Finn
- Pai – Eu gritei, eu gritei muito. Não gritava mais o nome de Hannah porque sabia que ela não ia acordar. Sai correndo escada abaixo atrás de meu pai, atrás de alguém. Eu estava desesperado, os olhos quase sem enxergar nada, acho que tropecei umas duas vezes antes de ir direto para o escritório do meu pai onde Jane me olhou com espanto e meu pai sem entender. - Hannah... ela... - O que? – Jane perguntou segurando na minha mão agora, esperando as respostas que eu não conseguia falar, esperando. Eu estava com o rosto inteiramente molhado, as bochechas inchadas. Torcendo para que a minha irmã não tivesse morta, para que ela estivesse de qualquer jeito e que me odiasse, mas não morta. - Ela tá... acho que desmaiada... acho que ela teve uma overdose – Falei. Os olhos de Jane se arregalaram e ela saiu correndo junto com meu pai que saiu logo após dela, e eu segui. Saí correndo também desesperado, querendo por tudo estar do lado dela. Ao chegar em seu quarto ouvi os gritos de Jane e meu pai paralisado. Glaucia chegou logo atrás de nós para ver o que estava acontecendo, ela começou a tremer e a correr para o andar de baixo. Jane se ajoelhou ao lado da minha irmã chorando e gritando para que ela acordasse, meu pai ainda sem se movia olhando constantemente para a minha irmã jogada no chão com uma espuma branca saindo da sua boca. Jane começou a tocar no pulso de Hannah, de novo no seu pescoço. - Não, não, não – Ela continuava a repetir enquanto chorava mais ainda – Meu Deus, não deixa a minha filha morrer. Meu pai estava tremendo literalmente, tremendo sem reação nenhuma. Minha irmã estava literalmente agora espumando mais pela boca, me sentei do seu lado e peguei sua mão. - Chamei a ambulância – Glaucia disse, tirando meu pai do transe que agradeceu a ela. - Vou movê-la lá para baixo. - Você já fez o suficiente – Jane gritou em meio ao choro – Eu... - Estou aqui, ouviu? Eu estou aqui. Você não vai me deixar aqui, não ouse me deixar aqui, maninha. Não ouse fazer isso comigo – Eu repetia em seu ouvido, enquanto Jane chorava em cima do corpo da minha irmã. Ouvimos sirene e meu pai desceu as escadas correndo. Eu apertava a mão da minha irmã fazendo com que a minha doesse, deixando a dela completamente vermelha. Os paramédicos subiram correndo, com malas azuis e todos muito alerta para qualquer coisa. Começaram a mexer na minha irmã, enquanto minha madrasta se levantou para ficar do lado de meu pai que olhava atentamente para o que acontecia. - Precisamos cuidar dela – A paramédica disse chegando perto de mim, enquanto outro se ajoelhava do lado dela a tocando também. - Vocês devem fazer isso! – Eu gritei em sua cara perfeitamente rosada, ela arregalou os olhos azuis, então se suavizou ao olhar para o seu parceiro que colocava algo no braço da minha irmã por uma agulha enorme. - Finn... querido... Eles precisam que você saia daí. Preciso de alguém que possa segurar a minha mão também – Jane disse tentando parar de chorar por pelo menos dois segundos, olhei para meu pai que não tinha uma emoção no rosto dele, apenas choque. - Quem vai segurar a mão dela? – Perguntei chorando, olhando para as sardas de minha irmã, sua pele azul com amarelo. - Eu seguro – A paramédica de cabelos loiros que estava do meu outro lado disse, eu a olhei. Eu precisava que alguém estivesse com ela, esse tempo todo – Não vou soltar, prometo. Transferi a mão da minha irmã para a paramédica que apertou forte como eu fazia. Não queria soltá-la, beijei sua bochecha antes de me levantar e sair correndo para Jane que me esperava de braços abertos. Eu a abracei fortemente chorando em sua blusa branca inteira. Os paramédicos faziam algo que eu não entendia muito bem, tocavam nela, falavam entre si, mediam sua pressão, colocaram algo pela sua garganta, não colocavam nenhum soro nela ou coisa do tipo. Estavam lá fazendo uma massagem cardíaca e acho... acho que colocando pelo tubo, oxigênio dentro dela. Tudo para mim estava confuso. Um deles pegou um objeto como uma faca pequena e rasgou a blusa da minha irmã, olhei para uma Jane chorosa que parecia falar algo que eu não entendia muito bem, eram palavras jogada. - Não... ela não pode morrer... Deus... ouça... minha filha não... me leva, mas a minha filha não – Eram coisas assim se repetindo e repetindo. A apertei mais ainda. Meu pai estava lacrimejando enquanto digitava algo em seu celular, provavelmente avisando alguém do que tinha acontecido. Eles rasgaram a costela da minha irmã na minha frente. - Não! – Eu gritei indo pará-los, mas Jane me puxou pela cintura com as duas mãos e me prendeu em seus braços. - Não olha – Ela dizia me apertando, eu não enxergava nada, estava com o rosto amaçado em suas roupas, na altura da sua costela enquanto ela me apertava contra seu corpo – Vai ficar tudo bem, apenas não olhe. Eu estava soluçando na roupa de Jane que alisava as minhas costas e tentava me proteger de tudo o que estava acontecendo. Comecei a ouvir barulhos extremamente altos, a sirene de novo apitando, eu não via nada, mas tinha a imagem na minha cabeça de que estavam levando a minha irmã para ambulância. - Finn... pegue seu casaco – Meu pai disse agora com voz de choro, Jane me deixou sair de seu abraço e fui correndo para meu quarto pegando minha jaqueta favorita. Desci as escadas correndo tentando decifrar onde meu pai estava e os encontrei na garagem discutindo algo. - Eu não acredito que isso está acontecendo – Disse Jane já dentro do carro quando entrei na parte de trás, ainda chorando. Ainda preocupado. Minha irmã, minha irmãzinha. A pessoa que eu tenho confiado a minha vida inteira, estava em uma ambulância sozinha, com pessoas que ela não conhece, com o peito aberto e sabe mais o que. Ela estava morrendo, minha irmãzinha estava morrendo. Não. Não pode existir um mundo onde eu não vejo a minha irmã todos os dias pela casa, onde ela não me mande mensagens extremamente irritante, não pode ser. Não pode existir um dia onde eu não vou poder falar com ela, não posso viver sem sua voz. E se eu esquecer seu rosto? Eu não quero esquecer seu rosto, nunca. Eu não posso, ela é a minha metade. Divide uma alma comigo e eu não posso deixar que ela morra. Eu devia ter feito mais, eu devia ter a levado comigo no cinema quando ela pediu. Eu estava tão preocupada com o que as meninas iam achar de mim caso eu levasse a minha irmã mais nova para tudo que é canto, mas possa ser que eu nem tenha mais irmã mais nova depois de hoje. Pode ser que ela não exista mais. Eu não posso viver nesse mundo onde ela não existe. Eu faço qualquer coisa. Se realmente existe um Deus, esse Deus que Hannah e sua mãe acreditam. Se Você realmente existe por favor, não deixe minha irmã morrer. Por favor, eu faço qualquer coisa, eu vou no lugar dela. Mas não deixe isso acontecer com a minha irmã, me leva no lugar dela, mas não deixa a minha irmã morrer. Eu vendo todos os meus videogames, eu prometo que vendo. Ou melhor eu vou doar tudo, cada jogo e até o console, meus tênis também, todos os meus instrumentos, eu paro de sair com meninas, eu faço meu dever de casa, eu faço qualquer coisa. Mas não levem a minha irmã Eu não vou aguentar viver sem ela. Não vou. Eu preciso ouvir a voz dela todos os dias, preciso de verdade. Quando chegamos no hospital fomos informados que Hannah estava passando por uma cirurgia porque seus órgãos começaram entrar em falência, nunca vi o desespero nos olhos do meu pai e da minha madrasta, mas lá estavam. Jane começou a chorar tanto, que eu tinha certeza de que na China conseguiam ouvir seus gritos. Meu pai a abraçou forte, ela se agarrou nele com tudo que tinha. Meu pai alisava seu cabelo enquanto chorava também, ele soltou um braço estendendo para mim, me enfiei embaixo de seu abraço e chorei também. Todas as lágrimas que eu tinha e que não tinha. Continuamos assim por muito tempo, até que nos guiamos para a sala de espera onde meu pai se sentou no meio, eu do seu lado esquerdo, Jane do lado direito com um lencinho no nariz enquanto estava com a cabeça deitada no ombro do meu pai. Eu me deitei em seu colo e o deixei mexer no meu cabelo. - Pode dormir, Finn. Assim que tivermos notícia lhe acordamos. - Promete? – Perguntei e senti outra mão no meu cabelo. - Prometo – Ela respondeu. Fechei meus olhos e dormi. Acordei em um pulo olhando para todos os lados, mas eu não tinha 15 anos e não estava em um hospital. Tenho 26 anos e estou na minha casa em Los Angeles, minha irmã está viva, casada e é chefe de um hospital. Odiava a maneira como isso estava acontecendo. Tinha acontecido algumas muitas vezes enquanto eu estava em turnê, eu vivia todo aquele sofrimento de novo. Via tudo, lembrava de tudo. Coisa que eu fiz muito esforço para esquecer, coisa que eu queria esquecer e fingir que nunca tinha acontecido. Odiava essas lembranças, elas doíam para caralho e estavam sempre me rondando, mesmo que eu tentasse dormir pensando em outra coisa, os pesadelos vinham e não conseguia dormir bem. Eram 3 da manhã. E eu não ia voltar a dormir. Saí da cama, desci as escadas, tomei um copo de água e encarei meu piano branco de cauda com a sua capa. Me dirigi até ele. Abri a tampa e me sentei na banqueta. Meus dedos dedilharam as teclas suavemente, o som preenchendo o silêncio. Os acordes seguiam de maneira calma, uma melodia que faria uma pessoa dormir, caso ela não entendesse sobre expressão musical, outra pessoa choraria com a calma assustadora que a melodia seguia. Acelerei o ritmo, indo para uma melodia rancorosa. Uma melodia que mostrava a minha raiva, minha mágoa e a minha esperança. Meu coração se apertou, e resolvi voltar a melodia calma, a paz confortavelmente assustadora. Peguei meu celular no bolso da calça e me joguei no sofá, abri meu aplicativo de mensagens para ver se tinha alguém que pudesse me tirar do tédio. Rolei o dedo vendo algumas mensagens que nunca cliquei, como a da minha irmã que me mandou uma foto as 2 da manhã.
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Our hate
Random"É você, é sempre você. Se um dia eu me apaixonar será sempre por você e acredite quando eu digo que eu conheci muitas pessoas, mas nenhuma era como você então por favor, eu sei como isso começar, confie em mim eu já me machuquei antes. Então não me...