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Lizzie e eu ficamos conversando por mais algum tempo. Ela me explicou o motivo de eu não tê-la  visto  em nenhuma das vezes que visitei a minha mãe  nos  últimos anos.

Em 2012, ela se mudou para a Califórnia,  para estudar administração e havia retornado há pouco mais de 03 meses. Lizzie estava muito diferente do que eu me lembrava: não era mais uma adolescente, estava bem mais madura e bem mais racional.

Me instalei no meu quarto antigo, tudo estava do mesmo jeito que deixei desde a minha última visita, no Natal passado.  Suspiro pesadamente,  ao encontrar uma foto minha e de Alejandra, jogada dentro do closet.

Será que em algum momento, tudo havia sido real? Todas as vezes que ela havia dito que me amava, havia sinceridade em suas palavras?

Droga.

Rasgo e jogo aquilo fora.

Eu não podia deixar que isso me destruísse.

Minha mãe, que havia passado mais de trinta anos com Anthony, aparentava ser uma rocha, mesmo após sua morte repentina no ano passado. Um amor igual ao dos dois, é  o que eu queria para mim.  Algo real e duradouro.

Caminho lentamente  até a minha janela lateral e fico surpreso ao perceber que Lizzie, estava sentada no telhado, com seus fones de ouvido. Algumas coisas, realmente não mudam,  era uma mania que ela tinha desde criança. Abro a minha janela e resolve implicar um pouco com ela. Faço uma bolinha de papel, e jogo em sua direção. Felizmente a minha pontaria é  boa, e ela me olha com um sorriso nos lábios.

- Não tem mais nada para fazer, Sebastian?- ela disse, enquanto retirava  os fones de ouvido.

- Infelizmente,  não. - cruzo os braços e me encosto na parede. - E tia Alice, como está?

- Minha mãe está bem. Está tentando fazer uma nova receita vegana.- ela revirou os olhos.- Já dei um jeito de sumir das vistas dela, para não ter que experimentar.

- Está com fome? Se quiser jantar conosco, está convidada. Minha mãe deve estar terminando o jantar.- expliquei.

Ela me olhou fixamente e deu um sorriso de leve. Eu não entendia muito bem a sua expressão.

- Eu não acredito que eu vendia biscoitos para você, quando eu era criança,  e hoje você é  você.- ela explicou e começou a sorrir. - O mundo realmente dá  muitas voltas. Pretende ficar muito tempo?

- Se tudo der certo, ficarei mais ou menos um mês. - me sentei na janela. - Minha vida está muito corrida,  muitos projetos, publicidade, séries.

- Eu posso imaginar.- ela falou, enquanto se levantava do telhado, e adentrava pela janela, de volta para o seu quarto.- Daqui a pouco estou aí.

Desço as escadas correndo e antes de chegar na sala, escuto a campanhia tocando. Infelizmente,  não era quem eu estava aguardando.

Eu não conseguia acreditar no que eu estava vendo: ela me encarava com s olhos marejados de lágrimas, o semblante  cansado e os cabelos loiros, presos em um coque mal feito.

- Oi.- ela disse  de forma baixa, enquanto me olhava envergonhada.

- Alejandra.- suspirei, ao perceber que minha voz saiu mais ríspida  do que o normal.- O que você está  fazendo aqui?

Antes que ela pudesse me responder, pude ver Lizzie me encarar do jardim, ela acenou  e apontou para a porta de sua casa  e me deu um tchau tímido.  Alejandra virou em sua direção  e me olhou rapidamente  logo em seguida.

- Quem é  ela?

- O que você está fazendo aqui?- cruzei os braços. - Tudo que tínhamos para conversar,  já conversamos.

Ela suspirou.

- Eu sinto muito. De verdade.- ela estalava dos dedos, de forma nervosa.-Podemos conversar?Por favor, só preciso de dez minutos.

- Entra.

Ela passou por mim, e seu perfume invadiu as minhas narinas. Ela ainda conseguia mexer comigo.

-Quem está aí? - minha mãe vinha da cozinha,com um pano de prato em suas mãos. - Ah, é  você.- ela disse com desdém. - Vai ficar para o jantar, ou só veio tentar convencer  o meu filho a te perdoar, como mais uma rodada de drama e lágrimas de crocodilo?

Senti Alejandra ficar tensa ao meu lado. Seu rosto ficou corada e seu olhar encontrou o meu.

- Georgeta, não tem um dia que não me arrependo do que eu fiz.

-Problema seu.- minha mãe suspirou e voltou para a cozinha.

Alejandra sentou no sofá e passou as mãos por seu rosto.

- O que você quer? - fui direto e me sentei ao seu lado.

- Quero que me perdoe  e nos dê  uma nova chance, Sebastian.- ela tentou segurar as minhas mãos, porém eu me afastei.

- Eu não posso.- passei as mãos por mei cabelo.- Simplesmente,  não consigo mais confiar em você. Eu te amava, cheguei a cogitar a formar uma família com você.- expliquei. - Ia te pedir em casamento, e o que recebo em troca?- sorrio ironicamente.- Um belo par de chifres.

Ela me olhava incrédula e pálida.

- Você queria se casar comigo?

Balancei a cabeça positivamente.

- Sempre que me relaciono com alguém, me dou por inteiro.  Você tinha tudo de mim, mas não conseguiu valorizar isso.- suspirei. - Eu não consigo olhar para você e não me lembrar daquelas malditas fotos. Quem me garante, que não houve mais alguém além dele?

Ela tentou falar, mas eu a interrompi.

- Eu não consigo. Não dá. - me levantei e ela fez o mesmo.- Vamos seguir cada um o seu caminho e pronto.

Ela caminhou até a porta e enquanto segurava a maçaneta,  ela forçou um sorriso.

- Te desejo  toda a felicidade desse  mundo, de verdade. E me desculpe mais uma vez.

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