculdade.

- E o Tom, tem dado notícias?- ela me olhou séria.

O assunto “ ex marido “, ainda era uma área delicada.

- Deve estar em alguma parte do mundo com algum modelo iniciante.- ela bufou. – Um mês de férias,  é  o que consigo para você.

- Perfeito.

**********
Era muito bom estar de volta em casa.  Rockland  County foi a primeira cidade na qual eu e minha mãe moramos ao chegarmos nos Estados Unidos, quando eu tinha pouco mais de 10 anos. Saí daqui, aos 18, para estudar em Nova Jersey. Passei alguns feriados e Natais aqui, mas nunca fiquei tanto tempo, como ficaria agora.
Tentei não chamar muita atenção da vizinhança,  queria um pouco de tranquilidade nos próximos dias. Suspirei,  parado em frente a minha casa, onde várias lembranças  surgiram em minha mente.

-Procurando a Sra. Orlovschi? - escuto uma voz feminina, atrás de mim. - Sua mãe foi no mercado, daqui a pouco ela está de volta.

Me viro lentamente e encontro uma garota bem mais baixa do que eu. Seus olhos castanhos me encaravam de forma divertida e ela segurava um sorriso. Ergui uma sobrancelha.

- Não me diga que não está me reconhecendo,  Sebs? - ela gargalhava e eu continuava olhando de maneira confusa em sua direção. - Sou eu, Lizzie.

-Garota, você cresceu!- trocamos um abraço rápido e caminhamos até a escada da varanda da minha casa e nos sentamos  ali.

- Não sou assim tão mais nova do que você. - ela deu de ombros. - Quase doze anos, apenas.

Sorrimos e fui tomado por mais uma lembrança:

02 de janeiro de 1994

Era a primeira noite, após o ano novo. A casa da Sra.Orlovschi, na cidade de Rockland County ainda estava abarrotada de pessoas: alguns parentes distantes de seu marido, e algumas de suas amigas da vizinhança.

O pequeno Sebastian,  observava tudo ao seu redor. Embora parecesse entediado, pois não havia nenhuma criança para brincar, ele conseguia perceber o desconforto de Alice Calloway. Era a primeira vez que ele havia acompanhado de perto, uma gestação desde o começo: Alice havia ficado viúva há alguns meses, o marido havia se envolvido em um acidente de trânsito, um motorista embriagado atingiu seu carro enquanto ele voltava para casa.

Passadas algumas semanas, Alice recebeu como presente de aniversário de 24 anos, a notícia de sua gravidez. Um pedaço do amor de sua vida, crescia em seu ventre.

Georgeta sabia muito bem que não era fácil ser mãe solteira e estendeu a mão para a jovem, o que acabou estreitando a amizade entre as duas.

- Mãe!- Sebastian corre até a mãe, interrompendo a conversa dela, com alguns adultos.- Vem rápido.

- O que houve meu amor?- Georgeta,  se abaixou na altura de seu filho. – Me diz o que aconteceu, mas fique calmo, sim?- ela o encarava preocupada.

-Não tem tempo de explicar. – ele a puxava pela mão, em direção onde Alice estava sentada.- Tia Alice está tendo o bebê.

Todos se moveram.

Animação. Euforia. Preocupação.  Um misto de emoções tomava o corpo de Alice enquanto Georgeta, acompanhada de seu marido Anthony, que dirigia feito um louco a caminho do hospital e Sebastian.

- Vai ficar tudo bem, querida.- Georgeta tentava acalmá-la. – Logo logo, sua princesa estará em seus braços.

- Eu só queria que ele estivesse aqui.- Alice acariciava a barriga com uma das mãos,  enquanto a outra enxugava as lágrimas de saudades que derramava pelo seu marido. - Ele seria um ótimo pai.

-De uma maneira ou de outra, ele está aqui. Se acalma, ok?

Foi uma correria. Sebastian acompanhava toda a confusão, pela primeira vez durante toda a noite, não se sentia mais entediado.

Enquanto seus pais aguardavam notícias de Alice e de sua filha, ele parou em frente ao berçário  e observava todos os bebês  que haviam nascido naquele dia e no dia anterior.

“Todos parecem iguais.” ele pensou.

Observava atentamente, através do vidro, a enfermeira  chegar com mais um recém nascido  enrolado em uma manta rosa.

- Olha Anthony,  como ela é  linda. – Georgeta olhava encantada para a pequena garotinha que quase nasceu no banco de trás do seu carro.

- Muito linda querida.- ele deu um abraço em sua esposa. Infelizmente, ele nunca poderia ser pai. Biologicamente  falando, já que era um super pai para Sebastian

- Diga “ Olá” para a Lizzie querido.- Georgeta acariciava os cabelos de Sebastian.

- Ela é  a bebê da tia Alice?- Georgeta balançou a cabeça positivamente. – Quando ela crescer,  vou me casar com ela.