Mais um!

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Noah
(Com 14 anos)

Eu estava cansado.

Morto.

Doido para um descanso.

Enjoado da vida.

Sem saber para onde ir, sem saber se continuar vale a pena, com medo do futuro porque qualquer coisa pode acontecer nele e eu possa não ser ninguém, e eu nem sei bem o que não ser ninguém significa, mas sei que não quero chegar lá.

Tem tanta coisa em cima de mim ultimamente, o câncer da minha tia, a casa que eu tenho que cuidar porque ela não pode fazer isso, meus pais em uma guerra muito longe de casa, as minhas notas que já viram dias melhores, o meu cérebro que mesmo dormindo 10 horas não consegue ficar descansado o suficiente para levar o dia, para aguentar apenas mais um dia normal.

Eu estou assim.

Cansado demais para a idade que eu tenho.

Eu queria ser como os outros meninos da minha escola, que estão curtindo a vida ao máximo possível, indo nas festas sem a preocupação de que a qualquer minuto alguém da sua família pode morrer de câncer ou bombardeado. Virando a noite estudando para o teste impossível de Inglês e literatura do senhor Jenkins, e não madrugando por conta da sua tia que está vomitando as tripas no chão do banheiro porque os remédios e a quimio a deixam assim. 

Eu tenho a vida errada para a idade que eu tenho.

E ainda sim, aqui estou eu, ajoelhado no chão do banheiro perto da mulher que sempre cuidou de mim, alisando suas costas esperando a reação logo começar. Acabamos por desistir e nos sentar no chão esperando acontecer. O visual dela estava horrível. Seu cabelo loiro estava todo para o alto, e seus olhos azuis manchados com grandes olheiras que faziam parecer que ela tinha uns dez anos a mais do que ela tem.

- Um dia, quando você tiver uma esposa, você vai ser muito bom para ajudá-la a parir - Ela fez o máximo para sorrir para mim, mas estava tão cansada que seu rosto não conseguia se mexer muito.

Eu bufei.

- Eu? Casando? Com uma das meninas da sinagoga? Não, obrigado.

- Ela não precisar ser da sinagoga - Minha tia Miley respondeu alisando seu peito, provavelmente para fazer aquela dor invisível passar.

- Como se meu pai fosse deixar.

- Você que tem que amar sua esposa, não seu pai.

- Por que estamos falando disso?

- Porque se um dia eu não estiver aqui, quero ter certeza que você vai escolher a garota certa.

- Você vai está aqui.

- É sério, Noah.

- Estou falando sério.

- Eu também.

- Olha... suponhamos então que tenha uma garota para mim, só vou me casar com ela se você autorizar.

- Não.

Minha mente entrou em confusão, achei que esse era o tipo de coisa que a faria feliz de ouvir.

- Se um dia você se apaixonar por uma menina, Noah. Uma menina que faça seu coração arder, que faça você se tornar completamente idiota por estar tão apaixonado por ela, que te faça imensamente feliz e loucamento insano, que te faça sentir o garoto mais sortudo no mundo inteiro, que você não consiga imaginar sequer um dia sem a presença dela, então só aí você deveria se casar com ela.

Sorri.

Esse não parecia um plano ruim.

Minha tia rápido se apoiou no vaso sanitário e eu fui atrás dela para passar aquele momento com ela, mesmo que o cheiro não fosse dos melhores e mesmo que eu estivesse morrendo de sono com uma vontade louca de dormir por 10 horas.

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