Eu quero ela de volta

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Era estranho ver meu pai tão transtornado como ele estava, principalmente com a minha tia Hannah, já que desde que eu me lembre, eles nunca foram mais do que amável com ela. Então ver isso era completamente novo. Principalmente porque eu tinha certeza de que a razão disso tudo era a minha mãe. Minha tia tinha deixado claro que se meteria na relação deles dois.

Miley olhava para mim com uma enorme dúvida, minha tia bebia seu vinho branco mal olhando para o meu pai descontrolado e raivoso, a cozinha do meu avô tinha presente minha avó Jane e meu tio Nick.

Meu tio Nick tinha os olhos atentos no meu pai, algo que eu sempre notava de vez em quando, pelo menos quando meu pai parecia completamente descontrolado.

- Que merda você falou para Millie? – Meu pai gritou enquanto meu tio, seu irmão, se metia no meio deles dois afastando o máximo possível o corpo do meu pai.

- Não falei nenhuma merda para ninguém.

Meu pai passou por cima da barreira que meu tio Nick fazia entre os dois tentando se aproximar mais ainda do corpo da minha tia.

- Você ficou maluco? – Meu tio perguntou agora empurrando todo o corpo do meu pai.

Miley me encarou mais uma vez com uma grande dúvida nos olhos que eu não saberia responder, meu pai quase não me deu tempo de me vestir, o que fez com que eu quase queimasse a jaqueta que eu estava redecorando além de quase furar meu dedo na agulha da máquina tentando costurar o mais rápido possível essa camisa com mangas bufantes e decote reto azul claro que eu usava, apenas me chamou o mais rápido possível falando que tínhamos que chegar logo na casa do meu avô, achei que era porque finalmente ele tinha se
recuperado.

Eu disse que o humor dele estava estranho.

Só dirigiu como um louco pelas ruas de Los Angeles me deixando completamente apavorada. Até mesmo Bella parecia um pouco confusa.

- Você é tão intrometida – Meu pai falou.

- E você um covarde – Minha tia respondeu deixando a taça na ilha da cozinha ao se aproximar, voluntariamente, do meu pai.

- Isso não te dizia respeito.

- Ah, mas me dizia sim.

Meu pai passou a mão pelo cachos apressadamente, se virou no lugar tentando controlar a raiva que emanava do seu ser antes de voltar os olhos para encarar minha tia mais uma vez.

- Aprenda a ficar fora das coisas que não são da sua conta, como eu lido com a minha família é problema meu.

- Ainda sim, você é um covarde.

A calma dela era impressionante, se não um pouco assustadora, ela não levava ameaça nenhuma com ele ou se permitia se agitar para se explicar ou se defender, seja lã o que tenha acontecido, ela acha que está certa.

- Talvez eu tente me matar e me torne mais corajoso.

Que merda meu pai estava falando? Essa frase não fez sentido nenhum.

Minha prima mirou os meus olhos, estava cada vez mais confusas com as coisas que estavam acontecendo.

- Talvez Millie venha para o funeral – Respondeu tia Hannah, que não se deixou abalar como as outras pessoas que tinham o rosto sério prontos para defendê-la a qualquer custo.

Nessa guerra meu pai estava sozinho e era mais do que na hora dele perceber isso.

- Isso não é da sua conta – Aponto o dedo na cara dela que em nenhum momento vacilou com sua expressão séria de superioridade.

- É da minha conta quando ela não se presta para estar em casa, quando você arruma uma porra de briga no bar e meu marido tem que
levantar na madrugada para pegar você na prisão, sei que isso continua sendo difícil de entender, mas você não é mais um adolescente,
Finn.

Quando foi que isso aconteceu?

- Não somos da sua conta, estamos todo mundo bem.

Espera um pouco.

Meu pai só falou da porta fechada nessa manhã. Não de noite quando fomos dormir. O que só pode significar que ele não estava em casa.

- Estão? – Ela cruzou os braços e debochou – Porque a família inteira sabe que Ellie é lésbica, menos a mãe dela.
Encarei o chão.

Ainda era difícil ligar essa palavra a mim, por mais que seja a única que eu realmente me identifico, então ouvir isso foi como uma acusação de que eu estava fazendo algo de errado, ou que pelo menos tinha algum problema que precisava ser resolvido. E daí que a minha mãe não sabe? Eu não preciso me assumir para cada pessoa que existe na minha vida, com a minha mãe seria essencial porque ela é a minha mãe, mas é maior do que eu e eu simplesmente não consigo.

Já tinha me assumido para todo mundo, primeiro fiz isso com meu pai porque sabia que só ele me daria coragem o suficiente para enfrentar o resto e toda as consequência que o mundo me fará passar porque bom... eu sou eu.

A única pessoa que não fazia ideia da minha orientação sexual era a minha própria mãe, estava tentando achar um momento certo e no telefone nunca parece ser o ideal para contar algo tão grande assim, fora que ela... nunca está em casa. E eu não me sinto um pingo confortável em falar disso com ela.

- Todo mundo esteve no jogo das meninas em Bervelly Hills menos a mãe dela, estando na mesma cidade que a gente. Quando Ellie teve gripe, Miley foi cuidar dela porque adivinha? Os pais dela não podia sair da porra da fashion week em Paris para vir ficar com ela e não pense em um momento que estou fazendo isso por você...

- Você não está fazendo isso por Ellie também, está fazendo por você.

As sobrancelhas da minha tia se arquearam no mesmo instante.

- Está fazendo isso porque quer Millie aqui e prefere inventar desculpas para ela voltar e abandonar a carreira dele e...

- Abandonar a carreira dela? – Minha tia riu com sarcasmo – Eu sou chefe de cirurgia muito antes de Max nascer, você acha que ir em festas pagas, gravar uns filmezinhos dá mais trabalho que isso. Tem gente que pode morrer na minha mão e você realmente acha que eu me importo em acabar com a carreira dela? Millie está nos seus 40, ela consegue tirar um dia para vir ficar com a sua filha.

Eu entendia a lógica da minha tia, mais do que isso sabia que minha mãe e minha tia tinham intimidade o suficiente para discutir coisas do tipo. Então se minha tia tinha pedido para minha mãe voltar para casa, é porque ela sabia de algo que eu não sabia. Como sempre.
Fico feliz pela conquista dela, mas já faz três anos que a sua carreira tem sido a sua prioridade, não tem problema nenhum nisso, o problema está em que nada mais é, eu não sou, meu pai não é, minha avó não é e muito menos minhas tias. E por mais que eu odeio dizer
isso, estou magoada com a minha mãe. Muito magoada. E odeio admitir isso porque queria, muitas vezes, que ela nem existisse.

- Meu Deus, você é tão controladora! – Berrou meu pai – Foi assim com tudo. É uma benção você estar casada e que seus filhos não tenham te abandonado como nosso pais fez quando éramos...

Meu pai não teve a chance de explicar antes de o marido da minha tia ter se intrometido no meio e empurrado com muita força meu pai para atrás.

Meu tio Noah tinha acabado de entrar na cozinha com meu avô do seu lado. Meus olhos se iluminaram de vê-lo em pé do jeitinho que eu conheço ele. Com cabelo grisalho, a blusa social por dentro da calça e um carinha de papai Noel daqueles filmes natalinos clichês que assistimos todos os anos.

- Com quem você pensa que está falando? – Tio Noah perguntou movendo seu rosto para bem perto do rosto do meu pai – Você pode tratar a sua esposa assim, mas a minha você vai respeitar.

- Dá um tempo.

- Dá um tempo é o caralho. Se você falar assim com minha mulher de novo, eu juro Finn...

- Ela é minha irmã – Meu pai respondeu.

- É, mas ela tem marido. E um bem presente – Debochou meu tio desafiando meu pai antes que minha tia o puxasse pelo braço e se intrometesse de novo.

- Você não tem que se preocupar com minhas conversas com Millie ou o real motivo porque ela está voltando, você tem que se preocupar com o fato de não querer ela por perto.

Minha tia tinha um ponto.

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